Toda cultura de um povo convive com a cultura de outros povos ou dela sofre influência. Quanto mais sólida a vida de uma nação, quanto mais ela sobrepuja sobre outros povos, menor é sua possibilidade de sofrer influência de outras culturas e maior sua capacidade de influenciar outras nações. Inglaterra, França, Alemanha, Holanda são, na Europa, países de cultura estruturada que pouca influência recebem. A Europa tem como segunda língua o Inglês, mas não se vê no comércio, nas ruas, nada escrito em Inglês. Claro que hoje, com as redes sociais, há uma tendência a multi-influências e de padronização cultural. Alguns países, como a França, onde existe uma onda migratória de países árabes e africanos muito intensa, correm o risco de uma miscigenação muito grande capaz de transformar sua cultura, diminuindo seu caráter europeu.

Nossa cultura brasileira nasceu sobre a influência portuguesa. Gilberto Freire nos diz que, durante o período colonial, houve, também, uma acentuada influência da cultura árabe no Brasil e que, com a vinda da família real, houve um Renascimento Português. É o único escritor a defender esta tese. A influência portuguesa permaneceu incólume até o século XIX em todos aspectos. Na literatura, a influência dos autores portugueses, como Camilo Castelo Branco, Herculano, Eça de Queiroz, reinou absoluta.

Com a vinda da família real, o Brasil começou a receber a influência da cultura europeia de outros países como da Itália na música, da Inglaterra no comércio e principalmente da cultura francesa em todos os aspectos: teatro literatura, costumes. Na corte de D. João e D. Pedro, apresentavam-se as companhias francesas de teatro. A influência literária vinha dos escritores franceses, como Balzac, Flaubert, Vitor Hugo, Émile Zola. O ensino do Francês fazia parte de nosso currículo escolar. Esta influência permaneceu até a década de sessenta do século XX, quando começamos a absorver a cultura de nossos amiguinhos do Norte.

Nossa cultura brasileira é uma cultura satélite, sem luz própria, sempre iluminada e girando em torno de outras culturas: portuguesa, árabe, italiana, francesa, norte-americana. Somos uma nação que aprecia mais o que vem de outros povos do que o que nosso país nos oferece. Basta ver a receptividade que estrangeiros têm entre nós. O que vem de fora é sempre tido como melhor do que o que temos. Há um encantamento com o que não nos pertence e podemos absorver. Prefere-se produto importado ao nacional.

Parece-me que esta atitude tem raízes históricas. O português que aqui aportava na época do Brasil Colônia, em uma terra agreste, bruta, tinha seu pensamento voltado para a Metrópole, para o conforto da Corte em Portugal. Padre Vieira , em uma crítica a algumas ordens religiosas, usando um trocadilho dizia : ”aqui(no Brasil) tereis mais passos(caminhada dura): lá (Portugal) tereis mais paços”, isto é a vida confortável do paço real, da corte.

Joaquim Nabuco , ainda no início do século passado, dizia que estando na Europa sentia saudades do Brasil; estando no Brasil, queria estar na Europa. Esta síndrome de Nabuco, perpassa a nossa cultura até hoje. Os brasileiros somos exilados em nosso próprio país. Sempre parece nos faltar alguma coisa, estamos sempre almejando alguma coisa que vem de fora. Como uma esponja absorvemos todos os elementos culturais que aqui aportam ou que buscamos nas paragens distantes. E, sem muito senso crítico, vai-se processando uma aculturação, corremos o risco de ir perdendo nossa identidade cultural.