Da redação da Rede Hoje

Pesquisa de mestrado realizada pela enfermeira intensivista Roberta Maria de Jesus, defendida no Programa de Pós-graduação em Enfermagem da Escola de Enfermagem da UFMG, identifica que dentre as internações de pacientes críticos em uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de Belo Horizonte, mais de 60% foi devido à Covid-19 e a letalidade entre eles foi de 46,8%. A reportagem da Rede Hoje publica o texto da Assessoria de Comunicação da Escola de Enfermagem da UFMG

A pesquisadora destaca que milhares de pessoas infectadas com o vírus evoluíram com a forma grave da doença, necessitando de suporte de oxigênio com internação hospitalar, aumentando a demanda por leitos de Unidade de Terapia Intensiva, o que ocasionou uma pressão no sistema de saúde de todo o mundo, não sendo diferente no hospital de estudo. Ela analisou os aspectos epidemiológicos e os fatores associados à sobrevida de 205 pacientes críticos com diagnóstico de covid-19, no período de 1º de maio a 31 de dezembro de 2020.

Foram analisados idade, sexo, procedência, presença de comorbidades, data da admissão na UTI, data do desfecho da internação, tempo de permanência na UTI, tempo até a ocorrência do desfecho da internação, pontuação do Simplified Acute Physiology Score (SAPS III). Além disso, avaliei a carga de trabalho da enfermagem mensurada pelo Nursing Activie Score (NAS), manifestações clínicas apresentadas pelos pacientes, dispositivos invasivos utilizados, intervenções realizadas (hemodiálise, hemotransfusão, posicionamento prona, ressuscitação cardiopulmonar e visita virtual), tratamento farmacológico realizado e o desfecho da internação sendo alta ou óbito”, explica.

Roberta enfatiza que a utilização de Ventilação Mecânica (VM) foi um importante marcador de maior gravidade dos pacientes e associado à menor sobrevida. Por outro lado, a utilização de oxigenoterapia por cateter nasal foi um indicador de menor gravidade dos pacientes e associada à maior sobrevida.

Em relação à menor sobrevida dos pacientes em Ventilação Mecânica, verificamos que eles eram tão graves que permaneciam pouco tempo em uso de VM na UTI antes de evoluírem a óbito. Talvez por terem chegado ao hospital já com maior gravidade, ou por terem permanecido intubado em um serviço de urgência e emergência antes de chegarem até a UTI, ou por terem sido intubados tardiamente, devido à ausência de equipamentos ou até mesmo pela ausência de informações assertivas sobre a evolução clínica da doença e melhor forma de tratamento”.

De acordo com a enfermeira, dos pacientes analisados, 109 sobreviveram (53,2%) e 96 pacientes evoluíram a óbito (46,8%). A média de idade dos pacientes que sobreviveram foi de 60,5 anos, 42,2% do sexo feminino e 57,8% do sexo masculino. Já os pacientes que evoluíram a óbito, apresentaram uma média de idade superior, correspondendo a 67,2 anos, e mais de 70% dos pacientes que morreram eram do sexo masculino. O que, segundo ela, reforça a importância de medidas de prevenção para a população idosa e do sexo masculino.

A pesquisadora conclui que este estudo contribui para que pesquisadores, gestores, enfermeiros e demais profissionais de saúde conheçam o perfil clínico dos pacientes críticos portadores de covid-19 internados em UTI e assim, possam traçar metodologias de trabalho que contribuam para minimizar o agravamento da doença, como também reduzir o número de óbitos por covid-19 no Brasil e no mundo.

Conhecendo o perfil epidemiológico e a evolução clínica da doença é possível elaborar protocolos de atendimentos, investir em infraestrutura, equipamentos, medicamentos e materiais. Além disso, é possível promover capacitação contínua de profissionais para que todos possam realizar uma assistência segura e qualificada aos pacientes que procuram os serviços de saúde com suspeita/confirmado para covid-19. Ressalto que os enfermeiros poderão planejar a assistência de enfermagem, a partir da identificação das principais necessidades humanas básicas afetadas e dos diagnósticos apresentados pelos pacientes. A avaliação inadequada e o atraso em condutas terapêuticas podem agravar o quadro clínico destes pacientes não sendo possível a sua reversão”.

Estudo desafiador

Roberta enfatiza que desenvolver esse estudo durante a pandemia foi um grande desafio. “Não foi fácil trabalhar na UTI neste período tão angustiante e conturbado para todos e ao mesmo tempo se dedicar à pesquisa. Após a conclusão de todas as etapas, quando nos deparamos com os resultados e vimos os significados deles para a prática clínica e também que muitos dos achados corroboravam com estudos internacionais realizados em várias UTI´s de todo o mundo, nos mobilizamos para agilizar a conclusão do trabalho e poder contribuir com a sociedade divulgando o resultado de um estudo confiável, realizado com rigor metodológico e que aborda um importante problema de saúde pública”, pontua.

A enfermeira destaca que tem consciência da complexidade do tratamento de pacientes críticos com covid-19 e as dificuldades que os profissionais de saúde e as instituições enfrentam para realizar um trabalho assistencial de qualidade durante uma pandemia.

Ela ressalta, ainda, que este estudo foi realizado com pacientes que foram internados no ano de 2020, quando ainda não havia vacinas e destaca a importância da imunização da sociedade como também o cumprimento das demais medidas de biossegurança. “Só assim será possível reduzir a ocorrência de internações de pacientes com o quadro grave, e consequentemente, a redução da mortalidade por essa doença”, conclui.