Réu confesso do caso, assassino afirmou que teve oportunidade para matar a ex-vereadora antes, mas refugou

Os assassinos confessos de Marielle e Anderson, Elcio de Queiroz (D) e Ronnie Lessa (E), prestaram depoimento por videoconferência no primeiro dia de julgamento 

Igor Carvalho

Durante duas horas e 18 minutos de depoimento, nesta quarta-feira (30), no Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (RJ), Ronnie Lessa demonstrou frieza para narrar toda a engenharia elaborada por ele e demais comparsas para executar Marielle Franco e Anderson Gomes, no dia 14 de março de 2018. No final, o assassino confesso da dupla pediu perdão às famílias.

"É um desabafo. Sei que ninguém tem que ouvir isso e que isso também não justifica a besteira que eu fiz, a covardia que eu fiz. Nada disso justifica", começou Lessa. "Perder um filho deve ser uma das coisas mais tristes do mundo. Perder um marido deve ser terrível. E eu fiz isso com a Marielle e o Anderson."

Lessa afirmou que com o pedido de perdão "tirava um peso das costas" e que a confissão do crime, assim como a indicação dos mandantes, os irmãos Chiquinho e Domingos Brazão, serviram para "amenizar a angústia de todos".

"Tô fazendo o máximo, vou cumprir o meu papel até o final. E tenho certeza absoluta que a Justiça vai ser feita. Ninguém vai ficar de fora", afirmou o assassino de Marielle Franco e Anderson Gomes, que detalhou, durante a audiência, como planejou o atentado.

De acordo com Lessa, a primeira conversa sobre o assassinato surgiu no final de 2017 e a ordem teria sido motivada porque milicianos estariam preocupados, pois a vereadora poderia atrapalhar dois loteamentos de terrenos no bairro do Tanque, na zona oeste do Rio de Janeiro (RJ).

Lessa afirmou que convidou Élcio Queiroz para dirigir o veículo, mas só o informou sobre quem seria a vítima no dia da execução, 14 de março de 2018.

O assassino explicou até mesmo a escolha do armamento. "Tentei concentrar no máximo no alvo, que era Marielle, sabendo do risco que aquela munição não era apropriada para aquilo, (usei) a munição mais perfurante que tem do calibre de 9 milímetros, parece que é a ponta de um lápis", disse Lessa. 

"O mais apropriado seria um revólver. Tendo mais pessoas dentro do carro, você reduziria o risco de acontecer o que aconteceu com Anderson. Com revólver, somente a vereadora teria falecido, não o Anderson. Mas, na agonia de resolver, eu corri o risco consciente e, infelizmente, aconteceu a questão do Anderson. Não era a finalidade", pontuou Ronnie Lessa, que responde por duplo homicídio e pela tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, que era assessora de Marielle Franco.

Sobre o local do assassinato, Lessa disse que teve antes uma outra oportunidade de executar Marielle, mas notou que não era uma área segura. "Afronta já foi, porque era uma vereadora em pleno exercício de sua função. E praticamente no pátio da Secretaria da Policia Civil, seria mais afronta ainda."


Edição: Nicolau Soares
Brasil de Fato | Rio de Janeiro


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