Júri popular confirmou a condenação dos ex-PMs pelos homicídios de Marielle e Anderson. Agora, faltam os mandantes
Fonte: Miguel Schincariol / AFP

Manifestação em São Paulo em 15 de março de 2018 - 

Igor Carvalho

Após dois dias de julgamento, o 4º Tribunal do Juri do Rio de Janeiro (RJ) condenou os ex-policiais militares Ronnie Lessa e Élcio Queiroz à prisão pelo duplo homicídio triplamente qualificado de Marielle Franco e Anderson Gomes, além da tentativa de homicídio de Fernanda Chaves, única sobrevivente do atentado.

Ronnie Lessa foi condenado a 78 anos e 9 meses de reclusão e 30 dias multa, enquanto Élcio recebeu a pena de 59 anos de prisão e 8 meses de reclusão e 10 dias multa. Os condenados deverão pagar ainda pensão para Arthur, filho de Anderson, até os 24 anos de idade. Também deverão pagar uma indenização por dano moral de R$ 706 mil para cada um dos seguintes familiares: Arthur, Agatha (esposa de Anderson), Luiara, Mônica e Marinete (filha, viúva e mãe de Marielle, respectivamente). Devem ainda pagar as custas do processo. 

"A sentença se dirige aos acusados aqui presentes. E mais: ela se dirige aos vários 'Ronnies' e vários 'Elcios' que existem por aí no Rio de Janeiro", disse a juíza Lúcia Glioche. "A Justiça por vezes é lenta, é cega, é burra, é injusta, é errada, é torta. Mas ela chega. A Justiça chega mesmo para aqueles que, como os acusados, acham que jamais vão ser atingidos pela justiça. Com toda a dificuldade de ser interpretada e vivida pelas vítimas, a Justiça chega aos culpados e tira deles o bem mais importante depois da vida, que é a liberdade."

Depois da condenação, a irmã da vereadora do Psol e ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, falou com a imprensa ao lado de sua família e da de Anderson.

"O maior legado de Marielle é mostrar que mulheres, pessoas negras e faveladas merecem viver em seus postos. Quando mataram minha irmã, não imaginaram a força com que o país e o mundo reagiriam. Hoje é uma resposta; a justiça começou. Mas o que realmente queríamos era não estar aqui, pois justiça seria impedir que corpos fossem tombados", afirmou. "É necessário acabar com a normalização da violência contra negros, crianças vítimas de balas perdidas e figuras públicas assassinadas. Seguiremos de cabeça erguida por Marielle, Anderson e pelo direito de uma vida digna."

Ronnie Lessa e Élcio Queiroz executaram Marielle Franco e Anderson Gomes no dia 14 de março de 2018. De acordo com o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ), que formulou a acusação, o atentado foi planejado durante três meses, desde o final de 2017.

Os réus, que estão presos desde março de 2019, devem cumprir a pena em regime fechado. Lessa está preso na Complexo Penitenciário de Tremembé, em São Paulo (SP). Seu comparsa, Élcio, está encarcerado no Complexo da Papuda, em Brasília (DF). Ambos depuseram por videoconferência durante o julgamento.

2018

O assassinato brutal de Marielle Franco, que era vereadora no Rio de Janeiro, eleita pelo Psol em 2016, suscitou uma enorme campanha, que perguntava: "Quem matou Marielle?". O movimento tomou as ruas do país, pressionando o poder público carioca a buscar os autores do atentado.

Ao todo, foram cinco delegados afastados na condução das investigações na Delegacia de Homicídios da Polícia Civil do Rio de Janeiro.


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