O seminário “Agricultura Regenerativa e Práticas Sustentáveis na Cafeicultura” foi organizado pela illycaffè em Patrocínio



Organizado pela illycafè e realizado no Centro de Excelência do Café do Cerrado, em Patrocínio, no Alto Paranaíba. 
Fotos: reprodução da Rede Hoje


Luiz Antônio Costa | Rede Hoje

Patrocínio, MG — O seminário “Agricultura Regenerativa e Práticas Sustentáveis na Cafeicultura”, organizado pelo Clube illy do Café e realizado no Centro de Excelência do Café do Cerrado, em Patrocínio, no Alto Paranaíba, apontou uma nova visão para os produtores enfrentarem dois problemas que tiram o sono da maioria: mudanças climáticas e preços de insumos em constante elevação.

O evento ocorreu no dia 27 de abril. Com a presença de especialistas, cafeicultores e técnicos de várias partes no estado — não só do Cerrado Mineiro —, as boas práticas agrícolas, sustentabilidade e a redução de custos na cafeicultura estiveram em debate.

A programação foi aberta de manhã pelo Dr. Aldir Teixeira (Experimental) e Alessandro Bucci (illycaffè); em seguida Juliano Tarabal (Federação dos Cafeicultores do Cerrado) falou sobre “Movimentos da Sustentabilidade na Cafeicultura do Cerrado”. Depois foi a vez de Lucimar Silva (Guima Café) falar sobre “Cafeicultura Regenerativa”; logo após o produtor Ricardo Bartholo (Fazenda Cinco Estrelas) falou sobre o tema “Agricultura Regenerativa de Baixo Custo” e Luca Turello (Engenheiro agrônomo illycaffè) abriu para perguntas.

Os temas sustentabilidade e regeneração estiveram presentes em dois “cases” de sucesso. De um lado, Ricardo Bartholo, que apresentou um projeto ousado na Fazenda Cinco Estrelas, em Patrocínio, onde montou um biofábrica e passou a usar composto orgânico, praticamente abandonando o os adubos químicos. Procurava com isso, alcançar a lavoura regenerativa e diminuição dos custos com defensivos. “Alcancei ganhos incríveis com a agricultura biológica, na sustentabilidade e nos custos”, contou o produtor.


Lucimar Silva COO do Guima Café. 

CASES
. Do outro lado, um projeto convencional da busca pela sustentabilidade, usado pelo Guima Café, com fazendas localizadas nos municípios de Patos de Minas e Varjão de Minas, no Alto Paranaíba. A COO (diretora operacional) Lucimar Silva disse que o Guima Café adota o conceito em das práticas de agricultura regenerativa — que visa a conservação e proteção do solo e da biodiversidade das fazendas, seguindo os conceitos de uma agricultura de baixo carbono —, mas, diferente de Bartholo, fazendo experiências em talhões, não na propriedade inteira.

Lucimar Silva diz que “adotamos uma série de medidas, que têm início na escolha da genética do café que vamos plantar, optando pelos cultivares que apresentam mais resistência ou tolerância às pragas e doenças. Com um conjunto de boas práticas agrícolas, é possível diminuir os insumos químicos e migrar para as soluções biológicas”, diz a diretora operacional do Guima Café.

Simão Pedro de Lima, superintendente da Expocaccer — Cooperativa dos Exportadores de Café do Cerrado — diz que esses dois casos “são casos novos bem atuais de desenvolvimento dessa cafeicultura climaticamente inteligente, que é a cafeicultura voltada para o orgânico. Então muitos produtores querem conhecer essa forma de condução das lavouras, sobre os custos, a rentabilidade e que foi mostrado aqui que é uma revolução em termos conceituais para a cafeicultura. Revolução no bom sentido, porque mostraram aqui redução de custo, aumento de receita e melhoria de rentabilidade” e parabenizou a illycaffè pela “promoção do evento para cafeicultores, agrônomos, biólogos para tratar de um assunto muito importante e extremamente necessário que esta agricultura sustentável, climaticamente inteligente e regenerativa”, disse Simão Pedro.

                                                                                                                                        Ricardo Bartholo - Cafeicultor. 

