Por Alexandre Costa*


O Brasil vai aos poucos perdendo sua identidade. Seja no esporte, na TV ou na música, o processo de internacionalização continua a passos largos. Antes considerado “país do futebol”, a nação já não liga tanto para jogos da seleção brasileira. Já os clubes veem dificuldade em aumentar o número de torcedores numa geração que não se interessa pelas partidas dos torneios nacionais e até internacionais.

O futebol brasileiro, por exemplo, está chato. As partidas são tecnicamente ruins, com uma arbitragem irritante, atletas mimados e mal intencionados (tentam burlar a arbitragem o tempo todos), sem falar na “cera” que cada time faz quando o resultado lhe interessa. Somado a isso, a geração que experimentou na infância um 7x1 contra Alemanha, acachapante e humilhante, prefere escolher um time de Free Fire para torcer, que conta hoje com vários squads famosos, transmissões ao vivo de suas partidas e ações de marketing voltadas ao seu público.

Na contramão do que é feito no futebol brasileiro, a NBA vem enxergando no Brasil um grande mercado. Em recente matéria do Correio Braziliense, fica evidente que o brasileiro está cada vez mais ligado aos esportes americanos. Por estar morando em Brasília posso dizer com propriedade: as quadras da cidade são muito utilizadas para a prática de basquete, talvez até mais do que para o futebol.

Nesta terça-feira, 19/10, a nova temporada da NBA teve início com um show de organização. A liga promove um grande evento, homenageando atletas e times que foram campeões no ano anterior. A partida de abertura é usada para mostrar aos amantes do esporte o que lhes espera no restante da temporada. E não para por aí. Cada jogo, a partir de agora, é uma atração diferente, um produto mercadológico rentável, que da ao espectador a sensação de querer mais e desejo de consumir os produtos.

Quando olhamos a final dos campeonatos Brasileiro e Copa do Brasil da até vergonha. Não há nada especial. O máximo que existe é uma chuva de papel picado, um inflável com a marca do evento e só. Os jogadores campeões recebem as tão batidas medalhas, entregues por políticos ou dirigentes futebolísticos pra lá de carimbados.

Já o futebol americano, outro bom exemplo de sucesso do marketing, tem no intervalo do Super Bowl (jogo final) os segundos mais caros da tv mundial. Isso porque não é apenas um intervalo, exibindo melhores momentos ou chamando informações inúteis, com comentários manjados (com exceção de alguns comentaristas que realmente sabem o que falam). O Super Bowl tem tantas atrações artísticas sensacionais que imagino a sensação de quem vive isso no estádio. Após o jogo, a festa do vestiário é transmitida ao vivo, tudo vira atração.

Amo o Brasil, acho esse país incrível, com um povo trabalhador. Mas esse mesmo povo é tão carente de lideranças sérias e competentes, em praticamente todas as áreas. Tivéssemos gestores sérios, com visão administrativa moderna, tenho certeza que nosso país seria muito mais destacado do que de fato é.

Precisamos deixar a xenofobia de lado, sermos humildes o suficiente para ver que deveríamos aprender com as ações de quem sabe fazer o melhor. Neste âmbito esportivo, se não agirmos rapidamente em busca de uma mudança drástica na forma como promovemos nossos eventos, estamos fadados a vermos uma geração que não terá nenhum interesse em consumir produtos de clubes de futebol ou da seleção brasileira. Já estamos vivendo uma transformação, pois por onde tenho passado, cada vez mais vejo jovens desfilando com camisas de Lakers, Golden State Warriors, Bulls, Falcons, Eagles, Patriots, e por aí vai!

Enquanto isso: chute fraco de fora da área, goleiro defende, cai no chão e lá se vão dois minutos da nossa preciosa vida com a imagem de um ser humano rolando no chão, sem (na maioria das vezes) estar sentindo absolutamente nada. E vida que segue...

* Publicitário e jornalista, assessor de comunicação do Conselho Nacional do Café.