Uma foto pode contar muitas histórias de uma época. É o caso da fotografia do conjunto “Brazilian Hippies”, na feita, em 1969, na Praça Matriz. Nela estão José Eustáquio, Luiz Cabeleira, Rizzo, Zé Piquira, Anísio, Átila e Edson Bragança. Em 1969 eu tenho 15 anos. Na época nem sei que o Brasil vive um regime militar – que pouco tempo depois sentirei na própria pele o isso significa. Só quero o que todo jovem nessa idade quer. Curtir a nova fase da vida. Eu tinha visto o conjunto musical – que é como a gente chama as bandas, nessa época – Brazilian Hippies – umas duas vezes. Aliás, foi a primeira vez que vi uma banda tocar ao vivo e fiquei em êxtase. Olha que nem era baile. Era um ensaio que o grupo fazia na Autocar, na Presidente Vargas esquina da Teodoro Gonçalves (onde depois vai funcionar o Expresso União e nos anos dois mil vai se transformar em sede de uma igreja evangélica).

Nos dias que vou assistir o ensaio quem canta é um vizinho, o Marcone Mathias, mas a formação da banda creio que é a da foto. Essa banda antecede o Os Metralhas, H6 e Super Som 201, que tem outros membros, como o baterista Luiz Pindoba, o Onofre e o Soninho, que veio do Asteroides de Patos de Minas. Mas, basicamente os componentes são os mesmos. Grande sucessos nos bailes da própria Autocar e da Churrascaria Alvorada.

Me entroso com a turma e passo a acompanhá-lo nos bailes e ensaios. Me lembro que um dos últimos locais de ensaio é na região onde fica o supermercado Bernardão. Os caras são bons. Os gêneros principais são o rock dos anos 50 e 60, depois anos 70 e 80. São baladas românticas e Jovem Guarda. Cantam muitas músicas de Renato e Seus Blue Caps, Roberto Carlos – na sua melhor fase, anos 1970 -, Beatles, Rolling Stones, Aphrodites Child, Bee Gees, The Hollies; aparecem também os italianos: Gianni Morandi, Sérgio Endrigo, Rita Pavone, etc... Cantavam músicas de todos esses astros, até chegar ao maior sucesso do grupo, Feelings de Morris Albert, lançada em 1975, que o Átila cantava tão bem quanto o original. Os bailes em Patrocínio e região com esses rapazes são disputados, não há quantidade de mesas a reservar que deem conta. A banda tem várias formações até parar de vez.


Alvorada Show - Baile no Catiguá em 2005

Mas, a grande surpresa veio em 2005. Foi uma noite da Churrascaria Alvorada que não aconteceu nela – ela já tinha fechado, a anos. Numa iniciativa daquele grupo que sempre tocou, especialmente Wanderley Guarda e Edson Bragança e da Rádio Hoje (da Rede Hoje), numa noite memorável no Catiguá Tênis Clube, foi feito o “Baile da Alvorada”. Aqueles músicos se reuniram com o nome de Banda Alvorada Show, incluindo Sanzio – que nos anos 1970 pertencia ao conjunto Asteroides de Patos de Minas. Exatamente para lembrar o nome da Churrascaria Alvorada. Lambretas, motos e carros da época ornamentaram o Catiguá por dentro e por fora. Aquele baile reuniu centenas de pessoas de Patrocínio da época, espalhados pelo Brasil e mesmo nos tempos de Churrascaria Alvorada nunca juntou tanta gente numa noite só. Até um DVD foi gravado, produzido pela Rede Hoje.

Não era tarefa fácil reunir esta turma, até porque cada um foi para um local. Hoje, que vivem da música e estão em Patrocínio, o Luiz Cabeleira e o Pindoba. Dois morreram: Rizo e Wanderley Guarda. De vez em quando reuniam como na casa do Rizo, quando estiveram Pindoba, Bragança, Wanderlei Guarda e o próprio Rizo, para contar história e, claro, cantar. Mas, só para matar a saudade. 


Esta cronica integra o livro "O Som da Memória - O retorno" , que será lançado nos próximos dias.