Participantes de audiência pública também lamentam falta de recursos públicos para garantir a efetiva proteção de mulheres ameaçadas de morte.

O avanço na educação dos homens e a conscientização das mulheres sobre seus direitos foram pontos apontados como necessários para coibir a violência contra a mulher. Foto: Daniel Protzner

Da redação da Rede Hoje

A Lei Maria da Penha, que completou 18 anos, continua sendo um marco na luta contra a violência doméstica no Brasil. Reconhecida internacionalmente, essa legislação foi fundamental para estabelecer um sistema de proteção que inclui medidas protetivas, atendimento especializado e a tipificação de diferentes formas de violência contra a mulher. No entanto, os desafios para sua plena implementação e eficácia permanecem, como ressaltado durante a audiência pública realizada pela Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG).

Lei Federal 11.340, de 2006, mais conhecida como Lei Maria da Penha, foi pioneira ao diferenciar cinco formas de violência: física, psicológica, sexual, patrimonial e moral. Também inovou ao estabelecer procedimentos médicos, policiais e jurídicos integrados de assistência à vítima. O texto ainda garante a possibilidade de afastar a mulher do agressor por meio de medidas protetivas.

A audiência, realizada
nesta terça-feira, 13 de agosto, destacou a importância da conscientização da sociedade sobre a Lei Maria da Penha e a necessidade urgente de garantir recursos públicos para a proteção das mulheres, especialmente aquelas ameaçadas de morte. A deputada Ana Paula Siqueira (Rede), responsável pela solicitação do evento, enfatizou que, apesar dos avanços, ainda há um longo caminho a percorrer para que a lei cumpra plenamente seu papel de proteger as vítimas de violência.

A Lei Maria da Penha foi inovadora ao diferenciar cinco formas de violência – física, psicológica, sexual, patrimonial e moral – e ao criar mecanismos integrados de assistência às vítimas. No entanto, como apontou Anabel Pessôa, do Instituto Maria da Penha, ainda há uma lacuna significativa na educação dos homens para prevenir a reincidência da violência. Ela argumenta que os programas de reeducação dos agressores, previstos na legislação, são cruciais para interromper o ciclo de violência.

A delegada Danúbia Helena Soares Quadros, da Polícia Civil de Minas Gerais, ressaltou a falta de conhecimento das mulheres sobre seus próprios direitos como um obstáculo significativo. Muitas vítimas desconhecem as medidas protetivas disponíveis, o que limita a eficácia da lei. Ela destacou a importância de campanhas educativas e de um maior esforço para informar as mulheres sobre como buscar proteção.

Outro ponto crítico discutido foi a falta de recursos para políticas públicas que promovam a autonomia financeira das mulheres. Edneia Aparecida de Souza, do Circuito Girassol, alertou para o abandono das vítimas após serem levadas a abrigos seguros, ilustrando a vulnerabilidade de mulheres que muitas vezes não possuem sequer a habilidade básica de se locomover pela cidade. A falta de apoio continuado compromete a segurança e a recuperação dessas mulheres.

A ampliação dos recursos públicos foi defendida também pelo subsecretário Matuzail Martins da Cruz, que destacou os programas de prevenção social à criminalidade e a importância da conscientização dos jovens sobre a violência contra a mulher. No entanto, ele apontou que algumas escolas ainda resistem à implementação de programas educativos, o que dificulta a disseminação de informações cruciais para a prevenção da violência.

Violência contra a mulher cresce em todo o Brasil

Dados do Anuário Brasileiro de Segurança Pública, apresentados pela promotora Patrícia Habkouk, apontam o crescimento de todos os tipos de violência contra a mulher em 2023, na comparação com 2022. Em todo o País, houve aumento de 48,7% nos casos de importunação sexual, de 34,5% nos de stalking (perseguição) e de 33,8% nos de violência psicológica.

Os feminicídios tiveram aumento de 0,8% em todo o Brasil. Foram 1.467 vítimas ao longo do ano passado. Desse total, 63,6% eram mulheres negras e 64,3% foram mortas dentro de casa. Em Minas Gerais, foram 183 vítimas de feminicídio, número que representa um crescimento de 4,6% na comparação com o ano anterior.

Em todo o País, foram concedidas 540.255 medidas protetivas de urgência a mulheres vítimas de violência. Esse número representa 81,4% do total de solicitações apresentadas à Justiça. Entre as medidas previstas na Lei Maria da Penha aos agressores, estão afastamento do lar, proibição de contato com a vítima, suspensão do porte de armas e acompanhamento psicossocial, com atendimento em grupo de apoio.

Políticas públicas para as mulheres

As deputadas Ana Paula Siqueira e Bella Gonçalves ressaltaram a necessidade de políticas públicas robustas que criem oportunidades de trabalho para as mulheres vítimas de violência, garantindo sua independência financeira e segurança. Também foi destacado o déficit de abrigos e delegacias especializadas, fundamentais para proteger e apoiar essas mulheres em momentos de extrema vulnerabilidade. A proteção das mulheres passa pela conscientização, recursos adequados e uma rede de apoio eficaz, fatores essenciais para o sucesso da Lei Maria da Penha.


Com informações da Ascom da ALMG

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