CAP no primeiro acesso em 1990; de pé: Paulo Betti, Ronaldo Correa (diretores), Zé Luiz, Marco Antônio, Leandro, Angolinha, Borges, Lobinho, Paulão, Vantuir Galdino, Geraldinho; Agachados: Olávio Dourado (supervisor), Gutte, Joãozinho, Dudú, Nequinha, Gulina, Robertinho, GILMAR SANTOS, Delinho (preparador físico) e Tião Galvão (massagista).
Foto: arquivo Rede Hoje
O Som da Memória | Luiz Antônio Costa
Há sons que nunca se calam. Mesmo quando a voz se apaga, mesmo quando os passos cessam, ainda há um eco que insiste em viver — o da memória. Nesta edição, esse som nos leva de volta aos tempos do velho Patrocinense, aos gramados batidos de terra e suor, e ao nome de um ponta que hoje ecoa mais forte do que nunca: Gilmar Santos.
Na segunda-feira, chegou a notícia sussurrada por um torcedor no grupo de WhatsApp do CAP: “Gilmar Santos faleceu.” Ninguém sabia ao certo. A notícia se perdeu entre dúvidas e lembranças. Procurei quem dividiu o campo com ele: o goleiro Delinho, o meia Enéas, o atacante Gulina. Todos lembram. Todos sentem. Mas ninguém sabe onde ele morava, se estava doente, se partiu em paz. O silêncio de hoje contrasta com o barulho que ele fazia em campo. Delinho que trabalhou com ele como goleiro, depois como preparador físico, me disse: “Gilmar Santos era um cara muito reservado”.
Gilmar era ousado. Vestia a camisa grená com a leveza de quem nasceu para ela. Em 1986, quando o Patrocinense retornou ao futebol profissional, lá estava ele, no time de Célio Lara, que se classificou para a semifinal com o time Grená tendo: Delinho, Gilmar Uberaba, Jair, Leandro Bandolo, Mário, Nilton Santos, Alfredo, João Henrique, Enéas, Isaac, Gulina — e Gilmar, sempre Gilmar.
Como locutor esportivo que acompanhou a vida do Patrocinense desde antes de sua volta ao futebol profissional, lembro-me de um jogo em Juiz de Fora. Um 1 a 1 que valeu ouro. Foi aquele empate contra o Tupi que levou o “timão Grená” para a final contra o Campo Belo. Por méritos, a final deveria ter sido em Patrocínio — mas o regulamento quis diferente. O CAP foi vice, mas subiu de divisão. Subiu com orgulho. Camargo Neto, colunista do Estado de Minas sucursal de Uberlândia, escreveu uma coluna com o título: “Orgulho regional”. Era isso mesmo. Era a sensação de estar vendo nascer algo maior que o jogo: era história.
Em 1990, Gilmar voltou. E voltou para fazer mais história. Aquele time, comandado por Vantuir Galdino, venceu gigantes, driblou dificuldades e chegou à final da Segundona Mineira (hoje Módulo II) contra o Araxá, no Fausto Alvim. E o Patrocinense subiu, pela primeira vez, à elite do futebol mineiro. O time daquela foto do jornal O Tempo de Araxá tinha nomes que ainda vivem na alma grená: Delinho, Angolinha, Geraldinho, Lobinho, Borges, Marco Antônio, Zé Luiz, João Mineiro, Nequinha, Dudu, Robertinho, e Gilmar Santos.
A comissão era completa: o técnico Vantuir Galdino, o supervisor Olavo Dourado, o massagista Zé Promessa. A diretoria tinha Nakamura, Eloiz, Tião Jacinto, Romeu Malagoli, Maurício Cunha, Rubens Rocha, Vicente Marra e tantos outros nomes que faziam do CAP um clube de coração antes de ser clube de futebol.
Gilmar jogava na ponta, mas não era coadjuvante. Era flecha. Era fôlego no fim do jogo. Ele, como os demais daquele time, levantava a torcida. E mesmo que hoje não saibamos ao certo onde está seu corpo, sua alma ainda corre pelo lado esquerdo do campo, no gramado da memória. Trinta e cinco anos depois, aquele time ainda vive. E nele, vive também Gilmar Santos.
Gilmar Santos, o som da sua memória ainda vibra no peito de quem ama o Patrocinense.