Cenário. Fragmentos do cotidiano patrocinense permitem mostrar um pouco como era a vida, o cenário patrocinense, em uma época distante. O ano de 1934 é rico de informações. Na sua maioria, ainda desconhecidas. O domínio dos Correios, a liderança incontestável do Dom Lustosa e o papel importante de nomes da história patrocinense.
SEMPRE CHEGAVA HOLANDÊS – Direto da Holanda, em janeiro/1934, Padre Venâncio Hulselmans e Irmão Huberto van Ruiten passaram a residir no Ginásio (escrevia Gymnasio) Dom Lustosa. Com isso, mais holandeses no Município. Estava configurada a invasão holandesa em Patrocínio (invasão cultural e religiosa).
ERA MODA... – A comunidade holandesa de Patrocínio (e seus admiradores), afirmava, que segundo o censo na Holanda, todos os holandeses com mais de 20 anos de idade, eram católicos. Então, está explicado o grande número de padres holandeses.
CARNAVAL EM 1934 – “Serão prohibidos os gestos, canções e palavras obcenas, ou que envolvam desrespeito a quaesquer autoridades, classes e instituições...” Assim expressava o aviso da Polícia do Estado. Bom tempo...
ELEVADO NÍVEL DE JURADOS – Dentre os sorteados, no Júri de fevereiro, estavam Massilon Machado (poeta), Mário Alves do Nascimento (prefeito em 1963), José Luiz da Silva (um dos fundadores do CAP), Octavio de Brito (farmacêutico renomado), Secundino de Faria Tavares (pai da famosa família), Manoel Nunes (comerciante), Cândido Duca (farmacêutico), Luciano Furtado (advogado), e, outros que deram credibilidade ao Tribunal.
GUERRA RELIGIOSA... – A criação do Ginásio Dom Lustosa, em 1927, foi uma reação da Igreja Católica (devido) à presença da Igreja Presbiteriana, Instituto Bíblico sobretudo, em Patrocínio. Em 1934, o jornal “O COMMÉRCIO” publicou: “O pae catholico não deve e, em consciência, não pode colocar filhos em collegios protestantes, espíritas e anti-catholicos.” Ainda bem que essa época passou... e não deixou saudade.
JUVENTUDE DE CELEBRIDADES – Michel Wadhy (médico e fundador da Academia Patrocinense de Letras, em 1982) já publicava poesias em 1934. Nesse mesmo ano, o “menorista” Almir Marques viajava pelo trem para Belo Horizonte, rumo ao Seminário (Almir foi o primeiro e único bispo patrocinense). E o Cinema Odeon (Largo do Rosário) era o ponto de encontro dos enamorados.
INCRÍVEL: 300 MIL CARTAS CIRCULANDO – A Agência Postal e Telegráfica de Patrocínio publicou o movimento dos correios em 1933. Foram expedidas quase 95 mil cartas (só cartas “simples” foram 84.800). E recebidas 105 mil cartas (exatamente 95.395 cartinhas). Nisso é bom destacar que mais de 15 mil cartas eram registradas (recebidas + expedidas). E em trânsito (sem ser de Patrocínio), mais de 83 mil (só cartas simples totalizaram 79.084). Somando a tudo, foram mais de 6.000 malas postais. Para um tempo que não existia telefone interurbano (telefone ligando cidades), o correio dominou amplamente as comunicações entre as pessoas.
MOVIMENTO DE TELEGRAMAS... – Em 1933, foram taxados 5.277 telegramas com quase 80 mil palavras. E os telegramas locais chegaram a 11 mil, dentre “transmitidos” e “recebidos”. Cartas e telegramas, verdadeiro show postal, fizeram parte essencial da vida nos anos 30 e 40.
ESPETACULAR: ALUNOS DO DOM LUSTOSA APROVADOS – Todos os alunos do Ginásio Dom Lustosa que se submeteram a vestibular em Belo Horizonte e Rio de Janeiro, tiveram êxito. Medicina, Direito, Engenharia, Farmácia e Odontologia foram os cursos escolhidos. Esse fato é mais uma prova da seriedade educacional dos padres holandeses (naquela época havia poucas escolas superiores e a disputa bastante intensa). A escola era a melhor do Alto Paranaíba-Noroeste. E uma das duas melhores de todo o Triângulo (a outra escola era o Diocesano de Uberaba).
VINHO PATROCINENSE “BOMBOU”... – O Vinho Generoso, fabricado pelo italiano-patrocinense Adolpho Pieruccetti, de pura uva, recebeu medalha de prata na Exposição do Centenário. Além de ter recebido um Diploma de Honra ao Mérito, do Instituto Agrícola Brasileiro.
JARDINEIRA... – Ligando Patrocínio a Coromandel, havia a Autoviação do Antônio Brügger. Aos sábados, de Coromandel para Patrocínio. Às segundas-feiras, o retorno, às 7h da manhã. Saída: Largo Santa Luzia.
PEQUENAS E GRANDES NOTÍCIAS – Em 1934/35/36, foi intensa a campanha para a construção da (atual) Igreja Matriz Nossa Senhora do Patrocínio. Professor Franklin Botelho já encantava os patrocinenses dirigindo excelente orquestra, exibindo-se na sede da União Operária (recém-inaugurada). Médico Vicente Soares destacava-se com as crônicas semanais (depois foi prefeito e cassado por volta de 1940). Operários da cidade comemoraram o dia 1º de maio (de 1934) com alvorada, música, passeata e “salvas”. Prefeito Honório de Abreu viajava sempre para BH, pelo trem. Éneas Aguiar (prefeito em 1959/62) regressou do Rio de Janeiro, onde esteve cuidando de sua saúde, também pelo trem de BH.
POR FIM – Gratidão ao semanário “O Commércio” pela ajuda indispensável nessa viagem pela Patrocínio de outrora. Desta vez, a visita foi à década de trinta.
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