OPINIÕES
. Cafeicultores de várias regiões participaram, opinaram sobre o seminário “Agricultura Regenerativa e Práticas Sustentáveis na Cafeicultura”. O ex-vice governador de Minas e ex-ministro da Agricultura, Arlindo Porto Neto, disse que é preciso ter preocupação “primeiro como produtor: produzir qualidade, quantidade, mas olhar a questão ambiental. Não é apenas um interesse nosso como produtores, mas da sociedade. A minha propriedade em Patos de Minas é de pequeno porte (são 60 hectares de café) em que procuramos aprimorar a qualidade e aumentar a produtividade. Sou parte do Educampo que faz um trabalho extraordinário com a Expocaccer e Sebrae e recebo mensalmente visitas técnicas”, explica.

Já Ricardo Bartholo diz que “a gente aqui no Cerrado gosta muito de desafio e quando começamos a sentir que o consumidor queria certificações ambientais e sustentabilidade, a gente começou a olhar isso com mais afeto, mais carinho”, diz.

Mas Bartholo revela que entrou nessa linha mais por uma questão de custo. “Eu queria baixar meus custo, fazer um trabalho de aproveitamento dos dejetos de suínos que eu tenho na propriedade, as palhas de café, então comecei por fazer uma compostagem profissional. Depois ampliei para a área de biológico, montei uma biofábrica na fazenda. Isso acabou culminando com o selo de café orgânico, eu não esperava. Nunca me vi como produtor de café orgânico. Isso chamou muito a atenção de indústrias como a illycaffè que estão atrás do carbono zero, de praticas mais sustentáveis de agricultura regenerativa. A indústria está atrás disso porque o consumidor está demandando essa linha de trabalho”, garante.

Todo esse movimento que está acontecendo, especialmente no Cerrado, a quantidade de produtores com certificações de agricultura regenerativa, baixo carbono, muita gente entrando nos biológicos. Isso leva Bartholo a apostar que “a agricultura vai ser daqui para a frente muito mais biológica do que química”, completa.

Lucimar Silva diz que a agricultura regenerativa “é aproveitarmos a sabedoria do passado, aliando essa sabedoria às inovações e tecnologias do futuro, tendo o solo vivo como ponto focal. A maioria dos nossos problemas está no solo. É necessário que tenhamos a consciência que precisamos regenerar, conservar e proteger os nossos solos”, ensina.

Segundo Lucimar, no cerrado estas práticas têm evoluído bastante “até porque estamos vivendo dias difíceis diante de tantos impactos climáticos e nós temos que buscar a sustentabilidade para a cafeicultura, então, as boas práticas agrícolas têm evoluído bastante no Cerrado Mineiro”, conclui


A maioria dos participantes foram conferir como é feito o trabalho na Fazenda Cinco Estrelas

A Universidade Federal de Uberlândia, campus de Patos de Minas, também acompanhou o seminário. Matheus de Souza Gomes, assessor do reitor, disse que é muito importante estreitar os caminhos entre os cafeicultores e a universidade. “A universidade tem muito a somar e a doar para todo o agro. Viemos exatamente para mostrar para os cafeicultores como adicionar o que a gente aprende, conhece e identifica na pesquisa. Um evento desse é muito importante para aproximar e juntar esses elos”, diz.

Ciro Alexandre de Paula, diretor da Biofértil Brasil, uma fábrica de organominerais de Patrocínio, também acompanhou o seminário. Segundo ele a produção de sua indústria é feita a partir de um material de origem vegetal de onde são extraídos “ácidos orgânicos que promovem melhor condicionamento do solo, preserva vida microbiana, melhora a salinidade do solo, condutividade e consequentemente a absorção de nutrientes. Então está inserido no meio de uma conservação de solo para uma agricultura mais sustentável”, informa.

