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Quando o tarol silencia: Patrocínio se despediu de Nilson, guardião do ritmo da Banda Abel Ferreira

Foto: SMCT

Luiz Antônio Costa

Em Patrocínio, há personagens que não precisam de palco nem de holofotes para marcar presença. Nilson José Caixeta era um deles. Conhecido por todos como Nilsão do tarol, ele ocupava um lugar silencioso, porém indispensável, no coração da música da cidade. Na segunda-feira, 22 de dezembro, aos 58 anos, sua batida firme se calou, mas o eco do que construiu segue ressoando.

Nilsão era desses músicos que aprendem cedo que o ritmo sustenta a melodia. Integrante da tradicional Banda de Música Abel Ferreira, ele fazia do tarol um instrumento e um ponto de apoio. Em desfiles cívicos, apresentações públicas ou ensaios simples, era ali, no compasso discreto, que mantinha tudo em ordem. Quem conhecia sabia que, quando o tarol entrava, a banda caminhava segura.

Mas sua história em Patrocínio vai além das apresentações. Nilsão foi formador. Atuou como instrutor de fanfarras em escolas municipais como Honorato Borges, Nely Amaral, Odilon Behrens e Casimiro de Abreu. Para muitos alunos, foi o primeiro contato com a disciplina musical, com o som coletivo, com a noção de tempo e respeito ao outro. Ele ensinava ritmo, mas também ensinava convivência.

Os alunos o adoravam. Nilson tinha um senso de reponsabilidade incomum. Pais e mães confiavam a ele os filhos, com certeza de que seriam bem formados e preparados.

A Banda Abel Ferreira, da qual fazia parte, é um símbolo da cidade. Ali, Nilsão ajudou a manter viva uma tradição que atravessa gerações, presente em datas cívicas, eventos religiosos e momentos marcantes da vida pública patrocinense. Não era figura de discursos, mas de presença constante, daquelas que sustentam instituições sem precisar aparecer.

Em 2021, um AVC mudou o curso de sua vida. Desde então, ficou acamado, afastado do cotidiano musical que tanto marcou sua trajetória. Ainda assim, seu nome continuou circulando nos corredores da memória coletiva, citado por ex-alunos, colegas de banda e por quem aprendeu a ouvir música também como responsabilidade.

O velório ocorreu na Funerária Nova Aliança, e o sepultamento no Cemitério Municipal de Patrocínio. Momentos formais, como pede o rito. Mas o adeus verdadeiro aconteceu antes, em cada ensaio, em cada marcha afinada, em cada jovem que aprendeu a seguir o tempo certo observando o som do tarol.

Nilsão do tarol não deixa uma obra escrita nem gravações famosas. Deixa algo mais difícil de medir: o compasso invisível que ajudou a manter viva a música de Patrocínio. E quem entende de banda sabe — quando o ritmo falta, todo o conjunto sente.

@redehoje
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