PETRICHOR…

("Singin'in the rain")

Hoje passei na Praça Honorato Borges e fiquei assistindo ao espetáculo que o vento fazia com as folhas secas das sete copas.

Vento traquino, sem modos, tira as folhas pra dançar pra lá e pra cá, um ritual que enche a tarde de alarido. Pra mim é melodia.

As ruas outrora limpas, ninguém vence varrer, mas ficam lindas como deve ser.

E nem é a chuva. Apenas o prenúncio dela..."Vá, chuva, venha!" Grita a natureza, na cidade e na roça, ecoa e vibra em meu ser.

Conhece, (claro que sim) o Filme “ Cantando na Chuva". Se disser que é aquele em que o ator, em cena antológica, canta e dança na chuva, explodindo de felicidade, não haverá no mundo quem não se lembra. Este filme já completou 70 anos e nunca saiu de moda. Por que chuva sugere alegria, pede dança.


Tem uma cena que não sai de minha memória. Lá na localidade de Barra do Salitre, onde nasci, quando ocorria as primeiras chuvas, os bezerrinhos de meu avô na invernada iam á loucura. Pulando e berrando com o rabinho nas costas.

Baixava um "singin'in the rain" nos bichinhos que dava gosto ver a cena. Eu que nasci com a alma dançarina, ( só a alma, meu corpo perde para uma alavanca) a exemplo deles, também danço ao meu modo, quando chove. Vendo as gotas cairem do céu, sinto um ballet de Bolshoi atuando dentro do meu coração. Contentamento divino.

"Deus visita a terra e a refresca." Diz o salmista.

A chuva- sobretudo as primeiras- depois de um longo e tenebroso inverno - mexe com todos os nossos sentidos. Visão, audição, tato, mas também o olfato.

Falo de PETRICHOR.

Se você já sabe o significado, me desculpe. Se não sabe lá vai:

É o aroma da chuva na terra seca, ou o perfume da poeira após a chuva. A palavra é construída a partir do grego, petros, que significa 'pedra' + ichor, o fluido que flui nas veias dos deuses na mitologia grega. É definido como "o perfume distintivo que acompanha a primeira chuva após um longo e seco período de calor". O termo foi cunhado em 1964 por dois pesquisadores australianos, Bear e Thomas, para um artigo na revista Nature.

Gosto não se discute. Cheiro também, não. Há um tempo , ouvindo uma entrevista com As Galvão, ouvi a Marilene,( que lamentavelmente, foi tendo sua memória pelo inimigo de nome alemão e faleceu em 24/08/22) dizer que adorava cheiro de cocô de vaca. Pensei: “ como pode”. Por incrível que pareça, um colega meu dizia exatamente isto. E seguiu seu plano de vida, se tornou fazendeiro. Um dia fui visita-lo, encontrei- o no meio do gado no curral. Pensa num homem feliz. Cheiro ajuda a realizar sonhos.

Cheiro faz viajar no tempo. Uma pesquisa concluiu que o cheiro é um gatilho mais poderoso para a lembrança de memórias do que visão e audição. Para se ter uma ideia as pessoas guardam memórias de 35% dos odores que sentem, 5% do que vêem, 2% do que ouvem, e 1% do que tocam.

Quem nunca lembrou de uma pessoa, situação, ou lugar, ao sentir um perfume? O cheiro do café da mamãe, o cheiro do pão de queijo da vovó. O suor do papai depois do trabalho, cheiro de livro novo. Cheirinho de nenêm, cheiro de roupa limpa, cheiro de vinho tinto, cheiro de incenso, cheiro de dama da noite, cheiro de chiclete de tuti fruti no Cine Patrocínio. Sabia que até as cidades tbém em cheiros característicos?

Nossa Patrocínio tem um cheiro de...de não sei explicar... só dela.

A cidade se prepara para receber o cheiro da chuva: PETRICHOR. Até minha alma esquece que é desafinada e ensaia com a natureza:

"Singin'in the rain"

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