Celebridade. De Patrocínio, há diversas. Especificamente no futebol, há algumas. A história patrocinense documenta a vida dessas celebridades. Uma se destacou no século XX. Já foi intitulado o maior nome do futebol de Patrocínio. É Sebastião Ferreira Amaral (há uma rua no bairro Olímpio Nunes/Matinha que o homenageia). Mas, as gerações dos anos 40 a 80 o conhecia, o chamava carinhosamente, por outro nome: Véio do Didino. Um pouco sobre ele mostra o berço mágico da bola na cidade. Como ela (a bola) foi tratada com maestria.
QUEM FOI – Véio do Didino nasceu no Carmo do Paranaíba em 07 de abril de 1922 e faleceu em Patrocínio no dia 19 de outubro de 1986, aos 64 anos de idade. Viveu em Patrocínio desde 1946. Comerciante, católico fervoroso e desportista nato. Casado com a Sra. Lazinha Campos Amaral, com quem teve três filhos. Sempre residiu à Rua Artur Botelho. Torcedor do Botafogo (RJ) e América (BH).
O AUGE – Pelas suas mãos existiu uma academia de futebol chamada Associação Atlética Flamengo. Ou o popularíssimo Flamengo do Véio do Didino. Isso no começo dos anos 50. No clube era o diretor, treinador, supervisor, roupeiro, empresário, atleta e até “psicólogo”. Motivação, jogar bonito, liderança, formavam o seu perfil. Adversários como a URT, Paranaíba (Carmo do Paranaíba), Maracanã (Coromandel), Clube do Cem (Monte Carmelo), Araguari A. C., Araxá e Santana (Paracatu) ficavam desconfortados ao enfrentar a magia do Flamengo. Véio também foi chamado de o “Telê Santana” de Patrocínio.
FLAMENGO: PRIMEIRA GERAÇÃO – A equipe rubro-negra teve duas gerações de verdadeiros craques. A maioria encantou Minas e, até o Brasil. Na década de 50, o grande destaque foi Múcio, muito provavelmente o maior craque da cidade até hoje. Residia na Rua Afonso Pena, em frente ao Ginásio Dom Lustosa, onde fora aluno dos padre holandeses.
GENTE TREINADA PELO VÉIO – Algumas referências para recordar.
Múcio (meio campo): No Flamengo, camisa 9. Porém, como pentacampeão no Atlético Mineiro, Palmeiras, Santa Cruz (PE) e Seleção Mineira, vestiu a “5”, no meio de campo. À época, nas competições nacionais só existia o campeonato de seleções estaduais. E Múcio se deu bem nessa vitrine brasileira.
Pedrinho (lateral): Seleção Mineira, Atlético Mineiro e integrante do então vice-campeão de Minas, Democrata de Sete Lagoas.
Rondes (armador): o fino da bola (1950-1955), considerado pelo então radialista Sérgio Anibal, o “Dirceu Lopes” de Patrocínio.
Blair (goleiro): Seleção Mineira do Interior, na qual Telê Santana foi o ponta direita. Posteriormente, Telê se transferiu para o Fluminense (RJ). Isso no princípio dos anos 50.
Camilo (zagueiro): o melhor camisa 3 do Triângulo Mineiro, naquele tempo. Tanto é que o Araguari o contratou e se tornou campeão do Triângulo.
Carmo (zagueiro): o maior cabeceador do Alto Paranaíba. Não saiu do Município. Vestiu também a camisa do Operário E. C. local.
Calau (zagueiro): Vigoroso, chute forte, atuou no Uberaba Sport, clubes de Goiás e até foi encaminhado ao Fluminense (RJ), mas por influência de sua mãe, desistiu de se mudar para o Rio. Calau é o zagueiro central da Seleção genuinamente patrocinense do século XX.
Peroba (meio de campo): Considerado o “Nelinho” de Patrocínio, devido ao seu potente chute. Calau e Peroba também jogaram (parte) no Flamengo segunda geração.
PRIMEIRO GOL DO MINEIRÃO E COM PELÉ – No começo dos anos 60, a equipe do Flamengo segunda geração, contava com um jovem craque chamado Bougleux (ou Buglê). Não era de Patrocínio, porém sempre estava com o seu tio Hélio Bougleux (Rua Governador Valadares com Rua Tobias Machado). Buglê atuou no Atlético Mineiro, Seleção Mineira (autor do gol de inauguração do Mineirão em 05/09/1965), fantástico Santos do Pelé e no campeoníssimo Vasco da Gama (RJ). De 1965 a 1974.

CREPÚSCULO DO VÉIO – Em 1º/05/1962, comandou a antológica Seleção Patrocinense que inaugurou o Estádio Júlio Aguiar: Dedão, Gato, Calau, Macalé e Manoelico; Rubinho, Peroba e Romeuzinho; Totonho, Dizinho e Ratinho (Nael).
DESTINO DA SEGUNDA GERAÇÃO – Dedão (América de São José do Rio Preto e equipes de Goiás), Gato (campeão goiano pelo CRAC de Catalão), Romeuzinho (Vila Nova de Nova Lima), Totonho (Corinthians de Presidente Prudente e Uberaba) e os demais jogaram apenas nas equipes de Patrocínio.
A BOLA ERA A SUA PAIXÃO – Com o desaparecimento do Flamengo em 1964, Véio tratou logo de fundar, criar e cuidar de uma equipe para veteranos. Surgiu assim o Raposão, um time “domingueiro” para os aficionados do futebol manter a amizade.
FORA DE CAMPO – Em Patrocínio, sua terra por opção, foi comerciante (proprietário da Loja Patrolux – Rua Presidente Vargas), participou de novos movimentos da Igreja Católica (cursilhista e liderança comunitária).
MANIAS SOCIAIS – Jamais deixou de acompanhar um funeral na cidade, seja de pessoa rica ou pobre, da raça negra ou branca. E aos domingos, também gostava de visitar os presos na cadeia municipal, quando os apresentava conselhos, frutas e outras ações de conforto.
MARCANTE – Honestidade, amizade, probidade, fraternidade e liderança positiva traçaram a sua personalidade. O Flamengo, sob a sua direção, era como a bela música. Orquestrado, com ritmo, raça e arte. Até hoje, esse Flamengo é a maior/melhor equipe de futebol amador que surgiu em Patrocínio.
HOMENAGENS CAMINHANDO AO ESQUECIMENTO – O nome “Véio do Didino” já foi de uma medalha oficial da Câmara Municipal oferecida aos melhores do ano no futebol amador (projeto do ex-vereador Deley Despachante). E parece, que até no pequeno estádio da Av. Padre Mathias (próximo à Difusora), que levava o seu nome, nada existe mais. Dia 24 de julho de 2009, o prefeito Lucas Siqueira e o secretário Marcos Remis entregaram aos desportistas a reforma do Estádio Municipal Véio do Didino. O ex-vereador e radialista Roberto Taylor apresentou, nessa solenidade, quem foi Véio do Didino para o futebol de Patrocínio.
Essa crônica foi apresentada na Rede Hoje, entretanto, algumas pessoas solicitaram que ela fosse transcrita. Inclusive, pelo ex-craque Rondes Machado, residente no Rio de Janeiro.
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