Anos 40. Confirmação de que o CAP apareceu nessa década. O ano antológico de 1943: cinema, avião e o luxuoso clube social. A festa da chegada dos heróis patrocinenses da Segunda Guerra Mundial. A alvorada de três lendas do futebol patrocinense. Mais uma versão inédita sobre fatos e celebridades da querida cidade de Patrocínio (desconhecidas do público atual). E narradas por uma dessas celebridades. É muito saboroso conhecer a Patrocínio de 80 anos atrás.

QUE ANO! – O Cine Teatro Rosário, no Edifício Rosário (ainda resiste à fúria imobiliária), Largo do Rosário (Praça Honorato Borges), foi inaugurado em 1943. O primeiro filme a ser exibido foi “Ao Rufar dos Tambores”, com o grande ator Henry Fonda e Cludette Colbert. A gerência estava entregue a Floriano Alves Nunes (sobrinho do Sr. Manoel Nunes). O tradicional Cine Triângulo, localizado também no largo (praça), do lado da Rua 15 de Novembro (hoje, rua Pres. Vargas), continuou com as suas atividades. Os preços dos ingressos eram mais populares do que o Rosário.

QUE LUXO! – O Clube Itamarati foi instalado no 2º andar do Edifício Rosário (onde o futuro presidente da República, JK, dançou). Bolero, tango e baião predominavam nos bailes e horas dançantes. No final dos anos 50, o Itamarati transferiu-se para o edifício onde seria o Cine Patrocínio (1961), na praça Santa Luzia.

PRIMEIRO AVIÃO NA CIDADE – Também nesse emblemático ano (1943), foi inaugurado o Campo de Aviação (nome dado aos pequenos aeroportos na época). Com dois aviões (popularmente, denominados Teco-Teco), prefixo PP-REX, com o piloto Hélio Marinsek, e, o prefixo PP-TAI, pilotado pelo primeiro “aviador” patrocinense, Elias Alves Cunha (família Manoel Nunes).

A FORÇA DA MULHER NO AR – A primeira patrocinense a voar foi Wanda Pereira, que depois casou-se com Júlio Barbosa (advogado e professor da UFMG, irmão do tabelião Gerson Barbosa). A esposa do ídolo da aviação do Município, Elias Alves Cunha, Etelvina Barbosa Cunha, também pilotava aviões no aeroclube local. Duas moças, duas heroínas.

CINCO HERÓIS DE GUERRA – No final de 1945 (agosto), Patrocínio assistiu a sua mais emocionante e patriótica festa: o retorno triunfal de quatro pracinhas (um não veio nessa data). Da estação ferroviária até ao Largo de Santa Luzia, com banda de música, a população aplaudiu os expedicionários da FEB, e os carregou nos ombros. O mais conhecido era Amadeu Lacerda (depois caminhoneiro FNM), que residia à Rua São Vicente (hoje, Rua Artur Botelho). Expedito Dias (família Dias Caldeira), Francisco Caracioli de Freitas (carteiro, da ECT, casado com Helena Miranda), Pedro Barbosa Vitor (voluntário de guerra, regressou a Patrocínio em setembro/1945), e Francisco Pedro da Silva (herói de Folhados). Amadeu, guerreiro nas batalhas de Montese e Monte Castelo, dizia que viu muitas mortes de pracinhas brasileiros. Ele mesmo recebeu estilhaço de granada, que o deixou coxo (manco) por muito tempo.

CAP NA DÉCADA DE 40 – A fundação oficial do glorioso Clube Atlético Patrocinense ocorreu em 1954. Mas alguns anos antes, já existia. Ninguém melhor para dizer isso do que um ex-atleta: Blair Augusto Damasceno, o fenomenal goleiro Blair (Seleção Mineira do Interior). Segundo ele, de 1940 a 1950, participou do infantil do Paranaíba (Carmo do Paranaíba), infantil, juvenil e principal do Ipiranga Esporte Clube (Patrocínio), Dom Lustosa, CAP, Flamengo (Patrocínio) e URT. Como se observa, infantil e juvenil tinham vez na cidade.

BOMBA” DE BLAIR – Em sua narrativa escrita, o famoso goleiro disse que “o Sebastião Ferreira do Amaral, o Véio do Didino, ponta esquerda do Paranaíba, e seleiro por profissão, mudou-se para Patrocínio em 1946... ele veio reerguer o futebol patrocinense... e poucos sabem que o Véio teve participação na criação de três clubes: CAP, Associação Atlética Flamengo (1949) e no Raposão (anos 60)”. Conclusão lógica: muito provavelmente, o CAP foi criado em 1947 ou 1948 (para esse ano, tem alguns outros testemunhos). Como naquele tempo, o futebol em Patrocínio era apenas praticado no campo do Ginásio Dom Lustosa e no Estádio Quincas Borges, a tese predominante é de que o CAP nasceu no Dom Lustosa, em 1947/1948.

1941: TRIO DE OURO – Blair, Múcio e Angu (irmão de Múcio) mudaram-se de Carmo do Paranaíba para Patrocínio, para estudarem no Dom Lustosa. E suas famílias fixaram residência na cidade. Múcio atuou (naturalmente) pelo Dom Lustosa e Flamengo. Nos anos 50, tornou-se ídolo do Atlético Mineiro (pentacampeão), titular absoluto da Seleção Mineira e, depois, Palmeiras–SP. Dos que adotaram Patrocínio como a sua terra, Múcio foi o maior craque, o mais vitorioso, até hoje. Superando, até agora, Ademir (Galo). Bougleux (primeiro gol do Mineirão, Vasco, Europa e Santos de Pelé) vivia em Patrocínio e jogava pelo Flamengo, mas não residiu no Município de forma definitiva.

QUEM É BLAIR – O craque é autor do livreto “Lapso de Tempo, 1941 a 1965”. Nesse documento, ele conta o cenário patrocinense desse período, sobretudo o futebol. Esses seus registros e anotações deste autor fundamentaram a crônica. Blair foi também funcionário do Banco do Brasil, em Patrocínio, onde casou-se com a patrocinense Hildete Novais (família Novais). Faleceu em Uberaba. O documento citado foi dedicado por ele a este autor, em dezembro do ano 2000.

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