O economista Luiz Gonzaga Belluzzo alerta sobre captura de políticas públicas por interesses financeiros e defende mudanças estruturais para priorizar demandas sociais.

Foto:Steve Buissinne | Pixabay


Da redação da Rede Hoje

As relações entre Estado e mercado no Brasil estão marcadas por uma disputa de poder que, segundo o economista Luiz Gonzaga Belluzzo, compromete a economia do país. Em entrevista ao Instituto Humanitas Unisinos (IHU), Belluzzo destacou que o governo Lula está refém do mercado financeiro, o que gera impactos diretos na condução da política econômica e no desempenho econômico do país. O rentismo refere-se à busca de lucros por meio da especulação financeira, sem contribuição para a economia produtiva.

A elevação da taxa Selic para 12,25%, com perspectiva de atingir 14,25% em 2024, e a alta do dólar refletem essa dinâmica de poder. Segundo Belluzzo, essas decisões não têm base na realidade fiscal do Brasil, onde o déficit é controlado, mas são resultado de especulações e movimentações nos mercados futuros. Ele argumenta que as justificativas dadas pelo Banco Central para os aumentos não encontram respaldo nos dados econômicos atuais.

Para Belluzzo, a pressão do mercado é uma forma de reafirmar seu domínio sobre as decisões políticas e econômicas do país. Ele observa que o governo busca apaziguar os mercados com ajustes fiscais e cortes de despesas, mas essas medidas são insuficientes para convencer os agentes financeiros de que as finanças estão sob controle.

Além disso, ele critica a narrativa de risco fiscal amplamente difundida na mídia e utilizada como pretexto para aumentar os juros e provocar flutuações cambiais. “Trata-se de uma forma de especulação que é constitutiva do capitalismo”, ressalta o economista, alertando para as consequências dessa abordagem.

Belluzzo também chama a atenção para os impactos sociais e políticos desse cenário. Segundo ele, a sociedade brasileira, especialmente as classes menos favorecidas, sofrerá as consequências das políticas de ajuste fiscal. Ele aponta que episódios anteriores, como os de 2015 e 2016, já mostraram os efeitos dolorosos dessas medidas para os trabalhadores e empresas.

Governo é refém do mercado

Politicamente, a percepção de que o governo está refém do mercado pode influenciar as próximas eleições presidenciais. Uma pesquisa recente mostrou que 90% dos operadores de mercado estão insatisfeitos com o governo Lula, refletindo um desalinhamento entre os interesses do mercado e as políticas governamentais.

O economista também faz uma análise histórica, comparando o cenário atual com momentos de crise em outras economias, como a Alemanha na década de 1920. Ele alerta que medidas drásticas contra a especulação, embora eficazes em alguns casos, podem ter consequências graves e imprevisíveis.

Por fim, Belluzzo destaca a importância de compreender a economia como um campo de relações sociais, marcado por aspirações, desejos e interesses de diferentes classes e segmentos. Ele defende que a economia deve ser tratada como um espaço de construção social e não como uma simples questão técnica.

Diante desse cenário, a visão de Belluzzo reforça a necessidade de mudanças estruturais para equilibrar as relações de poder entre o mercado financeiro e o Estado, garantindo um desenvolvimento econômico mais justo e sustentável.


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