A pior coisa do mundo é quando você está muito concentrado e algo o assusta.

As duas horas começava o meu programa “Roda Viva”. Saia de casa sempre por volta de 13h45, descia pela rua Marechal Floriano, passava pelos Lions Lilia Brandão, à esquerda, e Lions Patrocínio, à direita, subia para o bairro Marciano Brandão.

Uma tarde de muito sol, ia tranquilo, nenhum pensamento, talvez ouvindo uma música, não percebi que havia um pintor no alto de uma escada, com o balde de tinta preso do lado, escrevendo algo na fachada do prédio da equina da mesma Marechal Floriano com Quintiliano Alves. Buzinei ao chegar na esquina. O pintor estava tão concentrado que assustou demais, deu um safanão na escada e caiu em câmera lenta pro lado esquerdo. O interessante é que enquanto caía, a escada não desgrudou da parede nem ele da escada e também não deixou o pincel cair. Foi fazendo uma parábola de tinta até chegar no chão.

Desci do carro, perguntei se ele tinha se machucado, ela respondeu que não, fora só um susto, além de ter que pintar aquele risco que ficou na parede do letreiro até o chão. O Tacão era o tal pintor. Isso aconteceu há mais de 15 anos, mas todas as vezes que nos encontramos, lembramos da história que não deixou sequela, a não ser engraçada. Foi só o susto.

Tacão é meu amigo Eustáquio José dos Reis, um artista com as letras. Ele é representante do Conselho Estadual de Participação e Integração da Comunidade Negra, que todo ano realizava a “Noite das Estrelas”, focalizando as pessoas negras que se destacam na comunidade.


Esta cronica integra o livro "O Som da Memória - O retorno" , que será lançado ainda neste mes de setembro de 2022