Da redação da Rede Hoje | Com Polliana Dias*

Os números alcançados pelo Consórcio Cerrado das Águas (CCA), fundado em 2015 para a proteção dos ecossistemas naturais encontrados em mais de 100 propriedades ao longo da bacia do Córrego Feio em Patrocínio, MG, começam a atrair a atenção de investidores de instituições financeiras de grande porte como Rabobank e BDMG (Banco de Desenvolvimento de Minas Gerais).

Estas instituições estreitaram o relacionamento com a plataforma a fim de firmar uma parceria, garantindo a continuidade e a extensão do trabalho desenvolvido junto aos agricultores. A informação é de Orlando Editore, consultor financeiro do CCA.

A iniciativa reúne vários integrantes da cadeia produtiva e tem atraído a atenção de novos investidores, tendo em vista os resultados alcançados com sua metodologia, aplicada em projeto-piloto iniciado em 2019, na bacia do córrego Feio.

O CCA já contou com o apoio do Fundo de Parcerias para Ecossistemas Críticos (CEPF) e teve aporte US$400 mil, em 2019, cujos recursos são utilizados até hoje.




RESTAURAÇÃO 100% ORGÂNICA. Entre os números que chamam 319 visitas a produtores; 94 PIPs (Planos Individuais de Propriedade) implementados em 57 propriedades do na bacia do córrego Feio, durante o projeto-piloto. Foram plantados 17 hectares, 20 mil mudas e o alcance de 97 hectares de área conservada, no período de 2019 a 2020, por meio de restauração 100% orgânica.

A metodologia trabalha em três frentes: paisagens conectadas, práticas agrícolas climaticamente inteligentes e gestão eficiente dos recursos hídricos.

Através do PIPC — Programa de Investimento no Produtor Consciente, o CCA oferece alternativas e soluções para a preservação dos recursos naturais e o combate às mudanças climáticas elaborando o PIP — Plano Individual de Propriedade e, alinhando individualmente, com cada produtor sobre a melhor forma de implementar as estratégias propostas pela equipe de especialistas do CCA, de forma conjunta com todos os outros produtores dentro da bacia hidrográfica.




Região do Córrego feio em Patrocínio, MG.
Fotos : reprodução Rede Hoje TV 

Os resultados impulsionaram a expansão da metodologia para municípios da Região do Cerrado Mineiro, sendo eles: Serra do Salitre e Coromandel. A plataforma transfere sua tecnologia para municípios de outros estados, por isso, a atração de novos investidores, reflete o esforço conjunto da plataforma e chega em momento oportuno.

Juliano Tarabal, superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, diz que a entidade que representa faz parte da iniciativa do Consórcio desde o início. “Somos testemunhas da excelente estrutura e governança que o projeto possui, o que tem garantido atingir os objetivos propostos e gerado atratividade na participação de produtores e players importantes da indústria e do trade da cadeia do café”, destaca.

O superintendente diz que para esta expansão é preciso ampliar também os investimentos. “Além de novos apoiadores do café, empresas e instituições, todos são muito bem-vindos, afinal de contas, o objetivo do projeto, que é ampliar a produção de água e resiliência climática, é comum a todos”, avalia.

O Consórcio já contou com recursos do CEPF para desenvolvimento das atividades e este recurso tem prazo para findar. O desafio é promover outras fontes de arrecadação, tanto para a manutenção do Consórcio (feita pelos membros associados), quanto para financiar os produtores que quiserem aderir às práticas do Consórcio.

Orlando Editore diz que para as práticas de recuperação da vegetação nativa, agricultura climaticamente inteligente e a gestão da água, “precisa-se de investimento nos produtores para o plantio de mudas, sementes de vegetação nativa, cerca, entre outros, ou seja, os produtores não possuem recursos próprios para fazer estes investimentos, sendo que eles serão destinados à cultura do café”, esclarece.




GEADA DE 20 DE JULHO. A Região do Cerrado Mineiro, que foi fortemente atingida pela geada ocorrida em julho, tem buscado formas de amenizar os prejuízos. Os investimentos dos recursos que podem auxiliar o momento enfrentado. Para o consultor, “independente da geada, os recursos dos produtores apresentam-se sempre comprometidos, o que agrava a situação de caixa para investimento deles em práticas climaticamente inteligentes”.

Segundo Editore, a ideia é buscar uma linha de crédito que seja eficiente e compatível com a capacidade de pagamento dos produtores. “Nessa direção, temos trabalhado com algumas opções, sendo elas o BDMG e o Rabobank, dois bancos que se mostram disponíveis para uma parceria no Consórcio por meio de um possível apoio financeiro aos produtores participantes”, explica.

Neste sentido já foram realizadas reuniões com os bancos. O consultor diz que “atualmente é avaliada a possibilidade de utilizar recursos de linhas de crédito que são disponibilizadas por programas do Governo Federal, com repasse pelo BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), essa é uma das alternativas, mas existem outras”, revela Editore.




CRÉDITO DE CARBONO. Editore ainda ressalta que existe a possibilidade de gerar crédito de carbono pela adoção das práticas, sendo um desafio que julga interessante. “Estamos avaliando com algumas instituições esta possibilidade, entre elas, o Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola), sobre como podemos mensurar a quantidade de carbono sequestrada pelas práticas adotadas pelo Consórcio e, a partir desta mensuração, avaliar a viabilidade de certificar e emitir créditos de carbono que podem servir como garantia ou como gerar caixa para amortização do financiamento”, finaliza o consultor.

*Fonte: Polliana Dias | Comunicação CCA