Press ESC to close

Adiado | Protestos ampliam rejeição na Europa e empurram para janeiro a assinatura do acordo Mercosul–UE

Presidente francês Emmanuel Macron e presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva | Crédito: Ricardo Stuckert/ Presidência da República

Para a especialista Florence Poznanski, o acordo apelidado de “carne contra carro” enfrenta seu momento de maior impopularidade na Europa, com protestos liderados por agricultores na França e em outros países, o que levou ao adiamento da assinatura para 12 de janeiro.

Da Redação da Rede Hoje

O governo francês pediu nesta sexta-feira, dia 19, uma trégua de Natal aos agricultores que realizam protestos em diversas regiões do país. As mobilizações têm como foco a condução governamental diante do surto da doença nodular cutânea no gado e a conclusão do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia. As manifestações se intensificaram ao longo da semana, com bloqueios de estradas e atos simbólicos. Autoridades francesas buscam reduzir a tensão no período de fim de ano. O pedido ocorreu em meio a negociações diplomáticas na Europa.

As negociações do acordo entre os dois blocos tiveram início em 1999, em um contexto econômico e político distinto do atual. Ao longo de mais de duas décadas, o texto passou por revisões e enfrentou resistências internas. Questões ambientais, sanitárias e industriais ganharam maior relevância com o passar dos anos. A ampliação das exigências regulatórias alterou o equilíbrio das negociações. O cenário atual reflete essas mudanças estruturais.

Segundo a cientista política Florence Poznanski, as mobilizações recentes atingem um nível inédito no continente europeu. Ela destaca que o acordo passou a ser apelidado de “carne contra carro”, em referência às trocas comerciais previstas. A expressão resume a percepção de parte dos agricultores europeus sobre o impacto do tratado. O debate ganhou espaço nos meios políticos e sindicais. O tema divide governos e parlamentos nacionais.

Nesta sexta-feira, centenas de protestos foram registrados em várias regiões da França, organizados por quase quatro mil agricultores. Um dos atos de maior repercussão ocorreu em frente à residência de veraneio do presidente Emmanuel Macron. Manifestantes despejaram esterco e resíduos como forma de protesto. A ação chamou atenção da imprensa internacional. O episódio evidenciou o grau de insatisfação do setor agrícola.

Conflito sanitário

O contexto sanitário contribui para a mobilização dos agricultores franceses, segundo analistas. O surto da doença nodular cutânea tem afetado rebanhos em diferentes regiões do país. Como medida preventiva, o governo determinou o abate sanitário de animais contaminados. A decisão gerou reação negativa entre produtores, preocupados com prejuízos econômicos. A situação elevou a pressão sobre o Executivo francês.

Florence Poznanski avalia que há uma convergência de fatores no atual momento político francês. O setor agrícola já havia se mobilizado meses antes contra o acordo comercial. A crise sanitária agravou o descontentamento existente. Para os agricultores, as exigências do mercado internacional ampliam as dificuldades. O cenário reforça a resistência ao tratado com o Mercosul. O governo enfrenta dificuldades para conter as críticas.

A Comissão Europeia confirmou na quinta-feira, dia 18, que o acordo não será assinado neste sábado, como estava previsto inicialmente. A decisão foi comunicada após reuniões entre representantes dos Estados-membros. Fontes diplomáticas indicaram que a nova data prevista é 12 de janeiro. O local escolhido para a assinatura é o Paraguai. O adiamento reflete a falta de consenso interno na União Europeia.

A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou confiar na finalização do acordo em janeiro. A declaração ocorreu na véspera do anúncio oficial do adiamento. A dirigente ressaltou a importância estratégica do tratado para o bloco europeu. Mesmo assim, reconheceu a necessidade de diálogo adicional com os países contrários. A assinatura dependerá de aval político interno.

Reação em Bruxelas

Choque entre manifestantes e polícia em Bruxelas| Crédito: NICOLAS TUCAT / AFP

Manifestações de agricultores também ocorreram em Bruxelas, sede das principais instituições europeias. Centenas de tratores bloquearam vias da capital belga. Os protestos ocorreram na véspera da data prevista para a assinatura do acordo. Agricultores denunciaram impactos negativos sobre a produção local. A mobilização provocou reforço na segurança da cidade.

