Novas tecnologias e programa de qualificação buscam diminuir taxa de 45% de recusa familiar; país mantém terceira posição mundial em transplantes


Estrutura hospitalar para procedimentos de transplante no SUS. Rafael Nascimento/MS
Da Redação da Rede Hoje

O governo federal instituiu pela primeira vez uma Política Nacional de Doação e Transplantes (PNDT), formalizando em documento específico os princípios que regem o sistema desde 1997. O anúncio ocorreu durante as comemorações do Dia Nacional da Doação de Órgãos, acompanhado de investimentos anuais de R$ 20 milhões. A medida chega em momento recorde: 14,9 mil transplantes realizados no primeiro semestre de 2025, maior número da série histórica e aumento de 21% sobre 2022.

Criado para qualificar o processo de doação, o Programa Nacional de Qualidade na Doação de Órgãos e Tecidos (PRODOT) prevê incentivos financeiros para equipes hospitalares conforme volume de atendimento e indicadores. O foco principal está na capacitação dos profissionais que fazem a abordagem familiar, buscando reduzir a taxa de recusa que hoje é de 45%. O programa receberá R$ 7,4 milhões dos recursos totais investidos.

TECNOLOGIA AGILIZA COMPATIBILIDADE

Entre os avanços incorporados está a prova cruzada virtual, exame remoto que avalia compatibilidade imunológica entre doador e receptor. O método reduz riscos de rejeição e acelera procedimentos em situações de urgência. Outra inovação é o uso regular da membrana amniótica para pacientes queimados, tecido da placenta que beneficia especialmente crianças, com potencial para atender 3,3 mil pessoas anualmente.

O SUS passará a oferecer transplantes de intestino delgado e multivisceral, com cobertura completa do tratamento desde a reabilitação intestinal até cuidados pós-operatórios. O valor das diárias para reabilitação intestinal teve reajuste de 400%, saltando de R$ 120 para R$ 600. Também foram estabelecidos critérios especiais para pacientes hipersensibilizados, reduzindo tempo de espera por transplantes renais.

CAMPANHA ENFATIZA DIÁLOGO FAMILIAR

Com o tema "Doação de Órgãos. Você diz sim, o Brasil inteiro agradece", nova campanha do Ministério da Saúde incentiva a população a comunicar aos familiares o desejo de doar. O ministro Alexandre Padilha destacou a segurança do sistema: "Quando um profissional aborda uma família, ele atua dentro de um sistema sólido e seguro". Atualmente, mais de 80 mil pessoas aguardam por transplantes no país.

Dados revelam que a Força Aérea Brasileira realizou 1.988 missões de transporte de órgãos entre 2016 e setembro de 2025, totalizando 10.926 horas de voo. Foram transportados 2.400 órgãos, com destaque para fígado (1.130) e coração (704). Apenas em 2025, foram 196 órgãos transportados em 175 solicitações, demostrando a capilaridade do sistema.

POSIÇÃO INTERNACIONAL

O Brasil mantém a terceira posição mundial em números absolutos de transplantes, atrás apenas de Estados Unidos e China, e lidera em procedimentos realizados integralmente pelo sistema público. A formalização da política nacional visa garantir continuidade das ações independentemente de mudanças governamentais, assegurando evolução constante do sistema.

REDUÇÃO DA FILA

A combinação entre investimentos tecnológicos, qualificação profissional e conscientização popular cria expectativa de aumento progressivo nas doações. A meta principal é reduzir significativamente a fila de espera, que hoje supera 80 mil pessoas, consolidando o sistema brasileiro como referência global em transplantes pelo SUS.

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