Aniversário. Nesse 12 de janeiro é o da Cidade de Patrocínio. Sim, completam 148 anos que o Município deixou de ser vila. Deixou de ser um simples arraial. Como foi o acontecimento, como eram os políticos, como era o lugar, é bom saber um pouco. Com a ajuda da pesquisa, sobretudo junto ao Arquivo Público Mineiro e IBGE, o cenário patrocinense visitado, refere-se à década 70 do século XIX. Mais precisamente, de 1870 a 1879.

A SEGUNDA LEI MAIS IMPORTANTE – A Lei nº 1995, de 13 de novembro de 1873, eleva à “cathegoria de cidade a villa do Patrocínio, e incorpora ao mesmo município a freguesia de Sant’Anna do Espírito Santo”, e, foi sancionada assim:

Venâncio José d’Oliveira Lisboa, Presidente da Província de Minas Gerais, faço saber a todos os seus habitantes que a Assembleia Legislativa Provincial decretou, e eu sancionei a lei seguinte:

Art 1º - Fica elevada à cathegoria de cidade, e com a mesma denominação, a villa do Patrocínio.

Art. 2º - Será incorporada ao município da referida cidade a freguezia de Sant’Anna do Espírito Santo, desmembrada para este fim do município de Santo Antonio dos Patos”.

EXPLICAÇÃO ATUAL – Venâncio José seria o governador hoje. A capital era Ouro Preto. E Província é o Estado agora. Santana de Patos, durante o período 1842/1900, ora pertencia a Patrocínio, ora a Patos. É o distrito mais antigo da região, inclusive mais antigo do que a própria cidade de Patos de Minas.

HIATO TEMPORAL – Embora a lei seja de novembro de 1873, a instalação definitiva de cidade do Patrocínio ocorreu 60 dias após. Nesse intervalo, as questões administrativas e materiais foram adotadas para a mudança de vila para cidade. Cidade (termo de origem romana) substituiria vila (termo de origem portuguesa). Além disso, cidade era geograficamente maior com mais funções urbanas do que vila. E cidade possuía maior presença política. Assim, a cidade do Patrocínio se instalou em 12 de janeiro de 1874.

POPULAÇÃO EM 1872 – Um ano antes da lei, Patrocínio contava 31.378 habitantes. Incluindo Coromandel, Abadia dos Dourados e Serra do Salitre, que eram seus distritos. No ranking de todo o Império brasileiro, Patrocínio ocupava o 65º lugar de município mais populoso, e o 28º da Província de Minas. Em poucas palavras, era o município mais populoso do Triângulo Mineiro, nessa época.

A PRIMEIRA CÂMARA MUNICIPAL – No período de 1874 a 1877, como cidade, sete vereadores ocuparam as cadeiras do Legislativo Municipal. São eles: Felisbino Gonçalves dos Reis, Jacintho de Faria Vellozo, Antônio Gonçalves de Melo, Francisco Albino da Rocha, Joaquim Gonçalves Torres, Delfino Gomes Roiz Câmara e Joaquim Pedro Barbosa. Este último o presidente da Câmara Municipal.

PRIMEIRO PREFEITO – Até o final do Império, o presidente da Câmara era também o prefeito, chamado agente executivo. A denominação “prefeito” foi consagrada mesmo a partir da “Era Vargas”, em 1930. E com a Constituição de 1934. Então, de 1874 a 1877, o vereador Joaquim Pedro Barbosa foi o primeiro agente executivo (prefeito) de Patrocínio, como cidade. Faleceu em 11/10/1879, aos 61 anos de idade, deixando oito filhos e esposa.

PRINCIPAL RESPONSÁVEL PELA MUDANÇA – A coordenação do movimento para a elevação de vila à cidade coube ao vereador Bernardo Bueno da Silva ou Bernardo de Moraes Bueno (esse nome, o correto). Em 1864, Bernardo já era um dos vereadores da vila. Como também eram o ex-agente executivo (prefeito) Joaquim Antônio de Magalhães (parente do cronista Milton Magalhães e do pesquisador Adeilson Batista) e o primeiro prefeito Joaquim Pedro Barbosa. O incrível Antônio Correa Rangel, um líder que foi prefeito, vereador, presidente da Câmara e delegado em um mesmo tempo, era um juiz municipal substituto em 1864. O sábio patrocinense, de reconhecimento provincial, Francisco Alves de Souza e Oliveira era escrivão. Segundo o “Almanak” Administrativo, Civil e Industrial da Província, nesse ano de 1864, Patrocínio contava com 20.616 “almas” (habitantes) e 1.718 votantes (eleitores).

MAS QUEM FOI BERNARDO? – Nos três mandatos anteriores, ainda Patrocínio como vila, Bernardo Bueno era vereador. E segundo narrativas de Sebastião Elói, teria sido também agente executivo. E frequentava o poder provincial (governo estadual) em Ouro Preto, onde o seu prestígio foi demonstrado. Depois de 1874, Bernardo exerceu mais três mandatos. Então, Bernardo Bueno foi vereador por seis mandatos. Tio-avô de José Elói dos Santos, um dos primeiros jornalistas de Patrocínio, que é avô do Zé Elói (Maisumonline).

UM RETRATO DE 1874 – Havia em Minas somente 74 municípios. Desses tão somente 61 cidades. Nem Uberlândia, nem Monte Carmelo, nem Patos de Minas, eram cidades. Aliás, no Triângulo, existiam quatro cidades apenas: Araxá, Patrocínio, Uberaba e Bagagem (A partir de 1901 denominada Estrela do Sul).

CENAS ANTOLÓGICAS – Nesse tempo, viviam o temido e destemido Índio Afonso e os seus filhos. Como também Coronel Rabelo e irmãos, que posteriormente tornou-se vereador, deputado, senador e único barão de Patrocínio; ele, personagem envolvido no assassinato do juiz Otoni. O vigário da paróquia era o padre Modesto Marques Ferreira, pai de alguns filhos e avô do único bispo patrocinense, Dom Almir Marques (parentes do fotografo Lucas Marques e do acadêmico Antônio Caldeira). A igreja Matriz tinha duas torres. A cadeia e a Câmara Municipal eram na mesma edificação no Largo do Rosário (Praça Honorato Borges). Juntos, cadeia e câmara, eram quesitos para ser vila e cidade. Prefeitura era no Largo da Matriz (Casa da Cultura, hoje), onde também se localizava a melhor casa do Município, propriedade do monarquista Cel. Rabelo (local onde é o colégio). E muito. E muito mais fatos históricos ...

POR FIM – Que os patrocinenses deem valor ao 12 de janeiro. Inclusive os poderes municipais. Questão cívica. E de amor incondicional a Patrocínio.

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