A Banda de Música Abel Ferreira se apresenta no lançamento do livro que conta sua história, comandado pelo regente Wagner Novaes de Souza, filho de João de Souza conhecido como “João da Banda” — que durante décadas foi o regente . Foto: Asscom|PMP
História. A tradicional Banda de Música é marco histórico do Brasil. E até de (nossa) Patrocínio. No Brasil Colônia, a banda de música começou com a vinda de D. João VI (1808/1821), que trouxe uma em sua comitiva. Na Província de Minas Gerais, região de Ouro Preto e Mariana, durante o começo do Império, surgiram as primeiras. No primeiro Censo brasileiro (1872), Minas tinha apenas 72 municípios. Patrocínio era um deles. Há notícias orais (Sebastião Elói e outros) que um pouco antes de Patrocínio tornar-se cidade (1874), existiu a primeira banda patrocinense. Daí, são mais de 150 anos de existência de graciosas e memoráveis bandas na vida patrocinense. A atual, Corporação Musical Abel Ferreira, no dia 26 de julho, completa 43 anos de vida. Na verdade, criada em 17/6/1980 e efetivada (lançada) no ano seguinte (26/7/1981). Antes dela, um desfile de históricas bandas e de gênios musicais.
A PRIMEIRA BANDA – Por volta de 1860/1870, o músico José Marçal Ribeiro criou e foi maestro da primeira corporação musical da, então, Vila de Nossa Senhora de Patrocínio. Essa banda teria participado da festa de elevação de vila à cidade (1873/1874). E teria existido até os anos 20. Mas em 1914, devido o falecimento de José Marçal, a “batuta” da banda passou para o seu filho maestro Eduardo Marçal Ribeiro.
HAVERIA UMA SEGUNDA BANDA NA CIDADE – A segunda banda pertenceu a um mestre na educação e música: Olímpio Carlos dos Santos. Ou Prof. Olímpio dos Santos. Patrocínio em algumas ocasiões teve duas bandas. A primeira vez foi por volta de 1890 a 1900, quando Prof. Olímpio dirigiu e regeu a sua banda. Prof. Olímpio também foi líder carnavalesco e teatral na cidade. Ele residiu em um belo casarão na rua que (depois) levou o seu nome, nº 181, na região da Escola Dom Lustosa (será que essa maravilha resiste à fúria “progressista”?).
OUTRA “SEGUNDA BANDA” – Em 1910, o músico Quintiliano Alves de Souza criou a sua banda, que durou pouco tempo. Quintiliano era major da guarda nacional, foi vereador e presidente da Câmara Municipal, que à época era também o agente executivo (prefeito). Em 1912, chegou a ser o agente executivo de Patrocínio.
O trompetista Gercilio de Souza, também conhecido com “Cilin”, que morreu aos 69 anos em outubro de 2023, um dos músicos da Banda Abel Ferreira. Álbum de Família
UMA “SEGUNDA BANDA” QUE ENCANTOU – Em 1918, surgiu a Banda Honorato Borges, sob a direção do maestro Cirino José da Rocha. Pertencia ao líder político e proprietário do jornal “Cidade do Patrocínio”, Cel. Honorato Borges. A sua missão maior era competir com a experiente Banda de Eduardo Marçal. Na Banda HB, o adolescente Sebastião Elói teve as suas primeiras lições musicais com o maestro Cirino. Numa etapa posterior, a banda foi comandada por outro Rocha: Sebastião José da Rocha. Em seguida, pelo maestro maior de Patrocínio, José Carlos da Piedade. E na última fase da existência da banda, pelo maestro Totonho Silvestre (Antônio Silvestre de Novaes), avô do jornalista Sebastião Elói. A Banda Honorato Borges (HB) encerrou as suas atividades em 1942.
O maestro Wagner (E) assumiu o comando na regênica da Banda Abel Ferreira quando o pai, João da Banda (D), ainda era vivo . Foto: reprodução Rede Hoje
A LENDÁRIA BANDA – No começo dos anos 40 foi fundada a Corporação Musical Maestro José Carlos. O nome era homenagem ao maestro nº 1 de Patrocínio, que falecera na Colônia Santa Isabel (Betim), em 1939, acometido de hanseníase. A mais conhecida música patrocinense da história, “Saudades do Matão”, é de sua autoria. Como são também as valsas (ritmo predominante naquele tempo) “Sentimento Oculto”, “Cidade de Patrocínio” e “Galopé”. De 1940 até 1944, maestro Alírio de Melo foi o regente. De 1944 a 1958, outro “Rocha” foi o maestro: José Antônio da Rocha (Zé Pequeno). A partir daí até o final dos anos 60, a banda teve dificuldades, mas continuou encantando a cidade, principalmente pelos seus desfiles nas ruas centrais, tocando famosos “dobrados”, sob a maestria de Zé Pequeno.
A famosa banda "Furiosa", do Maestro Zé Pequeno das décadas de 1950 e 1960. Fotos: Àlbum de família
BANDA ABEL FERREIRA – Patrocínio passou quase dez anos sem a sua banda de música. Com a criação da Corporação Musical Abel Ferreira em 17/6/1980, no ano seguinte, a partir de 26 de julho de 1981 a cidade voltou a sorrir, vendo a (sua) banda passar. Sob a direção do maestro João Souza, o João da Banda, com 20 músicos. Na atualidade, o filho do falecido e inesquecível João da Banda, Wagner Novaes de Souza, é o maestro.
HISTÓRIA DA ATUAL BANDA – As acadêmicas Hedmar de Oliveira Ferreira (Dininha) e Maria José Magalhães Ferreira (Lalá) presentearam à comunidade patrocinense com o livro “Banda de Música Abel Ferreira”. Um show histórico da banda. Sob a liderança de Dona Lili Aguiar, esposa do ex-prefeito Enéas Aguiar (1959-1962), diversas senhoras da sociedade fundaram a Banda Abel Ferreira (1980). O nome deveu-se à amizade do líder político (Enéas) com o músico de Coromandel, Abel Ferreira (falecido no Rio de Janeiro, em 1980). Os instrumentos musicais para a constituição da banda foram doados pelo ex-prefeito e familiares. Mas o correto político não viu a Banda tocar, que só ocorreu em julho de 1981, já que faleceu em 08/9/1980 (no mesmo ano de Abel Ferreira).
Os escritores Hedmar de Oliveira Ferreira (Dininha) e Maria José Magalhães Ferreira (Lalá), ambos da Academia Patrocinense de Letras , autores do livro “Banda de Música Abel Ferreira”, autografaram a obra contando a história da banda que retrataram, em setembro de 2021, . Foto: Ascom | PMP
POR FIM – A Banda Abel Ferreira está instalada (treinamento, planejamento) no Conservatório de Música Dr. José Figueiredo, à Av. João Alves do Nascimento (esquina com a Rua Major Tobias). Do livro de Dininha e Lalá, um verso da música “A Bandinha do João”, de autoria do músico patrocinense da gema, Paulinho Machado:
“Quando a banda do João
Sai à rua a tocar
Todos correm pra ver
A Bandinha passar
Ela traz alegria
Faz a gente vibrar...”