
O Levante Mulheres Vivas realiza ato na área central de Brasília para denunciar o feminicídio e a violência contra mulheres. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Atos foram convocados em pelo menos nove capitais
Da Redação da Rede Hoje
As manifestações do Levante Mulheres Vivas reuniram milhares de pessoas em Brasília neste domingo (7). O ato ocorreu na área central, sob chuva intensa, e teve como pauta principal a denúncia do feminicídio e das diversas formas de violência praticadas contra mulheres. Representantes de coletivos, movimentos sociais e iniciativas culturais participaram das atividades durante toda a tarde. O evento também foi realizado simultaneamente em outras capitais do país. A mobilização ocorreu após casos de grande repercussão registrados nos últimos dias.
No centro de Brasília, a concentração ocorreu na Torre de TV, ponto tradicional para manifestações. As falas de lideranças se intercalaram com apresentações artísticas e intervenções culturais. Entre os grupos presentes estavam representantes do hip-hop, coletivos de mulheres e movimentos organizados ligados à pauta racial. A presença de escolas de rima atraiu público jovem. A assistência social Elisandra “Lis” Martins encerrou sua participação com versos denunciando a violência de gênero.

O Levante Mulheres Vivas realiza ato na área central de Brasília para denunciar o feminicídio e todas as formas de violência contra mulheres. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A manifestação também contou com a presença de integrantes do governo federal. Seis ministras, deputadas federais e a primeira-dama participaram da atividade ao lado de organizações da sociedade civil. As falas destacaram preocupação com o aumento dos casos de feminicídio e cobraram medidas para fortalecer políticas públicas de proteção. A articulação entre diferentes instituições foi tratada como ponto central nas discussões. Lideranças pediram que investigações de casos recentes avancem com rapidez.
Durante o dia, atos ocorreram em cidades como Rio de Janeiro e São Paulo. Em Copacabana, centenas de pessoas acompanharam faixas e discursos sobre prevenção à violência contra a mulher. Na Avenida Paulista, grupos de diferentes regiões do estado se reuniram para reforçar reivindicações semelhantes às apresentadas na capital federal. Os organizadores destacaram que a mobilização tem caráter nacional e deve continuar ao longo das próximas semanas. O objetivo é manter o tema em evidência e ampliar a pressão por ações concretas.
Violência e omissão do Estado
A discussão sobre a omissão estatal esteve presente em falas de ativistas e pesquisadoras. A doutora em ciências sociais Vanessa Hacon afirmou que o sistema de Justiça falha ao lidar com denúncias apresentadas por mulheres. Segundo ela, medidas protetivas deixam de ser concedidas com a justificativa de estereótipos de gênero. Ela criticou a responsabilização da vítima no processo judicial. Para a pesquisadora, a violência institucional agrava situações já marcadas pela vulnerabilidade. Hacon participa do Coletivo Mães na Luta.

Para a escritora Renata Parreira, é preciso orçamento público para combater violência de gênero – Foto Marcelo Camargo/Agência Brasil
Segundo a ativista, há resistência das instituições em levar adiante denúncias apresentadas por mulheres. Ela citou como exemplo casos em que relatos são arquivados sem apuração adequada. A falta de estrutura e de capacitação de equipes especializadas foi indicada como fator que limita o atendimento. As críticas foram feitos diante do público presente no ato. A pesquisadora reforçou a importância de revisão de práticas judiciais. O objetivo, segundo ela, é garantir respostas mais rápidas e eficientes.
As participantes também apontaram a necessidade de políticas públicas de prevenção. Representantes de movimentos sociais defenderam articulação entre diferentes áreas para enfrentar a violência de gênero. As falas abordaram a influência de estruturas sociais antigas na permanência do problema. Lideranças afirmaram que a naturalização da violência exige ações estruturantes de longo prazo. Entre as reivindicações, estão fortalecimento da rede de apoio e ampliação de serviços especializados. O debate reuniu diferentes gerações de militantes.
Estrutura patriarcal
A militante do Movimento Negro Unificado, Leonor Costa, destacou o papel da estrutura patriarcal na manutenção da violência. Ela afirmou que o modelo social historicamente construído no país contribui para a repetição de agressões. Para a ativista, a compreensão desse contexto é fundamental para a formulação de políticas públicas. Leonor participou do ato na Torre de TV. Ela reforçou que a educação é instrumento central para transformar comportamentos. A militante defendeu ações direcionadas a todas as faixas etárias.

