O antropólogo Piero Leirner afirmou na plataforma X (antigo Twitter) que “Para a Marinha não existe classe trabalhadora. Os civis são um bando de turistas no Brasil, enquanto eles fazem tudo.”
Foto: divulgação
Cena do vídeo
Da redação da Rede Hoje
Um vídeo divulgado pela Marinha do Brasil em suas redes sociais para celebrar o Dia do Marinheiro, comemorado em 13 de dezembro, tem recebido diversas críticas nas plataformas digitais. A peça publicitária, publicada no domingo (1º), apresenta cenas contrastantes: marinheiros enfrentando situações de treinamento militar extenuantes, enquanto civis aparecem aproveitando momentos de lazer, como praias, partidas de futebol e festas.
Na legenda do vídeo, a Marinha destacou: “Ao chegarmos em dezembro, homenageamos os Marinheiros e Fuzileiros, que abdicam de suas famílias e dos momentos de lazer para proteger as riquezas do Brasil no mar”, acompanhada das hashtags #DiaDoMarinheiro e #VemPraMarinha.
Repercussão negativa
O vídeo foi alvo de críticas contundentes. O antropólogo Piero Leirner, por exemplo, afirmou na plataforma X (antigo Twitter): “Para a Marinha não existe classe trabalhadora. Os civis são um bando de turistas no Brasil, enquanto eles fazem tudo.”
Já Raphael Viegas, professor de administração pública da Fundação Getúlio Vargas, questionou os custos e a finalidade do material: “A Marinha do Brasil usou recursos públicos para produzir um vídeo em que os civis curtem a vida enquanto só a Marinha trabalha. Quem autorizou produzir esse vídeo e quanto custou? Queremos saber.”
A deputada estadual Laura Sito (PT-RS) também não poupou críticas: “O vídeo real deveria ser os pensionistas dos militares curtindo a vida com altas pensões, enquanto o povo se ferra no transporte coletivo indo trabalhar. Vergonha!”
O perfil Pensar a História destacou as condições da classe trabalhadora em comparação com os militares: “Qualquer professor, qualquer cobrador de ônibus, qualquer motorista de Uber, qualquer pedreiro, qualquer trabalhador civil desse país tem uma rotina mais estressante e mais perigosa do que essa galera. E ganha muito menos.”
Contexto de cortes orçamentários
A divulgação ocorre em meio ao debate sobre cortes nos gastos das Forças Armadas, anunciados pelo governo federal. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, propôs medidas que incluem o aumento da idade mínima para reserva remunerada de 50 para 55 anos, a limitação da transferência de pensões e a ampliação do desconto para fundos de saúde.
Haddad justificou as mudanças:
“Para as aposentadorias militares, nós vamos promover mais igualdade, com a instituição de uma idade mínima para a reserva e a limitação de transferência de pensões, além de outros ajustes. São mudanças justas e necessárias.”
As medidas, que fazem parte do pacote de ajuste fiscal do governo, desagradaram os militares. No sábado (30), o presidente Lula se reuniu com o ministro da Defesa e comandantes das Forças Armadas para discutir os cortes, que somam R$ 2 bilhões.
A matéria foi originalmente divulgada pelo ICL Notícias.