O cafeicultor que alcançou produziu o café mais caro do mundo, arrematado em leilão por R$ 55,5 mil a saca, em 2017, Osmar Nunes Filho, de Patrocínio, disse estar lisonjeado por receber o evento da illycaffè. “A illycaffè é responsável, não só na região do Cerrado Mineiro, mas no Brasil, na melhoria da qualidade dos café brasileiros porque eles compravam só café finos e premiavam quem vendia os cafés pra eles, como fazem até hoje, com isso impulsionou os produtores a fazer qualidade. Então acho que a illy é uma das propulsoras, italianos que vieram e ajudaram muito todos os cafeicultores brasileiros”, revela.

Nunes diz que como eles são parceiros dos produtores da região e da Expocaccer. Sobre o evento, fala que “as nossas fazendas aqui no cerrado já estão sendo premiadas com o título de agricultura regenerativa e sustentabilidade. É uma mudança para melhor na agricultura, aproveitando para colocar a terra trabalhando biologicamente para sustentar nossos cafeeiros que nos dará condições de continuar produzindo qualidade e quantidade”, explica.

Arlindo Porto, ex-ministro da Agricultura e cafeicultor

QUALIDADE
. As discussões sobre qualidade e sustentabilidade sempre foram preocupações da illycaffè desde que chegou ao Brasil. O que ocorreu foi que o então presidente da illycaffè, Ernesto Illy, tinha dificuldade de encontrar café para comprar com a qualidade que a empresa queria. Então, promoveu uma premiação em dezembro de 1991. Toda a produção que se classificasse seria adquirida pela illy. Então todos os produtores passaram a trabalhar para conseguir mais qualidade. E nesse ponto, o Cerrado foi importante, porque alcançou as primeiras posições no concurso por anos a fio.

Arlindo Porto lembra que a illycaffè estimulou muito a questão da melhoraria da qualidade do café. “Para o produtor a diferenciação de qualidade, quantidade e preço. A illy sempre pagou um preço diferenciado - especialmente no cereja despolpado - e isso nos estimulou para que melhorássemos a qualidade do café. Várias vezes estive entre os finalistas do concurso de illy. Acho importante, por isso estou aqui hoje”, completa.

Marcelo Urtado, presidente do Consórcio Cerrado das Águas (CCA) — que é uma plataforma colaborativa que inclui vários setores, envolvendo empresas, governo e a sociedade civil — foi apresentado como exemplo de produção de lavoura regenerativa, começou a utilizar o sistema em 2016. Segundo ele, “a cada ano a gente vai evoluindo, deixando a fazenda mais resiliente, mais equilibrada e a busca pela agricultura conservativa. Você depender cada vez mais dos agentes externos e criar o equilíbrio dentro da propriedade”, explica.

                                                                                    Marcelo Urtado, presidente do CCA

Sobre o CCA, se disse otimista baseado no trabalho que ele próprio fez na Fazenda Três Meninas, onde esta colhendo ótimos resultados e deu um exemplo prático: “nesta última seca, uma das mais graves que a gente teve, produzimos água na fazenda, a vazão dos nossos córregos não diminuiu um litro sequer. Então são práticas agrícolas climaticamente inteligentes”, diz.

Segundo ainda, Urtado, “a adoção de medidas mais sustentáveis no campo é reflexo de uma demanda que parte dos próprios consumidores que buscam cada vez mais produtos cuja produção é baseada em respeito ao meio ambiente e relações socialmente justas com o restante da cadeia produtiva que podem ser escaláveis, que podem ser usadas em todas as propriedades rurais. O trabalho do Consórcio das Águas é ímpar pra região e pro Brasil”, completa.

No final, na opinião do superintendente da Federação dos Cafeicultores do Cerrado, Juliano Tarabal, os produtores saíram ainda mais conscientes da necessidade econômica e ambiental das novas práticas. “A gente teve dois casos de sucessos muito interessantes, apresentando como alcançaram bons resultados com implantação de práticas climaticamente inteligentes, práticas conservativas, o manejo da propriedade, a sustentabilidade da produção e também a inserção em novos mercados, com a valorização”, opinou.

A programação foi encerrada à tarde com uma visita a Fazenda do Ricardo Bartholo, onde os produtores conheceram o sistema integral de cafeicultura sustentável e agricultura regenerativa.


Apresentação da biofábrica na Fazenda Cinco Estrelas, por Ricardo Bartholo