Blair com Picum e Véio à sua esquerda. E os fenômenos Múcio (no centro, agachado) e Rondes (agachado, camisa 10).


Futebol. É o melhor “circo” para o brasileiro. O (nosso) glorioso Clube Atlético Patrocinense-CAP é a maior emoção/paixão da cidade. Histórias e estórias sobre esse esporte e os seus astros tornam-se inesquecíveis. Com a ajuda do ex-craque Blair (goleiro dos anos 40/50/60), desconhecidos fatos, envolvendo a bola, em Patrocínio, são interessantes, quanto à revelação. O torcedor que faleceu no Estádio Júlio Aguiar, após “frangaço” do goleiro, e, o CAP como a “causa mortis” do maior clube amador rangeliano, em todos os tempos.

QUE “FRANGO”! – O ano é 1963, numa tarde dominical, um ano depois da inauguração do Estádio Júlio Aguiar. A equipe considerada a academia do futebol patrocinense exibia-se, em jogo amistoso, contra a URT, de Patos de Minas. O Flamengo, comandado por Véio do Didino, escalado com craques memoráveis como Peroba, Calau, Custódio, Carmo, Setenta e Blair no gol. Nesse cenário aconteceu o “chester”, diriam as gerações atuais.

COMO FOI A “OBRA DE PENAS” – A narrativa é de quem “comeu o frango”. Ei-la: “... estava no gol do Flamengo, no Júlio Aguiar. Jogador do time adversário lançou, do meio do campo, bola rasteira e lenta em direção ao meu gol. Eu poderia tê-la parado com os pés, todavia, resolvi “snobar” e saltei acrobaticamente no canto direito. Ao tocar a bola, ela pareceu-me estar ensaboada. E, ao tentar segurá-la, eu a comprimi e lancei nos fundos da rede.”

E O TORCEDORES? – O Estádio lotado, perplexo, emudeceu. Imperou o silêncio. Continua o goleiro dessa tragédia: “... não acreditava no acontecido. Fiquei deveras envergonhado e deprimido. À noite, não sai de casa, na Praça Honorato Borges…

ATÉ O DELEGADO DE POLÍCIA ENTROU EM AÇÃO – Nessa mesma noite de domingo, o delegado Geraldo Barbosa Naves, sisudo, visitou o goleiro e o convocou para segunda-feira comparecer na Delegacia. Pois, o famoso goleiro seria indiciado pelo art. 121, do Código Penal. Isso porque o “frango” fora a causa da morte de um torcedor na arquibancada, nesse memorável clássico.

GOLEIRO NO VELÓRIO – “... o torcedor realmente morrera no Estádio. Fui aos seus funerais. Depois, rumei-me para a Delegacia, quando fui recebido pelo escrivão de polícia Joaquim Assis, o locutor que narrou o 'meu frango' (pela Difusora), e, também meu companheiro de pescarias.”, continua a sua narrativa.

FINAL FELIZ! – “Dentro da Delegacia, tomei água Serra Negra e um cafezinho e fui obrigado, como sentença prévia, prometer nunca mais 'pegar frangos'”. Isso na verdade aconteceu, diante do Delegado Geraldo e do escrivão Assis Filho, ambos em gargalhadas. Era “brincadeira” dos dois policiais. Embora o falecimento fosse verdade, mas foi por outra causa natural.

QUEM É O GOLEIRO – Titular da Seleção Mineira Juvenil (hoje, juniores), em 1949. Titular da Seleção Mineira do Interior, em 1950, quando atuou ao lado de futuros craques nacionais, como Telê Santana. Titular do CAP, Flamengo patrocinense, URT, Paranaíba (Carmo do Paranaíba) e profissional do Independente (Uberaba), no período de 1940 a 1965. Esse é Blair Augusto Damasceno. Blair é um dos três genuínos goleiros históricos de Patrocínio. Os outros dois são Dedão e Frazão (Perereca). Baim (anos 30/40) também poderia ser destacado.

O FIM DE BLAIR – Aos 85 anos de idade, em 23 de janeiro de 2018, faleceu em Uberaba, onde residia desde os anos 70, Blair. Além do belo futebol, era agrônomo. Em Patrocínio, foi também funcionário do Banco do Brasil, quando a agência era na Rua Presidente Vargas e, depois, na Praça Santa Luzia, esquina com Rua Coronel João Cândido de Aguiar. No período 1941/1944, fez o primário na Escola Honorato Borges e, em sequência o Ginásio Dom Lustosa. Amigo muito próximo de Múcio, o atleta vinculado a Patrocínio de maior projeção até hoje. Em 1965, Blair Damasceno encerrou a sua carreira no futebol. Isso em amistoso, Flamengo versus Paranaíba, quando jogou 15 minutos para cada clube, no Estádio Júlio Aguiar.

CARISMÁTICO – Se nos anos 90, no Brasil, predominou a expressão “Vai que é sua, Taffarel”, nos anos 50, parte de 60, em Patrocínio popularizou, inclusive entre as crianças, a frase “Seguraaa, Blair”. Assim, foi esse craque: educado, palavra mansa, inteligente e elegante. E uma das principais fontes de informações e fotografias, referentes às décadas 40/50/60 deste autor (mantidas em arquivo pessoal).

ORIGEM FORTE DO CAP – Em 1963, Nazir Felix (Posto São Cristovão) profissionalizou o CAP. Flamengo de Patrocínio e Mamoré foram as fontes principais de craques. Dedão, Gato, Calau, Macalé, Barôfo, Totonho, Romeuzinho e Dizinho, dentre outros, vieram do Flamengo. Edward, Aredino e Jovelino do Mamoré. Gulinha do CIT (Araxá). A Associação Atlética Flamengo, nascida em 1949, sucumbiu em 1964/65, quando foi praticamente desmontada. O Flamengo era a paixão do Véio do Didino. Desencantado, segundo Blair, Véio encerrou as atividades rubro-negras. Mas, fundou o Raposão, uma equipe de “masters” (veteranos), que dura desde então.

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