Morreu neste sábado, 29 de março de 2025, Osmar Fernandes, aos 83 anos: silêncio de uma era de trabalho e dedicação que marcou a história de Patrocínio e do Patrocinense.
Foto: PortilioOnline
Luiz Antônio Costa | O Som da Memória
O céu sobre Patrocínio amanhece mais pesado neste domingo. Não apenas pela ausência física de Osmar Fernandes, mas pelo silêncio eloquente daqueles que falam pouco e fazem muito. Seu nome não aparecerá em estatísticas, nem seus feitos serão marcados em placares. Mas sua história, gravada no Clube Atletico Patrocinense (CAP), nas paredes da extinta Vila Olímpica, no suor dos jogadores e nos cheques assinados sem alarde, será lembrada para sempre.
Osmar foi um visionário para a cidade. Ele foi o homem que plantou negócios como a Eletroauto e os postos União e Avenida, que cultivou o comércio local com a mesma dedicação com que cuidava de suas sementeiras. No entanto, para o Patrocinense, a perda é mais profunda: ele não era apenas um empresário, um produtor rural, um companheiro. Para os moradores, Osmar era como um pilar invisível, tão essencial quanto as estruturas do Ninho da Águia, que ruíram desde que ele saiu do comando. Sempre discreto, ele preferia trabalhar nas sombras, cuidando de detalhes minuciosos.
Nos anos 1990, quando o CAP sonhava alto, Osmar era a espinha dorsal do clube, presidindo o Ninho da Águia e tornando o local um verdadeiro bastião grená. Enquanto outros diretores se preocupavam com as importantes estratégias táticas, ele se dedicava à manutenção dos jardins, onde as flores sempre floresciam nas cores do clube. Sua timidez não escondia fraqueza, mas uma determinação inquebrantável em servir ao time, sem esperar reconhecimento.
Em casa, sua esposa Bibi, os filhos Jorge, Paulo e Osmar Jr., choram a partida do patriarca. Os irmãos, os netos, os amigos e as noras compartilham a mesma dor. Para os fãs do CAP, a dor é também muito amarga. Osmar não usava as cores do clube como disfarce; elas faziam parte de sua essência, uma segunda pele. Mesmo longe da diretoria, sua única pergunta era: "O clube precisa de algo?". Seu amor pelo CAP nunca esmoreceu.
Nos últimos meses, os olhos de Osmar brilharam novamente, pois uma nova geração de dirigentes, filhos de diretores da Velha Guarda, trouxe-lhe esperanças renovadas. Quem o via falar sobre o CAP notava a mesma empolgação de quando a Vila Olímpica era um centro de atividade pulsante. Seu legado era claro: um clube se constrói com trabalho árduo, não com discursos vazios.
A frustração com o projeto da SAF deixou marcas profundas. Osmar e seus companheiros se sentiram excluídos de um processo que não vingou. A SAF também não prosperou, embora aprovada. Porém, o sangue grená que corria em suas veias falava mais alto. Sem rancor, ele continuou a torcer, mantendo a fé de que o clube ainda poderia ser o que sempre foi com a reconstrução que está chegando.
Enquanto a Funerária São Pedro se prepara para receber o fluxo de amigos e admiradores, Patrocínio sente o peso da ausência. Como substituir um homem que doava tempo quando faltava dinheiro? Que aparecia nos momentos mais difíceis sem ser chamado? O clube perdeu um ex-dirigente e, com ele, a memória viva de uma época em que o futebol era medido por ações concretas.
A Vila Olímpica Ninho da Águia foi sua grande obra. Um complexo esportivo, materialização do orgulho grená. Gramados impecáveis, piscinas cristalinas, academia de ginástica, saúnas, bares, sede social e jardins cuidadosamente planejados para florescer apenas em grená e branco. Cada flor, uma declaração de amor ao clube, que ele, com tristeza, viu acabar. Quando Osmar e sua geração deixaram o comando, o Ninho da Águia começou a definhar, até que o golpe final veio com a venda de cotas remidas aos sócios patrimoniais, que não resolveram a crise. O que restou foi uma sombra do que antes fora o coração social do clube, onde famílias se reuniam e atletas se preparavam.
Osmar assistiu, de longe, ao fim de seu legado com o coração partido. O Ninho da Águia era, além de um simples patrimônio, era um compromisso sagrado. Ele conhecia cada detalhe da Vila, inspecionava pessoalmente cada espaço e viu com tristeza a decadência do que ele havia ajudado a construír. O clube, uma vez sustentado pela paixão, estava sendo consumido por problemas financeiros. A venda de bens do Ninho da Águia e o desaparecimento de todo o sistema elétrico, hidráulico, equipamentos, telhas, tijolos, tudo furtado - até os eucaliptos -, e a posterior transferência do terreno para o estado, onde foi instalado o Batalhão da Polícia Militar, simbolizaram o fim de uma era.
Hoje, enquanto Patrocínio diz adeus a Osmar Fernandes, o clube sepulta mais do que um homem: sepulta uma filosofia de gestão e paixão pelo futebol, onde cuidar do clube era, acima de tudo, um ato de amor. O Ninho da Águia físico pode não existir mais como ele o idealizou, mas suas flores grenás permanecem: nas memórias daqueles que viveram essa era e no exemplo de um homem que acreditava que futebol se faz com trabalho árduo, lealdade e, por que não?, até com a cor certa das flores nos jardins.
O vento agora balança os galhos nus onde antes floresciam roseiras grenás. Mas, em algum lugar além do horizonte, podemos imaginar Osmar replantando seu jardim, em um lugar onde o futebol não conhece dívidas, onde clubes são feitos de paixão pura – e onde, é claro, as flores continuam a florescer nas cores que ele tanto amou: grená e branco.
Nota luto do Patrocinense: