Maio.
Nesse mês, ao longo do tempo, ocorreram importantes fatos na história da querida Patrocínio. A nossa Santa Terrinha. Alguns alegres, outros tristes. Uns fascinantes, diversos nem tanto. Um, entretanto, mostrou o futebol misturado com a (boa) política em um dia memorável para Patrocínio e região. No fundo do baú, uma edição do jornal “O Diário”, de Belo Horizonte, de 22 de maio de 1962, em caderno especial de 12 páginas, mostra páginas inesquecíveis com muitos desses fatos. A inauguração do glamoroso Estádio Júlio Aguiar é uma bela página do que é para sempre.

UM DIA HISTÓRICO – Dia 1º de maio de 1962, uma terça-feira, Dia do Trabalhador, perante mais de 5 mil pessoas, a Sra. Emidia Aguiar, mãe do prefeito Enéas Ferreira Aguiar e do (falecido) desportista homenageado Júlio Aguiar, descerrou a placa do Estádio. Assim, estava inaugurado o estádio, então, o mais moderno da região.

SÓ TINHA TRÊS MELHORES – Uma das manchetes do “O Diário” dizia tudo da maravilhosa obra: “Clubes de Patrocínio têm agora o 4º Estádio de Minas”. Certamente o Independência (BH), inaugurado para a Copa do Mundo de 1950, era um deles. Pertencia ao modesto clube Sete de Setembro. O Alameda (América Mineiro), que não existe mais, seria o outro melhor. Como também o Estádio Boulanger Pucci (Uberaba Sport), capacidade de 8 mil torcedores, um dos três maiores do que o Estádio Júlio Aguiar, naquela ocasião.

O FUTEBOL NA CIDADE – Segundo o jornal, três clubes (amadores) disputavam a hegemonia: Flamengo (Véio do Didino), Atlético (então, nome popular do Clube Atlético Patrocinense-CAP) e Operário (Pixe, Cabrera e companhia). Isso no começo dos anos 60. Pois, em 1963, o CAP profissionalizou-se (Edward, Gulinha, Jovelino, Anedino e outros), pela primeira vez. A razão maior disso era o exuberante estádio. Um teatro para grandes espetáculos!

ANTES DO JOGO, A FOTO PARA A ETERNIDADE – Os partidos políticos UDN e PSD eram ferrenhos adversários. O construtor do Estádio, prefeito Enéas Aguiar, e o vice-prefeito Benedito Romão de Melo (Ditinho), pertenciam à UDN. Porém, para dar o chute inicial, antes do jogo, entraram em campo, irradiando cortesia e alegria, os quatro maiores líderes de Patrocínio, dentre outras expressivas lideranças presentes. Pela UDN, Enéas Aguiar e o secretário de Justiça e Interior/MG José Faria Tavares (patrocinense adotivo, senador e deputado anteriormente). Pelo PSD, ex-prefeito Dr. Amir Amaral e o deputado federal José Maria Alkmim (em 1964, tornou-se vice-presidente da República). O juiz da Comarca, Dr. José Pereira Brasil, também estava na linha de frente da comitiva. À distância, a testemunha ocular, jornalista Sebastião Elói. Todos de terno e gravata.

FELICIDADE – Sob intenso aplauso da multidão e foguetes, Tavares e Alkmim deram o simbólico chute inicial. A poderosa voz de Sérgio Anibal narrava os lances para a ZYW-8, Rádio Difusora, via linha telefônica da Cia. Telefônica de Patrocínio (som sofrível). Depois dos eventos sociais, chegou a vez da verdadeira bola passear pelo verde gramado.

PATROCÍNIO VERSUS AMÉRICA – A antológica Seleção de Patrocínio entrou em campo com Dedão, Gato, Calau (capitão), Macalé e Manoelico; Rubinho e Peroba; Totonho, Dizinho, Romeuzinho e Ratinho (Nael). Um time ofensivo, sob o comando de Véio do Didino. O América de BH com seis jogadores da Seleção Mineira (Décio Teixeira, Hilton Chaves, Marco Antônio, Zuca e Ari).

O JOGO – A partida encantou a plateia, composta de autoridades e pessoas bonitas, sobretudo as meninas-moças. Os patrocinenses jogaram de igual para igual com o fortíssimo América. Entretanto, o placar final favoreceu à equipe de BH. Manoelico (lateral esquerdo) marcou o gol da Seleção de Patrocínio, um time puramente amador e de patrocinenses, comandado pelo Véio. Manoelico depois se tornou vereador.

DETALHES DO ESTÁDIO – Os recursos para a obra vieram do loteamento do Estádio Quincas Borges (chamado também como campo do Ipiranga, próximo à Igreja São Francisco), de propaganda nos muros do novo estádio, de leilões de bezerros doados, de contribuições financeiras de desportistas e da Prefeitura Municipal. O estádio, com a “geral” e a “arquibancada”, poderia acomodar 8.000 torcedores. Gramado oficial de 110x80 metros. Espaço para a (futura) construção de praça à frente da entrada principal (Av. Faria Pereira). Isso não deu em nada.

MARCO ETERNIZADO DE UM TEMPO – Mais novo do que o Maracanã somente doze anos. Mais velho do que o Mineirão, apenas três anos. Assim, é o Estádio Municipal Júlio Aguiar. Faz parte da história rangeliana. Merece ser cuidado. Preservado e admirado. Como um patrimônio histórico.

FONTE – “O Diário” deixou de circular, há mais de 25 anos. Nos anos 60 e 70, tornou-se “O Diário Católico”. Nos anos 80 e 90, transformou-se no “Jornal de Minas”, sempre um matutino de BH.

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