
Luiz Antônio Costa | O Som da Memória
Patrocínio — como todas as cidades, vilas e povoados — é feita de gente e de conexões. E poucas coisas personificam a conexão como uma foto resgatada do passado, trazida à luz em um momento de pura camaradagem.
Nossa história começa não em 1970, mas em 2003, sob os auspícios da Academia Patrocinense de Letras. É lá, no fervor da preservação cultural, que o estimado colega Acadêmico Cecílio de Souza — escritor, colunista e guardião de tantas memórias — entrega um presente de valor inestimável: uma imagem que é, ao mesmo tempo, um documento público e um afeto particular.
Esta é a moldura de um tempo em que as notícias e as cartas de amor chegavam através do antigo DCT (Departamento de Correios e Telégrafos) ou simplesmente Correios. O palco? O prédio da então estação rodoviária, ali, vizinho ao burburinho do Mercado Municipal. Em 1970, era o epicentro da comunicação e da chegada, o ponto onde o mundo encontrava Patrocínio.
A foto, que hoje honramos em palavras, imortaliza os rostos que fizeram essa máquina funcionar. Não eram meros burocratas; eram os elos vivos da comunidade, os mensageiros da esperança e da saudade. Prestaram grandes serviços à comunidade patrocinense.
Olhando para a fileira, da esquerda para a direita, vemos uma galeria de dedicação:
Começando com Paulo César Oliveira, o auxiliar de viagem do Exp. União, e Vanderley Zagalo, que trocou a rota do motorista pela melodia do sanfoneiro – duas figuras que representam o ir e vir da cidade.

E então, os agentes dos Correios, o coração do serviço: José Osório, Maria dos Anjos, Josefa Nogueira, Helena Paulista, Diolando Rabelo, Francisco Caracioli, Júlio Costa e Amado Fernandes.
O tempo, implacável, já levou alguns (ou todos, não sei ao certo) desses nobres servidores. E é aqui que a história pública se funde com a memória mais íntima: entre os falecidos está Júlio Costa, o “Júlio Carteiro”, a figura de meu pai a quem esta crônica também presta homenagem. O carteiro, que com a bicicleta Gorick (preta) pesada e o passo firme, trazia a história de cada um nas correspondências, quando a internet nem sonho era e as novidades chegavam nas notícias dos jornais (que ele também entregava, além de vender assinaturas para complementar a renda).
O valor desses profissionais é mensurável e permanente. Prova disso é Francisco Caracioli, cujo nome não se apagou, mas foi inscrito no mapa da cidade, batizando uma rua no bairro Santo Antônio. Este é o reconhecimento máximo: ter a própria existência incorporada à geografia local.
Esta fotografia é um registro dos antigos funcionários doa Correios e um retrato da dignidade do trabalho, da importância do serviço público em uma cidade em crescimento, e da força da memória que se recusa a esmaecer. É um brinde à vida e ao legado de cada um, eternizado pelo clique de 1970 e resgatado, com carinho, pela gentileza de um colega da Academia de Letras. Eles são a prova de que a história de Patrocínio passa, necessariamente, pelas mãos que distribuíram cartas e construíram caminhos.

Antiga agencia dos Correios, funcionava na Rodoviária, perto do Mercado Municipal. Foto: Arquivo Rede Hoje