Dois meses após os ataques terroristas do Hamas em Israel, que desencadearam a retaliação militar israelense em Gaza, a situação no enclave está se tornando “apocalíptica”, com a violência impossibilitando a entrega de ajuda.




Parlamentares da Comissão de Administração reuniram-se nesta quarta-feira (22) | Foto: Daniel Protzner

Da redação da Rede Hoje


Violência no enclave dificulta entrada e distribuição de ajuda humanitária; bombardeios agravam a situação e a falta de comida e água; organizações de ajuda e agências da ONU pedem cessar-fogo; fechamento de hospitais e ataques contra instalações de saúde privam vítimas dos ataques de atendimento essencial.

Dois meses após os ataques terroristas do Hamas em Israel, que desencadearam a retaliação militar israelense em Gaza, a situação no enclave está se tornando “apocalíptica”, com a violência impossibilitando a entrega de ajuda.

O alerta foi feito nesta quinta-feira por 27 organizações de auxílio, incluindo agências da ONU e seus parceiros. O comunicado conjunto pede uma interrupção imediata dos combates, enfatizando que as condições em Gaza estão “entre as piores já testemunhadas”.

Pessoas deslocadas caminham do norte de Gaza em direção ao sul, enquanto as ambulâncias se dirigem na outra direção



Unrwa/Ashraf Amra Pessoas deslocadas caminham do norte de Gaza em direção ao sul, enquanto as ambulâncias se dirigem na outra direção


Sem comida. Apenas bombas’

Na quinta-feira, tropas israelenses teriam entrado na cidade de Khan Younis, ao sul de Gaza, onde milhares de pessoas deslocadas estavam abrigadas.

Bombardeios intensos por parte de Israel em toda a Faixa e lançamentos de mísseis por grupos armados palestinos em direção a Israel continuaram nos últimos dois dias, segundo o Escritório de Assuntos Humanitários da ONU, Ocha.

Relatos apontam que mais de 100 pessoas foram mortas na quarta-feira após o bombardeio de “múltiplos prédios residenciais” no campo de refugiados de Jabalia, no norte de Gaza.

O representante do Programa Mundial de Alimentos, PMA, no território palestino ocupado afirma que “quase ninguém em Gaza tem comida suficiente”. Segundo Samer AbdelJaber, em algumas áreas, nove em cada dez pessoas passaram um dia e uma noite inteira sem comer nada.

O porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, Unicef, James Elder, que retornou recentemente de Gaza, resumiu as condições na região como: “Sem água. Sem saneamento. Sem comida. Apenas bombas”.

O chefe da ONU, António Guterres, pediu ao Conselho de Segurança na quarta-feira, por meio do Artigo 99, raramente utilizado, para “pressionar para evitar uma catástrofe humanitária” e se unir em um apelo por um cessar-fogo humanitário completo.

Em uma carta ao Conselho, que deve se reunir em uma sessão especial nos próximos dias, ele destacou as “implicações potencialmente irreversíveis para os palestinos como um todo e para a paz e segurança na região”.

Precisamos de paz para a saúde’

O diretor-geral da Organização Mundial da Saúde, OMS, Tedros Ghebreyesus, expressou apoio à carta de Guterres, enfatizando que “o sistema de saúde de Gaza está de joelhos”. “Precisamos de paz para a saúde”, afirmou.

Até quarta-feira, a OMS havia documentado 212 ataques à saúde na Faixa, afetando 56 instalações e 59 ambulâncias. Apenas 14 dos 36 hospitais de Gaza estão pelo menos parcialmente operacionais.

O hospital Kamal Adwan, em Jabalia, foi a última instalação que deixou de funcionar. A maioria dos pacientes e funcionários foi evacuada pelas autoridades de saúde de Gaza na quarta-feira, devido aos intensos combates e à falta de recursos essenciais.

Tedros alertou que o fechamento de mais um centro de saúde “privará milhares de pessoas de cuidados essenciais e que salvam vidas”.

Em um comunicado, a especialista independente Tlaleng Mofokeng, condenou a “guerra implacável” de Israel contra o sistema de saúde em Gaza. Ela adiciona que “descemos a profundidades das quais devemos emergir rapidamente’.



Impedimentos na distribuição de ajuda

Caminhões bloqueados, cortes de telecomunicações e a incapacidade dos funcionários de se dirigirem ao cruzamento de fronteira de Rafah devido aos combates limitaram a capacidade da ONU de receber a entrada de ajuda.

Segundo o Ocha, pelo quarto dia consecutivo na quarta-feira, Rafah foi o único local em Gaza onde as distribuições aconteceram, já que a intensidade dos combates “parou em grande parte” as operações na região vizinha de Khan Younis.

Também não houve acesso do sul para áreas ao norte de Wadi Gaza desde o fim da pausa nos combates em 1º de dezembro. No mesmo dia, 80 caminhões de ajuda e 69 mil litros de combustível entraram através de Rafah em Gaza.

O Ocha afirma que a quantidade está bem abaixo da média diária de 170 caminhões e 110 mil litros de combustível que havia entrado durante a pausa humanitária.

Evacuações em Khan Younis

Os combates em Khan Younis forçaram dezenas de milhares de pessoas a fugir para Rafah nos últimos dias. Ainda na quarta-feira, cinco escolas administradas pela agência da ONU para refugiados da Palestina, Unrwa, e que serviam como abrigos no leste do governo de Khan Younis, foram evacuadas após ordens do exército israelense.


Além disso, uma área que representa cerca de um quarto da cidade de Khan Younis foi designada pelo exército israelense para evacuação imediata. Em Rafah, os abrigos estão acima da capacidade e os novos chegados têm se instalado nas ruas e em espaços vazios pela cidade.

A Unrwa está apoiando os deslocados com tendas, enquanto o PMA distribui refeições quentes, em meio ao que a agência da ONU chamou de “crise catastrófica de fome” em toda a Faixa.



Plano humanitário foi arruinado

Não temos mais uma operação humanitária no sul de Gaza que possa ser chamada por esse nome”, disse o chefe de assuntos humanitários da ONU, Martin Griffiths. Ele afirmou que o plano humanitário para proteger civis no enclave está “arruinado” e que nenhum lugar é seguro com intensos ataques militares no sul da Faixa.


Ele descreveu o estado atual como “oportunismo humanitário”, com entregas de ajuda que se tornaram “erráticas, não confiáveis e insustentáveis”. Griffiths enfatizou que as agências de ajuda nas quais o povo de Gaza tem confiado por décadas permanecerão ao lado deles, mas que a única resposta “política séria” para a crise será com o fim da violência.

Ele também destacou “sinais promissores” em negociações em andamento no comitê que reúne principais partes, incluindo a ONU, Israel, Egito e Estados Unidos, sobre o acesso de ajuda a Gaza pelo cruzamento de fronteira de Kerem Shalom, de Israel.

Para ele, se o acordo for alcançado, “será o primeiro milagre que vemos há algumas semanas”, além de um grande impulso para a base logística da operação humanitária. Até agora, Rafah, no sul da Faixa, tem sido o único ponto de passagem aberto para as entregas de ajuda desde que foram retomadas em 21 de outubro.


Fonte: Matéria e fotos cedidas pela Onu


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