Expansão reduz desemprego, mas agrava precarização e problemas de saúde mental entre trabalhadores

Trabalhador de aplicativo de entrega durante jornada de trabalho. Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Da Redação da Rede Hoje
O estudo do BC realizou exercícios comparativos para medir o impacto das plataformas digitais no mercado de trabalho brasileiro. As projeções indicam que, na ausência dessas aplicações, a taxa de desemprego atual de 4,3% poderia variar entre 0,6 e 1,2 ponto percentual a mais. Isso significaria um desemprego entre 4,9% e 5,5% sem a existência dos aplicativos.
IMPACTO MACROECONÔMICO
A participação dos trabalhadores de aplicativos na população ocupada evoluiu de 0,8% para 2,1% na última década. Em relação à população em idade economicamente ativa (acima de 14 anos), a representatividade passou de 0,5% para 1,2% no mesmo período. O transporte por aplicativo integra o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo desde 2020, com peso de 0,3% no IPCA de agosto de 2025.
O Banco Central caracterizou o advento do trabalho via plataformas digitais como uma mudança estrutural no mercado laboral. A instituição afirmou que esse fenômeno contribuiu para maior ingresso de pessoas na força de trabalho, com efeitos positivos sobre os principais indicadores de ocupação. O crescimento extraordinário desses trabalhadores elevou o nível de ocupação e a taxa de participação, reduzindo a taxa de desocupação.
CONDIÇÕES DE TRABALHO E SAÚDE MENTAL
Apesar dos efeitos positivos nos índices de emprego, estudos especializados apontam para a precarização das condições laborais e significativos impactos na saúde mental dos trabalhadores. Relatório do Fairwork Brasil mostrou que nenhuma das principais plataformas conseguiu comprovar o cumprimento de padrões mínimos de trabalho decente, incluindo a oferta de remuneração justa aos prestadores de serviço.
Pesquisa do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada revelou jornadas mais longas, menor contribuição previdenciária e queda acentuada da renda média. Entre 2012 e 2015, quando havia cerca de 400 mil motoristas autônomos no transporte de passageiros, o rendimento médio era aproximadamente R$ 3,1 mil. Em 2022, com cerca de 1 milhão de ocupados, a renda média caiu para menos de R$ 2,4 mil.
SAÚDE MENTAL AFETADA
A precarização das condições de trabalho tem reflexos diretos na saúde mental dos profissionais. Estudos da Fundação Oswaldo Cruz indicam que trabalhadores de aplicativos apresentam índices elevados de transtornos de ansiedade e depressão. A pressão por produtividade, a insegurança financeira e a ausência de proteção social contribuem para o agravamento dessas condições.
A proporção de motoristas com jornadas entre 49 e 60 horas semanais aumentou de 21,8% para 27,3% na última década. O percentual de profissionais que contribuíam com a previdência social caiu de 47,8% em 2015 para 24,8% em 2022. A combinação entre longas jornadas, baixa remuneração e falta de direitos trabalhistas tem sido apontada por especialistas como fator determinante para o aumento de problemas psicológicos nessa categoria.
A Organização Internacional do Trabalho tem alertado para os riscos psicossociais associados ao trabalho em plataformas digitais, destacando a necessidade de políticas específicas de proteção à saúde mental desses trabalhadores. A entidade recomenda a implementação de limites de jornada e garantias de renda mínima como medidas essenciais para mitigar os efeitos negativos desse modelo de trabalho.
Com informações da Agência Brasil e Brasil de Fato