No início dos anos 1970, Patrocínio ganha uma obra fundamental para o crescimento que viria: a nova estação de tratamento de água, ainda hoje a principal da cidade. A “caixa d’agua”, como era conhecida da população, transformou-se em ponto turístico. Muito bem cuidada por funcionários do Daepa, como os servidores Olímpio e o “Zizinho”, a estação impressionava pelos vários e enormes tanques de decantação, filtragem e reservatórios.

Os projetos parecem seguir a tendência da arquitetura e engenharia usadas na construção de Brasília. A caixa mais alta – construída depois, para possibilitar maior gravidade na distribuição da água – tem o formato das duas torres do Congresso Nacional – e um reservatório subterrâneo tem o formato de uma das conchas do mesmo conjunto de prédios do Distrito Federal, também mexendo com a imaginação nesse sentido. As pessoas sobem ali para tirar fotos.

Porém, o que atrai mesmo são os jardins em todos os cantos, muito bem cuidados, com flores variadas e árvores – ainda pequenas – dando sombras. Nesse tempo, não há muros. Toda a área da estação de tratamento é cercada por ciprestes, que exalam o cheiro característico deixando o ambiente perfumado. O vento, naquela região da cidade que é alta, é quase constante.

Às sombras das árvores ou das enormes estruturas de concreto que formam as grandes caixas d’agua, os jovens curtem domingos inteiros. Em cada canto há jovens casais de namorados ou grupos de rapazes e moças ouvindo música, tocando violão, cantando e, às vezes, jogando cartas, conversando. Uma diversão deliciosa e sem nenhuma preocupação. Ali se fazem verdadeiros piqueniques. As pessoas levam cestas com quitandas, frutas e bebidas. Forram a grama com toalhas de mesa feitas de tecidos, em geral, quadriculados. Levam também suas vitrolas, as famosas Sonatas.

Os jovens gostam daquele local por três motivos: o lugar é bonito e agradável, é seguro e, principalmente, pela liberdade. Como os pais ficam despreocupados com os jovens ali, os casais podem namorar tranquilamente sem as “velas” (pessoas encarregadas dos pais de vigiar os casais).

Por todo lado que se ande, ouvem-se músicas, entre outras: “O Milionário”, dos Incríveis; “Do you wanna dance”, Johnny Rivers; “Oh, Darling”, Beatles; “Eu te amo, te amo, te amo”, Roberto Carlos e “A namorada que sonhei”, do Nilton César, que – no romantismo ingênuo – previa com acerto: “um dia no futuro então casados, mas eternos namorados, flores lindas eu ainda vou lhe dar...”

Eu morava perto daquele ponto de encontro justamente no seu período mais efervescente, e aproveito bastante. Curtia mais pelos sons e pra ver as meninas do que namorar, por exemplo. É nessa época um local gostoso para passear.

Com o passar do tempo, a mudança nos comportamentos fez as autoridades ficarem precavidas com a insegurança reinante e qualquer coisa que possa sofrer algum tipo de sabotagem – como os sistemas de abastecimento de água das cidades – é protegida de forma quase insana e ninguém mais entra para passear. Quando muito é autorizada uma visita monitorada e com tempo determinado. Sinal dos tempos.

(As fotos: a primeira é atual, cedida pelo Daepa e a segunda, do acervo da Casa da Cultura. registra uma visita à construção da caixa principal no governo Mário Alves, anos 1960)


Esta crônica está no novo livro "O SOM DA MEMÓRIA - O RETORNO" a ser lançado breve pelo autor.