1872. Tempo do Império do “Brazil”. Tempo da Vila de Nossa Senhora do Patrocínio (a cidade é a partir de 1874). Surge o primeiro censo decenal, o “Recenseamento do Brasil”. Para tanto, D. Pedro II cria a Diretoria Geral de Estatística, a semente do IBGE. Em Minas Geraes (com “e” mesmo), há apenas 72 municípios (hoje, são 853). O Censo de 1872 é realizado por Freguezia (com “z”). E “freguezia” é como se fosse distrito. Patrocínio tem três “freguezias”: Vila Nossa Senhora do Patrocínio, São Sebastião da Serra do Salitre e Sant’Anna do Pouso Alegre do Coromandel. Já Santo Antônio dos Patos (Patos de Minas, hoje) conta com duas: a do próprio nome e Sant’Anna do Parnahyba (hoje, Santana de Patos). Araxá tem quatro “freguezias” e Bagagem (Estrela do Sul) cinco. Todavia, considerando todas as “freguezias”, o município de Patrocínio é o mais populoso do Triângulo no Império.

LIDERANÇA ESCRAVA – A “freguezia” São Sebastião da Serra do Salitre, pertencente a Patrocínio, conseguiu nesse Censo o triste título de maior número de escravos da região, com 3.830. Enquanto que na sede do município, “freguezia” de Nossa Senhora do Patrocínio tinha 1.699 escravos. As três “freguesias” patrocinenses possuíam 7.177 escravos. Simplesmente o maior número do Triângulo. Os maiores redutos de escravos de Minas eram Leopoldina e Juiz de Fora. Ambas com mais do que o dobro de Patrocínio.

VICE-CAMPEÃO NA POPULAÇÃO LIVRE – No município de Patrocínio havia 24.201 pessoas livres. Dentre os quais, na “freguezia” de N. S do Patrocínio quase 10 mil livres (9.943), distribuídos entre brancos, pardos, pretos e caboclos (termos do Censo). Bagagem (Estrela do Sul), o campeão em população livre, tinha quase 4 mil pessoas a mais do que Patrocínio (28.106 pessoas). Todavia, quando se reúnem a população livre mais a população escrava, Patrocínio tem quase 1.000 habitantes a mais do que Bagagem. Pois, Patrocínio tinha muito mais escravos.

A POPULAÇÃO POR “PAROCHIA” – “Freguezia” também era denominada “Parochia” (paróquia). As administrações do Império e da Igreja eram iguais territorialmente. A população da “Parochia” de N. S. do Patrocínio (futura cidade e município de Patrocínio) tinha 11.642 “almas” (termo do Censo de 1872). Dos quais, 9.943 “almas” livres e 1.699 escravas. A maioria da raça branca (a metade), e, solteira (tinha 3 mil casados). E a população toda católica. Não havia “acatholicos”.

OS ESTRANGEIROS – Patrocínio acolheu 84 pessoas de outros países. Da África, 60 escravos e 13 livres. Da Itália, uma pessoa. De Portugal, 10. Desses estrangeiros pouco mais da metade eram pessoas solteiras.

HAVIA CARIOCA NO PEDAÇO... – A quase totalidade da população era composta de mineiros. Naturalmente, a maioria do Município. Porém, foram registradas seis pessoas do Rio de Janeiro, uma de São Paulo, Pernambuco e Goyaz (Goiás). E dois baianos.

POPULAÇÃO ANALFABETA! – Na freguesia ou paróquia N. S. do Patrocínio, 94% da população não sabia escrever nem ler. Mais precisamente 10.946 pessoas analfabetas. Apenas 696 eram alfabetizadas. Incrível! Nenhum escravo sabia ler. Os pouquíssimos que sabiam, situavam-se entre a população livre. E mais, tão somente 96 crianças, filhos de pessoas livres, frequentavam escola. Isso contando a idade entre 6 a 15 anos.

CASAS E PESSOAS DEFICIENTES – Em 1872, a Vila de Patrocínio contava com 1.645 “fógos” (casas). Fogos sinalizavam casas com chaminé. Ou seja, autonomia de moradia. Havia fogão à lenha. Felizmente, dentre os quase 12 mil patrocinenses da gema, tinha somente 10 pessoas cegas, 12 surdos-mudos, 21 aleijados, 4 dementes e um alienado (expressões do Censo).

IDOSOS IMPERAVAM... – Na população de 11.609 pessoas, tinham 19 pessoas com mais de 100 anos de idade! Quatro homens brancos e pardos livres, cinco homens escravos, sete mulheres “brancas, pretas e pardas” livres e três mulheres escravas. Portanto, a raça negra era muito mais longeva, considerando o seu tamanho (20% do total), e que havia negros livres também.

UM PROFESSOR, NOVE “BARNABÉS” – Nas profissões liberais existiam dois padres, dois escrivães, dois “pharmacêuticos”, um professor, um médico, dez militares e nove funcionários públicos. Nenhum advogado, parteiro ou artista. Tudo isso se referindo somente a Vila N. S. do Patrocínio. No Município havia muito mais. Por causa de Coromandel e Serra do Salitre.

MULTIDÃO DE COSTUREIRAS, LAVRADORES E DOMÉSTICOS – Entre as profissões manuais ou mecânicas, o destaque é para o número de costureiras: 761, sendo que 35 eram costureiras escravas. Como também é relevante o registro, em 1872, de 3.299 lavradores e quase 2.400 pessoas com “serviço doméstico” (é provável, que sejam empregadas domésticas, capinadores, rachadores de lenha, quitandeiros e similares).

MUITO INTERESSANTE: JORNALEIROS? – Esse Censo registrou 1.146 pessoas como “criados e jornaleiros”. Mas, não havia jornal no Município. Então, deve ser só “criados”. Havia também operários em metais (22 ferreiros), de madeiras (38 carpinteiros e “carapinas”), de operários em tecidos (652 trabalhadores na fabricação de tecidos), em edificações (12 pedreiros e serventes), em couros (sete, inclusive seleiros) e 33 sapateiros. É muito importante destacar os 64 “commerciantes”, guarda-livros (hoje, contadores) e caixeiros (comerciantes “viajantes”).

POR FIM – Para completar o município de Patrocínio, além da “Parochia” de N. S. do Patrocínio, serão apresentadas, nas próximas edições, a “Parochia” de Sant’Anna do Pouso Alegre de Coromandel e a “Parochia” de São Sebastião da Serra do Salitre. As três paróquias (Igreja) ou as freguesias (Província) pertenciam ao Município, em 1872.

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