Semana. A Santa é de pleno respeito. Pelo menos, para a velha guarda. Ela foi criada pelos primeiros cristãos, visando recordar os últimos passos de Jesus (na Terra). Nos anos 50/60, por exemplo, a Semana Santa era bastante diferente da que existe hoje. Não se comia carne durante toda a semana, a Rádio Difusora não funcionava (não ia para o ar), nenhum bar era encontrado aberto na sexta-feira, mulher trajava com total discrição, e, ninguém trabalhava (na quinta-feira e, totalmente, na sexta-feira). 

*** PAIXÃO DE CRISTO - Sexta-feira era o dia mais sagrado para os cristãos. Nessa época, o dia culminava com a procissão, às 19h. Era a Procissão do Enterro de Jesus, com matracas quebrando o silêncio. Muitas vezes, a Banda de Música a acompanhava tocando músicas fúnebres (não era a atual banda, que foi criada anos depois. Era a Banda Maestro José Carlos, sob a batuta de Alírio de Melo). Uma multidão com velas nas mãos formava a procissão, que saía da Igreja Matriz (N. S. do Patrocínio - única paróquia), ia pela Rua Pres. Vargas até à Praça Santa Luzia, e voltava pela Rua Governador Valadares, até à Matriz. 

*** O QUE SE FAZIA NA SEXTA-FEIRA: NADA! - Pela crença, não era nem permitido varrer a casa. Nem lavar roupas. O jejum era obrigação cristã normal. Inclusive, a abstinência de carne. Tolerava-se apenas o peixe. O comércio literalmente fechado [bares, lojas, serviços, posto de gasolina (não existia o etanol ainda)]. O rádio era o meio de comunicação dominante, em ondas curtas (durante o dia) e ondas médias (à noite). Televisão engatinhava nas capitais. Patrocínio e região não conheciam TV. As rádios somente tocavam músicas clássicas, em substituição à programação normal. A líder Rádio Nacional-Rio, no lugar de suas diversas novelas diárias, apresentava seis (6) capítulos da Vida de Cristo (um capítulo ao vivo em cada hora). Roberto Faissal, rádio-ator, fazia o papel de Jesus. O Repórter Esso (quatro edições por dia) era apresentado como de costume, por Heron Domingues. A Rádio Difusora não era operada (Humberto Cortes, Oliveira Júnior e outros ficavam em casa meditando com a família). Aliás, em toda a semana o rádio em geral ficava mais ameno, com músicas, preferencialmente, orquestradas. Futebol nem pensar (não podia treinar ou jogar). Aliás, nenhum tipo de jogo. Até baralho e dama eram atos condenados. Ônibus não circulavam. 

*** COMO ERA O COMEÇO DA SEMANA - No domingo ocorria a tradicional Procissão de Ramos (de palmeiras e outros). Nos anos dourados, na quarta-feira Santa, à noite (19h), saía da Igreja Matriz a procissão só de mulheres (de Maria, Mãe de Jesus), pela Rua Presidente Vargas, levando o andor de N. S. das Dores. Já a procissão apenas de homens, carregando a imagem de Nosso Senhor dos Passos, saía da Igreja de Santa Luzia, pela Rua Gov. Valadares. Na Praça Honorato Borges dava-se o encontro de Jesus e Maria. Por isso, Procissão do Encontro. Momento em que aparecia o Canto da Verônica. Uma mulher, com um véu, segurando pequena bandeira tendo a representação da face de Jesus Cristo, subia em um banco, entoando uma oração cantada (repensório), normalmente em Latim, acompanhada e respondida por parte das procissões. Em Patrocínio, Verônica e seu canto, foi interpretada com muita fé por Lia Novaes. 

*** QUEM É? - Residente à Rua Presidente Vargas, em frente à Escola Honorato Borges, Lia Novaes foi a ‘‘Verônica’’ patrocinense, por quase 70 (setenta) anos. Com a sua inseparável irmã Magda, era proprietária do Armazém Santa Terezinha, situado por muitos anos na Rua Gov. Valadares com Rua Rio Branco (em um dos mais antigos casarões de PTC, derrubado pelos proprietários, há quase 15 anos, injustamente). Faleceu em 12 de outubro de 2022, aos 94 anos (sua querida irmã Magda, felizmente sobrevive). E residia em um raro e belo casarão que resiste à fúria imobiliária (lá está a também incrível Magda). 

*** TAMBÉM - A ‘‘Verônica’’, Lia Novaes, participava, na sexta-feira da Paixão, da Procissão do Senhor Morto, cantando com a sua perfeita voz, ora em frente à Igreja Matriz, ora em frente à Igreja de Santa Luzia. Bem como, em rápidas paradas da procissão da Paixão, durante o trajeto. Inesquecível. 

*** PÁSCOA - Já a Procissão da Ressurreição, com muito menos pessoas, misturava a badalação dos sinos, alegria e fé. Antes, no Sábado de Aleluia, havia ‘‘plantões’’ de fiéis na noite de sábado para domingo na Igreja Matriz. Era e é a Vigília Pascal. Hoje, a fé e a esperança fragilizaram. Que pena! Novos tempos, novo comportamento.

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