Método Wolbachia completa uma década de aplicação no Brasil e deve dar um salto nos próximos anos

Foto: Flávio Carvalho / WMP Brasil Fiocruz


Agente libera Wolbitos com parte do projeto em cidades brasileiras

Juliana Passos e Nara Lacerda 

O Brasil completa, em 2024, uma década de aplicação de um método revolucionário, que tem potencial para diminuir consideravelmente os índices de dengue, zika e chikungunya: a criação dos mosquitos Wolbito. 

Eles são indivíduos do Aedes aegypti infectados em laboratório com a bactéria Wolbachia. Presente naturalmente em cerca de 60% dos insetos do planeta, no aedes ela impede o pleno desenvolvimento dos vírus da dengue, zika e chikungunya.  

Com a replicação viral bloqueada, os mosquitos infectados com o microorganismo não conseguem transmitir as arboviroses para as pessoas. Liberados no ambiente, eles se reproduzem e passam as bactérias para as novas gerações naturalmente.

Apesar de resultados promissores em outros países, como a Austrália, onde a redução de casos chegou a 90%, a implementação do método no Brasil ainda não é universal. Essa realidade, no entanto, pode estar prestes a sofrer uma virada. 

O país já conta com uma biofábrica no Rio de Janeiro, com capacidade de produzir 100 milhões de mosquitos com Wolbachia por semana. A partir do ano que vem, um centro de produção em Belo Horizonte deve impulsionar essa produção. 

A nova fábrica na capital mineira tem como meta alcançar uma produção semanal de 2 milhões de mosquitos. Ela será responsável por todas as etapas do ciclo dos Wolbitos, desde a produção de ovos até a fase adulta, além da distribuição e alocação de equipes. 

Com isso, a Fiocruz e a iniciativa World Mosquito Program (WMP) esperam ampliar a cobertura do método para 70 milhões de habitantes até 2034.  

Em entrevista ao podcast Repórter SUS, Luciano Moreira, pesquisador da Fiocruz Minas Gerais e pioneiro na introdução do método no Brasil, falou sobre os resultados e a experiência dos primeiros dez anos de aplicação dos Wolbitos no Brasil. 

Segundo ele, os Wolbitos estão hoje em onze municípios e já há novas cidades na fase chamada de engajamento, quando equipes do programa visitam os territórios para entender as particularidades de cada região e a melhor forma de aplicação do método. 

"Para mim, essa é a fase mais importante do programa. É quando conversamos com os territórios, identificamos as diferenças. Tentamos trazer e adaptar a nossa conversa de acordo com esse diagnóstico. Identificamos lideranças sociais, fazemos um trabalho na área da saúde e da educação."

Na conversa ele ressaltou ainda a importância da manutenção das medidas já conhecidas de combate à dengue e outras arboviroses. "É muito importante que continuem sendo feitas ações de controle de mosquito pelo poder público. É importante que as pessoas continuem fazendo seu dever de casa, reduzindo criadouros, conversando com vizinhos. Tudo isso precisa acontecer em conjunto. Mas, sim, vemos uma redução significativa no número de casos nas localidades [em que o método foi aplicado]."

A descoberta do método Wolbachia para controle de arboviroses surgiu em 2008 na Monash University, em Melbourne, na Austrália. O próprio Luciano Moreira participou da pesquisa que levou ao achado científico.  

A ideia da equipe era utilizar a Wolbachia para reduzir o tempo de vida do Aedes aegypti. No entanto, o andamento dos estudos revelou um efeito ainda mais promissor, que é a capacidade da bactéria de bloquear a transmissão viral. 

No Brasil, o método é conduzido pela Fiocruz e já está presente em municípios como Niterói (RJ), Rio de Janeiro (RJ), Campo Grande (MS), Petrolina (PE) e Belo Horizonte (MG). Niterói, o primeiro município a ter 100% de cobertura, registrou uma redução de 69% nos casos de dengue e 56% nos casos de chikungunya.


Reportagem Original do Brasil de Fato


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