Alterações comportamentais e até mesmo o surgimento de sintomas físicos são algumas das respostas das crianças para o processo de luto
Da redação da Rede Hoje
Dados publicados pela Associação Nacional dos Registradores de Pessoas Naturais, a Arpen-Brasil, apontam que ao menos 12 mil crianças brasileiras se tornaram órfãs de um dos pais por causa da pandemia de Covid-19. Se para os adultos já é difícil lidar com o momento, para os pequenos a situação pode ser ainda mais delicada. Tiago Mendes, psicólogo e professor de psicologia da Faculdade Pitágoras, explica que apenas a partir da idade pré-escolar a criança tem uma compreensão mais realista da situação. "Entre 7 e 8 anos é o período que a maioria das crianças parece compreender a morte de uma forma mais próxima à realidade. Antes disso, a criança costuma acreditar que a morte seja um acontecimento reversível, pois não possuem noção da realidade ou do conceito de morte".
O psicólogo destaca que é necessário ficar atento aos sinais que a criança emite. "Em primeiro lugar, é importante verificar a intensidade dos sintomas apresentados pela criança. Geralmente, ela pode apresentar sentimentos de desamparo e impotência, que são resultados de uma insegurança que prevalece diante da perda de seu objeto de amor". O professor diz que é comum os pequenos apresentarem mudanças comportamentais e até mesmo surgirem sintomas físicos. "Pode ocorrer a perda de interesse, isolamento social, dificuldade de expressar as emoções, reações hostis em relação aos outros, sentimento de culpa, sintomas de depressão e ansiedade, bem como alterações somáticas como queda do sistema imunológico, insônia, dores e dermatites".
A pesquisa da Arpen-Brasil levantou que 25,6% das crianças de até seis anos, que perderam um dos pais na pandemia, não tinham completado um ano. E a perda de um ente querido durante grandes tragédias, como uma pandemia, pode ser ainda mais difícil de assimilar. "Nos dias atuais, discute-se muito sobre as perdas em massa em curto espaço de tempo e as dificuldades para a realização de rituais de despedida entre pessoas na iminência de morte e seus familiares, bem como os rituais funerários. É preciso a aceitação da realidade da perda, pois em alguns casos pode surgir a sensação de que a morte não ocorreu. É importante reconhecer a perda", diz Tiago Mendes.
O apoio dos adultos é fundamental para que a criança consiga lidar com a situação, conforme explica o profissional da saúde. "O modo como a criança vivencia o processo de luto depende do auxílio que o adulto poderá fornecer diante da situação da perda. Deve-se sempre informar a criança sobre o ocorrido, usando uma linguagem adequada. É importante promover a comunicação aberta e segura dentro da família, informando a criança sobre o que aconteceu e garantindo que ela terá o tempo necessário para elaborar o luto. A criança precisa de um ouvinte compreensivo para assegurar sua proteção toda vez que expressar saudade, tristeza ou culpa", conclui Tiago Mendes.