
Paralisação da planta em Salitre de Minas, distrito de Patrocínio, reflete fase de reorganização da Mosaic, que segue entre as maiores empregadoras da região — Foto: Divulgação/Mosaic
Da Redação da Rede Hoje
A multinacional americana Mosaic Fertilizantes confirmou a paralisação das operações no complexo de mineração em Salitre de Minas, distrito de Patrocínio, no Alto Paranaíba. A interrupção começa em 1º de novembro deste ano e deve durar cerca de dois meses, conforme informou a empresa por meio de comunicado oficial. A medida afetará diretamente atividades ligadas à lavra de minério, britagem e expedição de materiais.
De acordo com fontes do setor, a decisão estaria relacionada ao alto nível de estoque de minério na planta de Araxá, que opera em máxima capacidade. A situação teria levado à necessidade de ajuste no ritmo de produção para equilibrar o fluxo de suprimentos e reduzir custos operacionais. O Sindicato Metabase acompanha o caso e afirma que os trabalhadores foram surpreendidos pela decisão.
Os representantes sindicais relataram preocupação com o impacto financeiro e social sobre os empregados do complexo de Salitre. Segundo a entidade, há solicitações formais de esclarecimentos por parte da categoria, que busca garantias de estabilidade e manutenção dos postos de trabalho durante o período de suspensão das atividades.
Em nota enviada ao Diário do Comércio, a Mosaic informou que a paralisação é temporária e visa à reorganização da cadeia produtiva. A empresa reforçou que a decisão não implicará redução de empregos nem afetará o abastecimento de fertilizantes no mercado brasileiro, assegurando que se trata de uma medida de ajuste operacional.
Reorganização das atividades
A companhia comunicou ainda que adotará regime especial de trabalho para os empregados diretamente ligados à operação das minas e do beneficiamento. Parte dos colaboradores poderá ser realocada para outras unidades ou atividades de manutenção interna. A Mosaic declarou que as ações estão em linha com sua estratégia de sustentabilidade e eficiência produtiva.
No comunicado, a empresa afirmou manter o compromisso com a segurança, a integridade e o bem-estar dos colaboradores, reforçando que a decisão segue padrões técnicos de gestão de estoques. A nota também destacou que as operações permanecem sob monitoramento contínuo para garantir a retomada gradativa assim que as condições de equilíbrio forem restabelecidas.
Fontes do setor mineral avaliam que a decisão reflete um momento de transição na política de produção da companhia. A medida seria parte de um movimento global da matriz norte-americana The Mosaic Company, que busca otimizar recursos e ajustar o fluxo logístico em suas unidades internacionais, incluindo as localizadas no Brasil.
O Sindicato Metabase informou que manterá diálogo com a direção da empresa para acompanhar o cumprimento dos direitos trabalhistas e eventuais compensações. A entidade pretende solicitar reuniões com representantes da Mosaic e do poder público municipal para avaliar alternativas de mitigação dos efeitos da paralisação.
Especulações de venda
O mercado também discute a possibilidade de que a paralisação esteja associada a negociações para venda de ativos da Mosaic no Alto Paranaíba. Em janeiro, a empresa já havia se desfeito da unidade de Patos de Minas, cuja operação de mineração de fosfato estava suspensa desde o ano anterior. A transação foi confirmada pela companhia, que manteve a comercialização apenas do minério remanescente.
Na ocasião, a Mosaic afirmou estar aberta a oportunidades que ampliem a competitividade do negócio e a eficiência operacional. Desde então, circulam informações de que outras plantas da empresa em Minas Gerais, como as de Salitre e Tapira, poderiam ser alvo de eventuais tratativas comerciais com novos investidores do setor de fertilizantes.
Fontes ligadas ao setor mineral avaliam que a medida também pode estar associada à estratégia de concentrar a exploração mineral em Araxá, onde a Mosaic mantém uma das maiores plantas de beneficiamento de fosfato do país. A unidade é considerada estratégica por integrar diretamente a cadeia de produção de insumos agrícolas.
A Mosaic, entretanto, não confirmou nenhum plano de venda de ativos. Em todos os comunicados oficiais recentes, a empresa tem enfatizado que segue comprometida com suas operações no Brasil e com a manutenção de suas atividades no Alto Paranaíba. O foco atual, segundo a companhia, é otimizar processos e reforçar o atendimento aos clientes do agronegócio.
Importância regional
A Mosaic Fertilizantes é uma das principais fornecedoras de insumos para o agronegócio brasileiro, com atuação nas cadeias de fosfato e potássio. Controlada pela norte-americana The Mosaic Company, a empresa possui unidades produtivas e centros de distribuição em diversos estados, como Minas Gerais, Goiás, São Paulo e Mato Grosso.
Em Minas Gerais, a companhia concentra parte relevante de sua produção nacional, especialmente nas operações de Araxá, Tapira, Uberaba e Patrocínio. Essas unidades representam uma parcela significativa do fornecimento de matérias-primas utilizadas na fabricação de fertilizantes destinados ao mercado interno e à exportação.
De acordo com dados setoriais, a presença da Mosaic tem impacto direto na geração de empregos e renda na região do Alto Paranaíba. As atividades ligadas à mineração e ao beneficiamento de fosfato movimentam a economia local, gerando oportunidades de trabalho e contribuindo com a arrecadação municipal e estadual.
Além das operações produtivas, a empresa também desenvolve programas de sustentabilidade e responsabilidade social voltados às comunidades próximas às unidades industriais. Entre as ações, estão projetos ambientais, capacitação profissional e iniciativas de apoio à agricultura familiar, conforme dados divulgados pela própria Mosaic.
A força da cadeia de fertilizantes
A produção de fertilizantes é considerada estratégica para o agronegócio brasileiro, responsável por cerca de um quarto das exportações nacionais. O fosfato e o potássio, principais matérias-primas processadas pela Mosaic, são essenciais para o cultivo de grãos e demais culturas agrícolas.
Minas Gerais é um dos principais polos de extração de fosfato do país e desempenha papel fundamental na cadeia produtiva do setor. A interrupção temporária de unidades como a de Salitre tem potencial de impactar a logística de distribuição, ainda que a empresa assegure a manutenção dos níveis de fornecimento.
O governo estadual acompanha a movimentação das empresas do setor, uma vez que a mineração é uma das bases da economia mineira. A Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico monitora a situação das unidades da Mosaic, em articulação com prefeituras e sindicatos, para garantir a estabilidade do mercado e a preservação dos empregos.
O cenário futuro
Especialistas afirmam que a paralisação da Mosaic ocorre em um momento de instabilidade nos preços internacionais de fertilizantes, o que tem levado empresas a rever estratégias de produção e estocagem. O aumento dos custos logísticos e as oscilações cambiais também influenciam as decisões operacionais.
A expectativa é que, com o ajuste nos estoques e a retomada programada, a Mosaic volte a operar plenamente em Salitre no início de 2026. A empresa não divulgou, até o momento, o número exato de trabalhadores impactados nem as condições de retorno das operações.
Enquanto isso, os sindicatos e entidades regionais acompanham o caso de perto, ressaltando a importância da manutenção da atividade mineradora para a economia local. O diálogo entre empresa, trabalhadores e poder público deve definir os próximos passos e garantir segurança às famílias envolvidas.
A paralisação temporária da Mosaic reforça a necessidade de equilíbrio entre eficiência produtiva e estabilidade regional. A decisão será observada com atenção por autoridades e investidores, já que pode indicar tendências futuras para o setor de mineração de fosfato em Minas Gerais e no Brasil.
Reportagem original publicada no Diário de Minas