Durante os protestos, manifestantes incendiaram pneus e lançaram produtos agrícolas contra prédios públicos. A polícia respondeu com canhões de água e gás lacrimogêneo. Cerca de 950 tratores participaram dos bloqueios. O confronto gerou transtornos no trânsito e mobilizou forças de segurança. As imagens circularam pela imprensa internacional.

Produtores rurais de diferentes países europeus participaram das manifestações em Bruxelas. Representantes do setor afirmaram temer a concorrência de produtos sul-americanos. O acordo facilitaria a entrada de carne e grãos do Mercosul no mercado europeu. Agricultores alegam diferenças nas exigências ambientais e sanitárias. O tema tornou-se central no debate público.

A França lidera a oposição ao tratado dentro da União Europeia. O governo francês afirma que o acordo não oferece garantias suficientes ao setor agrícola. Outros países passaram a apoiar o pedido de adiamento. Itália, Polônia e Hungria manifestaram reservas ao texto. A posição conjunta enfraqueceu o cronograma original.

Posições divergentes

Manifestantes usaram batatas nos protestos/AFP

A primeira-ministra da Itália, Giorgia Meloni, declarou que o país não está pronto para assinar o acordo. Segundo ela, ainda faltam salvaguardas para proteger os agricultores italianos. O posicionamento foi apresentado em discurso no Parlamento. A declaração reforçou a divisão entre os Estados-membros. O adiamento passou a ser considerado inevitável.

Em sentido oposto, Espanha, Alemanha e países nórdicos defendem a assinatura do tratado. Esses governos veem no acordo uma oportunidade de ampliar exportações. O argumento central é a necessidade de enfrentar a concorrência chinesa. Autoridades desses países destacam o potencial de mercado do Mercosul. O tema integra a estratégia comercial europeia.

O primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, afirmou que seria negativo para a Europa não concluir o acordo. Segundo ele, o tratado é importante para a credibilidade internacional do bloco. O chanceler alemão, Friedrich Merz, defendeu a tomada de decisões imediatas. Ambos pressionam pela continuidade das negociações. A divisão interna permanece evidente.

Para que a assinatura ocorra, a Comissão Europeia precisa do aval da maioria qualificada dos Estados-membros. Com a oposição de França, Itália, Hungria e Polônia, o apoio necessário não estaria garantido. A possibilidade de abstenções também preocupa diplomatas. O cenário dificulta a votação formal do acordo. O adiamento busca evitar uma derrota política.

Repercussão no Brasil

No Brasil, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendia a assinatura do acordo durante a cúpula do Mercosul. O encontro estava previsto para ocorrer em Foz do Iguaçu. Lula afirmou que o momento era decisivo para a conclusão das negociações. O presidente declarou que novas oportunidades poderiam não surgir. A fala repercutiu entre líderes europeus.

Durante reunião ministerial em Brasília, Lula afirmou que o Brasil não faria novos acordos caso o atual fosse rejeitado. O posicionamento foi interpretado como pressão diplomática. O governo brasileiro considera o tratado estratégico para o comércio exterior. Autoridades brasileiras acompanham o impasse europeu. A definição foi adiada para janeiro.

Analistas apontam que a rejeição ao acordo cresce em setores da sociedade europeia. Segundo Florence Poznanski, há um aumento do sentimento crítico em relação à União Europeia. O tratado passou a ser associado a decisões distantes da realidade local. Esse movimento é observado especialmente na França. O debate ultrapassa o tema comercial.

A mobilização dos agricultores europeus segue como fator central nas negociações. Governos buscam conciliar interesses econômicos e pressões sociais. O adiamento da assinatura reflete a complexidade do processo. Até janeiro, novas rodadas de diálogo devem ocorrer. O futuro do acordo permanece em aberto.

Com José Bernardes , Larissa Bohrer , Tabitha Ramalho e Rodrigo Durão Coelho do Brasil de Fato

@redehoje
Esta mensagem de erro é visível apenas para administradores do WordPress

Erro: nenhum feed com a ID 1 foi encontrado.

Vá para a página de configurações do Instagram Feed para criar um feed.