Viagem. A pelo tempo tem sabor especial. Um jovem gosto por onde apenas a imaginação consegue ir. Patrocínio no começo dos anos 30 (há noventa anos) é um bom destino (dessa viagem). Inauguração da União Operária, a incrível escola que preparava o aluno para os raros cursos superiores da época no Brasil, o “retratista” alemão e a presença de inúmeros holandeses inesquecíveis. Isso são alguns pontos deste passeio surreal.

PONTA PÉ INICIAL DOS OPERÁRIOS  Dia 1º de janeiro de 1934, a (então) majestosa sede da União Operária de Patrocínio foi inaugurada. À Rua 15 de novembro (hoje, Rua Presidente Vargas), quase Largo da Matriz. O presidente da União Operária era Orlando Barbosa (alfaiate, ex-prefeito). Juiz da Comarca dr. Martins de Oliveira, presidiu a solenidade. O orador oficial foi dr. Vicente Soares (médico e, depois prefeito).

A ELITE COLABOROU... Padre Joaquim Tiago tornou-se a razão da organização, na visão de Soares. Mas auxiliado por João Cândido de Aguiar (líder político), Joaquim Dias (comerciante), Joaquim Carlos dos Santos (historiador) e Oscar Barreira (comerciante). No final de seu lírico discurso, o famoso médico expressou: “... a vós, operários de Patrocínio que ensopais de suor a terra bendita, num trabalho sem tréguas nem descanso, cabe em grande estilo o futuro da Pátria Amada... Eu louvo, eu bendigo a minha Pátria nos operários, que trabalham mansos e passivos... na União Operária de Patrocínio.” E hoje, infelizmente essa sede não existe mais...  

NOVA MATRIZ COMEÇOU NA CASA OPERÁRIA  Em janeiro de 1934, sob a coordenação do prefeito Honório Abreu, na sede dos Operários, foi constituída a comissão para a construção da nova Igreja. Uma obra projetada para breve conclusão (ocorreu, em 1936). A tradicional igreja de duas torres seria (e foi) substituída pela atual edificação. Diversas lideranças católicas participaram da comissão. Destaque para João Alves do Nascimento (ex-prefeito), Elmiro Nascimento (político), Nelson Queiroz (fazendeiro), Bernardino Machado (delegado de Polícia), João Cândido de Aguiar (político), Cassimiro Santos (farmacêutico), Pedro Pereira (fazendeiro), Nonato Mathias (proprietário do Cine Odeon), Antônio Mansur (comerciante) e João Ferreira do Amaral (professor).

PATROCÍNIO JÁ TINHA BANCO... – No começo dos anos 30, a cidade era uma das poucas do Estado que sediava uma agência bancária. O primeiro banco em Patrocínio foi o Banco Commércio e Indústria de Minas Gerais, com matriz em Belo Horizonte, a então capital brasileira dos bancos.

LIDERANÇA REGIONAL NA EDUCAÇÃO O Ginásio Dom Lustosa, dos padres holandeses, era reconhecido oficialmente no País. Internato e Externado eram oferecidos à região do Alto Paranaíba e Noroeste, principalmente. Primário e Ginasial, além da Instrução Militar, constavam dos anúncios em jornais. “Prepara candidatos para vestibulares das Escolas Superiores...” era a principal evidência dos anúncios (não havia, curso médio, tipo “científico”, à época). A escola também oferecia assistência médica e dentária aos alunos. A Escola Normal Nossa Senhora do Patrocínio, sobretudo para o sexo feminino, da mesma forma, possuía internato e externato, cursos primário e secundário, e, ensino especial de “dactylographia”, piano, violino e pintura.

VISITA DE PADRE EUSTÁQUIO POUCO CONHECIDA – Como exercício espiritual, estiveram hospedados no Ginásio Dom Lustosa (também moradia dos padres e alunos de outras cidades) diversos padres holandeses da Congregação Sagrados Corações. Dentre os quais, padre Norberto Poelman, provincial da Ordem e residente na Holanda, padre Marcos Erwick, de Niterói, e seis padres do colégio de Araguari (padre Willibrordo Meeder, que batizou este autor, anos mais tarde, e, está sepultado na igreja Matriz; padre Agostinho van Velsen, padre Nicácio van Diepen e outros). De Água Suja (Romaria), onde era o vigário, a estrela maior da companhia, padre Eustachio van Lieshout. O retiro espiritual na escola ocorreu na segunda quinzena de janeiro/34.

FOTÓGRAFO INTERNACIONAL NA CIDADE – Alois Feichtenberger é o nome (difícil de falar e escrever) do fotógrafo alemão. Hospedado em fevereiro/1934, na Pensão Tarquínio, ofertava fotos de “pic-nies”, carnaval, paisagens, vistas urbanas e “Photographias” de pessoas. Tudo com a perfeição alemã (esse é outro fato desconhecido dos patrocinenses, ocorrido na década de 30).

POR FIM – Esta viagem, com ajuda do jornal “O Commércio”, termina. Todavia, sigamos... com a incrível e gostosa história patrocinense.

 

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