O Levante Mulheres Vivas realiza ato na área central de Brasília para denunciar o feminicídio e todas as formas de violência contra mulheres. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A ativista destacou episódios de feminicídios registrados recentemente no país. Para ela, a repercussão dos casos demonstra que o tema precisa ser tratado como questão urgente. Leonor afirmou que as manifestações buscam sensibilizar a sociedade e as autoridades. A militante explicou que políticas públicas devem ser estruturadas com base em indicadores confiáveis. Ela também defendeu investimentos na formação de profissionais que atuam em áreas sensíveis. O objetivo é evitar a repetição de falhas nos serviços de atendimento.
Além do debate sobre a formação social, as participantes trataram do papel de homens no enfrentamento à violência de gênero. A escritora e cineasta Renata Parreira afirmou que a discussão sobre masculinidade deve envolver toda a sociedade. Segundo ela, a participação masculina é fundamental para a redução dos índices de agressão. A professora aposentada enfatizou que mudanças culturais exigem envolvimento coletivo. Renata integra o Levante Feminista contra o Feminicídio. Ela abordou ainda a importância de ampliar recursos destinados à área.

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Aspectos econômicos e autonomia
Durante o ato, participantes também chamaram atenção para a relação entre violência e vulnerabilidade econômica. A empreendedora Aline Karina Dias afirmou que a dependência financeira mantém muitas mulheres em ciclos de agressão. Ela disse que iniciativas de empreendedorismo podem contribuir para a autonomia. Aline lidera um projeto de afroturismo comunitário em São Sebastião. A empreendedora defende que políticas públicas considerem as desigualdades regionais. O tema foi debatido em diferentes rodas de conversa ao longo da tarde.
Segundo Aline, a falta de renda impede que muitas mulheres deixem ambientes de violência. Ela explicou que dificuldades de acesso ao mercado de trabalho ampliam riscos. A empreendedora afirmou que iniciativas de apoio econômico são ferramentas de emancipação. O tema foi tratado por grupos que trabalham com inclusão produtiva. Aline ressaltou a importância de articulação entre governo e sociedade civil. As participantes defenderam o fortalecimento de programas sociais voltados à capacitação profissional. A questão foi destacada como parte do problema estrutural.
Casos recentes

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
A mobilização nacional foi motivada por episódios de feminicídio registrados nas últimas semanas. Em Brasília, o caso da cabo do Exército Maria de Lourdes Freire Matos ganhou repercussão após a polícia encontrar o corpo carbonizado da jovem. O soldado Kelvin Barros da Silva confessou o crime. O fato provocou reação de movimentos sociais e autoridades. Em outros estados, casos também chamaram atenção da opinião pública. As manifestações buscaram ampliar o debate diante da sequência de episódios violentos.
No Rio de Janeiro, duas funcionárias do Cefet foram mortas por um servidor da instituição. O agressor tirou a própria vida em seguida. O caso mobilizou servidores e estudantes. Em outra ocorrência, Tainara Souza Santos foi atropelada e arrastada por um quilômetro em Minas Gerais. O motorista foi preso acusado do crime. Os episódios reforçaram a percepção de aumento da violência de gênero. Movimentos de mulheres afirmam que há subnotificação. Organizações cobram maior rigor nas investigações.
De acordo com o Mapa Nacional da Violência de Gênero, 3,7 milhões de mulheres sofreram episódios de agressão no último ano. O levantamento aponta predominância de casos praticados por parceiros ou ex-parceiros. Em 2024, 1.459 mulheres foram vítimas de feminicídio. Os dados mostram média de quatro mortes por dia. Em 2025, mais de 1.180 feminicídios já foram registrados. Organizações afirmam que os números evidenciam falhas estruturais. A mobilização nacional busca chamar atenção para esses indicadores.
Caminhos e reivindicações

Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
As participantes do Levante Mulheres Vivas pediram investimentos contínuos em políticas de prevenção. Demandaram ampliação de abrigos, fortalecimento da rede de atendimento e criação de programas permanentes de educação. Lideranças afirmaram que o tema exige ações articuladas entre diferentes esferas. A mobilização enfatizou que a violência de gênero é questão de saúde pública. Movimentos defenderam monitoramento de dados e aperfeiçoamento de mecanismos de proteção. O ato também pediu respostas rápidas para casos em investigação.
Os organizadores afirmaram que novas ações devem ocorrer nas próximas semanas. A expectativa é ampliar a participação de diferentes setores sociais. Lideranças acreditam que a visibilidade do tema pode contribuir para mudanças institucionais. As manifestações ressaltaram que políticas públicas precisam considerar recortes regionais e sociais. As participantes defenderam ações específicas para grupos em maior vulnerabilidade. O debate continuará em reuniões de articulação promovidas por movimentos de mulheres.
Fonte: Lucas Pordeus León – Repórter da Agência Brasil