Parceria inédita no Dia Internacional do Café amplia programa de manejo sustentável do solo, visando produtividade e neutralização de carbono

Prática melhora a estrutura do solo e ajuda a reter umidade. Foto: Diego Vargas
Da Redação da Rede Hoje
O programa Construindo Solos Saudáveis é baseado no cultivo consorciado de plantas de cobertura, como crotalárias e feijão-guandu, nas entrelinhas dos cafezais. Essas espécies são fundamentais para recuperar a fertilidade da terra, reduzir drasticamente a erosão e aumentar a infiltração de água no perfil do solo. Após o manejo, a palhada formada por essas plantas cria uma camada protetora que preserva a umidade e a matéria orgânica.
Um estudo encomendado pelo Cecafé ao Imaflora e à Esalq/USP, intitulado "Balanço de Carbono na Cafeicultura de Minas Gerais", comprova a eficácia do sistema. A pesquisa demonstrou que a manutenção do solo coberto, associada a práticas conservacionistas, pode resultar em um balanço de carbono negativo de 10,5 toneladas de CO₂ equivalente por hectare/ano. Esse dado posiciona a cafeicultura como atividade crucial para mitigar as mudanças climáticas.
A fase inicial da parceria prevê a implantação de Unidades Demonstrativas em propriedades do Sul de Minas e do Cerrado Mineiro. Nestas áreas, técnicos e produtores poderão observar e mensurar os benefícios diretos da cobertura vegetal na saúde do solo e na produtividade das lavouras. Será uma vitrine prática para a difusão da tecnologia.
PRÁTICA E RESULTADOS
De acordo com Silvia Pizzol, diretora de Sustentabilidade do Cecafé, nas unidades serão avaliados os ganhos com a adoção das plantas de cobertura. Ela ressalta que a iniciativa visa aumentar a resiliência do cafeeiro frente às variações climáticas extremas. A cooperação entre a extensão rural e os exportadores é considerada um marco para escalar as boas práticas no campo, conectando produção e mercado.
Além da instalação das UDs, o projeto inclui um pacote completo de ações. Estão previstas assistência técnica especializada da Emater-MG, análises de solo detalhadas, avaliação de biomassa produzida e a realização de dias de campo para capacitação e troca de experiências. O engajamento dos produtores contará com o apoio direto das empresas exportadoras filiadas ao Cecafé.
Para Bernardino Cangussu, coordenador técnico de Cafeicultura da Emater-MG, a união de conhecimentos e esforços é fundamental. Ele afirma que a parceria é um passo concreto rumo a uma cafeicultura verdadeiramente regenerativa, que coloca o solo saudável como alicerce para uma produção equilibrada e economicamente viável a longo prazo, atendendo também à demanda do consumidor por produtos sustentáveis.
A iniciativa reforça o papel do estado de Minas Gerais, maior produtor de café do Brasil, na vanguarda da discussão ambiental do agronegócio. A transição para modelos de produção que sequestram carbono e preservam os recursos naturais torna-se não apenas uma bandeira ambiental, mas também uma estratégia de valorização do produto no mercado internacional, cada vez mais exigente.
A expectativa é que os resultados positivos observados nas Unidades Demonstrativas inspirem a adoção massiva das técnicas por cafeicultores de outras regiões. A parceria Emater-MG e Cecafé sinaliza uma mudança de paradigma, onde a rentabilidade e a conservação ambiental caminham juntas, garantindo o futuro da cafeicultura mineira diante dos desafios climáticos e de mercado.