O documentário já disponível na Rede Hoje conta a história de Olendino Francisco de Souza, o piloto que salvou mais de 300 pessoas no incêndio do Edifício Andraus
Olendino Francisco de Souza, nascido em Patrocínio (MG), foi o principal respons´pavel pela criação do "Dia Nacional do Piloto de Helióptero" (12 de fevereiro) Foto: Agência Estado.
Da redação da Rede Hoje
Hoje, 7 de Setembro de 2024, a Rede Hoje resgata a história de um heroi patrocinense que nunca teve reconhecimento por aqui. No dia 24 de fevereiro, comemora-se o “Dia do Piloto de Helicóptero”, uma homenagem ao heroísmo demonstrado durante o trágico incêndio no Edifício Andraus, em São Paulo, em 1972. Na ocasião, pilotos de helicópteros desempenharam um papel crucial no resgate de centenas de pessoas presas no topo do edifício em chamas. Entre eles, destaca-se o Comandante Olendino Francisco de Souza, que pilotou o helicóptero Bell 204B, realizando 32 pousos e salvando 307 pessoas ao longo daquele dia inesquecível.
A história de Olendino Francisco de Souza, nascido em Patrocínio (MG), que passou aqui toda uma infância difícil, mas encontrou seu caminho na aviação ainda jovem e aos 15 anos foi para São Paulo, está disponível no documentário da Rede Hoje.
Ao trabalhar como mecânico em uma oficina em Ribeirão Preto, seu talento chamou a atenção, o que o levou a ingressar no setor de manutenção de aviões. Com uma destreza manual impressionante, ele rapidamente aprendeu a consertar aeronaves, e em 1960 obteve sua licença de piloto, uma das primeiras do país para helicópteros.
Ao longo de sua carreira, o Comandante Souza se destacou como piloto de helicópteros, sendo convidado, em 1964, para voar para o governo do estado de São Paulo. Durante esse período, ele transportou governadores e outras autoridades, pilotando o Bell 204B, uma aeronave apelidada de “Gafanhoto”. Além de ser piloto, Souza também era reconhecido por sua habilidade como mecânico, algo raro para pilotos de helicóptero na época.
Olendino Francisco de Souza, piloto do Governo do Estado de São Paulo no helicóptero PP-ENC, um Bel 204B, salvou 307 pessoas. Foto: Agência Estado.
No dia do incêndio do Edifício Andraus, Souza estava no hangar da VASP, em Congonhas, quando foi chamado para a missão de resgate. Ao chegar ao local, o helicóptero Bell 204B que ele pilotava foi o primeiro a pousar no prédio em chamas. Graças ao espaço interno da aeronave, um número significativo de vítimas pôde ser resgatado em cada viagem. Nos primeiros momentos, as vítimas eram levadas ao Aeroporto Campo de Marte, mas, em seguida, Souza decidiu pousar na Praça Princesa Isabel para otimizar o tempo de resgate.
O mecânico Domingos Alzino, funcionário da VASP, acompanhou Souza como copiloto durante as operações de resgate. O dia foi marcado pela tensão e urgência, com a equipe enfrentando desafios como a baixa visibilidade e o risco de colapso da estrutura. Souza relatou que, em alguns momentos, teve que arremeter para evitar que o helicóptero fosse invadido pelas vítimas em pânico, o que poderia comprometer a segurança do voo.
Os resgates continuaram até por volta das 22h30, quando não havia mais pessoas no heliponto do Andraus. Ao longo de quase seis horas, o Comandante Souza e outros pilotos conseguiram evacuar centenas de pessoas para a segurança das áreas de pouso improvisadas pela Polícia Militar na Praça Princesa Isabel. Após a operação, Souza voltou ao Aeroporto de Congonhas, exausto, mas ciente da magnitude do trabalho que havia realizado.
No dia seguinte, o Governador de São Paulo, Laudo Natel, convidou Souza, Alzino e outros envolvidos na operação para uma cerimônia de agradecimento no Palácio dos Bandeirantes. Lá, Souza contou que, como piloto da maior aeronave envolvida no resgate, sentiu que era sua responsabilidade ser o primeiro a pousar no prédio. Ele sabia dos riscos envolvidos, mas acreditava que, se tivesse sucesso, abriria caminho para que os demais helicópteros realizassem as operações com mais segurança.
Após uma longa e bem-sucedida carreira como piloto, o Comandante Souza se aposentou na década de 90. Ele passou seus últimos anos em Bauru, onde vivia com sua família e se dedicava ao aeromodelismo, uma de suas grandes paixões. Mesmo afastado dos voos, Souza continuou a ser lembrado por seus colegas e por aqueles que foram salvos por ele no trágico incêndio do Edifício Andraus.
O Comandante Olendino Francisco de Souza faleceu em janeiro de 2008, aos 79 anos, vítima de um Acidente Vascular Cerebral (AVC). Seu legado, no entanto, permanece vivo, especialmente entre os pilotos de helicóptero, que o têm como exemplo de coragem e profissionalismo. O Dia do Piloto de Helicóptero é uma oportunidade de lembrar não apenas o resgate no Andraus, mas também a dedicação de Souza e de todos os aviadores que diariamente arriscam suas vidas para salvar outras.
Fontes:
Eustáquo Amaral, “Primeira Coluna”, em 22 de agosto de 2020, na Rede Hoje
Eduardo Alexandre Beni, Coronel da Polícia Militar de São Paulo – Águia 31, no site Resgate Aeromédico.
Imagens do Arquivo Nacional
Corpo de Bombeiros do Estado de São Paulo