
Outro dia minha querida filha ouvindo assunto sobre a política local me diz:
“–Você não tem mais idade para ‘bater boca’ com esse pessoal. Para que se desgastar’?”
Lembrei me de todo esforço em algumas causas hoje páginas viradas e se tivesse sido menos ingênua talvez estivesse hoje em algum instituição dando sequência ao que acredito: política pública.
Na corrente que se formou de forma conflituosa os idosos, pessoas sem escolaridade, os pacientes, os deficientes, os negros enfim o grupo minoritário continua em desvantagem. Por já ter passado de 60 anos reflito hoje que errei principalmente por esperar ações da parte do poder público para os idosos. Por acreditar que quando chegasse aos 60 anos alguma coisa tinha melhorado. Em numero crescente os idosos continuam esperando melhorias. Alguns se contentam com tardes jogando bingo, outros um passeio em algum lugar turístico, um almoço com a família, uma ida a casa de um amigo. Os anos passam para todos o tempo presente consequência de nossas escolhas.
Recebi hoje de minha querida prima Dulce fotos da “nova geração” como ela chamou e a pergunta:
“–Será que nossos netos nos veem idosos como a gente percebia nossos avós? Bem velhinhos?”
Eu também tenho essa curiosidade. A maioria em minha família faleceu dos 65 aos 75 anos do lado paterno. O que viveu mais foi meu avô Manuel Nunes: 90 anos. Do lado materno meu avô morreu com 71 anos e minha avó nos deixou com 104 anos. Minha querida mãe está com 101 anos. Como eu queria que mamãe pudesse conversar comigo sobre sentimentos.
O que sinto hoje é como se fosse uma mesa de cabeceira cheia de gavetas. Algumas vou abrir várias vezes. Outras vou manter fechadas para não sofrer de novo. Outras vou manter para me ajudar a dar leveza na hora que meu ser reviver as frustrações, as perdas, as ausências de afeto, a finitude de quem tanta amizade senti.
O que sei é que o comportamento dos idosos hoje é bem diferente, por mais que queiram definir atividades, o que pode ou o que não pode, ensinar o que faz bem pra saúde. A velhice ainda é o impacto das ausências, uma busca para aproveitar o tempo que resta ainda com saúde. Todo idoso deveria ser isento de uma velhice chata, criticada, preconceituosa, injusta.
Mônica Othero Nunes — oriunda da família Manoel Nunes —, nasceu e viveu grande parte da sua vida em Patrocínio, MG, onde manteve loja no comercio local. Agora, aposentada, mora em Florianópolis, Santa Catarina. Sempre ligada às letras, foi colaborado da Rede Hoje e ainda escreve diariamente nas redes digitais, especialmente Facebook.