Esta foto é de 1918, portanto, duas décadas depois da época que Eustáquio Amaral registra nesta crônica. Crédito: Acervo do Museu Hugo Machado da Silveira
História. É conhecê-la sempre. Além da cultura, é encantador saber a origem de tudo. Tratando-se da sagrada terra natal é mais cativante ainda. Patrocínio como município, mas antes de ser cidade, é uma página pouco estudada. Daí, um passeio por 1855 é bom para a alma do patrocinense apaixonado. A população, as comarcas e um pouco de cada vila da região dá rápida ideia de como era Patrocínio e o Triângulo, no meio temporal da existência do Império Brasileiro.
A COMARCA – Na província de Minas Gerais eram apenas 18 comarcas. A Comarca do Paranaíba era composta por dois municípios. Um, mais histórico, mais primordial: Araxá, com 16.000 habitantes. O outro, maior territorialmente, mais populoso, de posição mais estratégica: Patrocínio, com 37.000 habitantes. Portanto, mais do dobro do que o tamanho e a população araxaense.
COMO PATROCÍNIO SE APRESENTAVA – O município, formado entre as nascentes do Rio Paranaíba e do Rio das Velhas, constituído principalmente por campos, pecuária, restrita agricultura e garimpos de diamantes. É recomendável lembrar que nessa época, em 1855, o território patrocinense abrangia os atuais municípios de Patos de Minas, Coromandel, Monte Carmelo, Estrela do Sul, Araguari e Serra do Salitre.
POR ISSO, MUNICÍPIO DIAMANTINO – O distrito de Bagagem (depois, Estrela do Sul), em 1853, pertencia ao município de Patrocínio. Nesse ano, foi descoberto por uma escrava, o mais famoso diamante brasileiro, o “Estrela do Sul”, com 261,24 quilates. Segundo o autor J. J. von Tschudi, no livro “A Província Brasileira de Minas Gerais”, o maior diamante registrado no Brasil, o “Presidente Vargas”, de 726,6 quilates foi encontrado em agosto/1938, no Rio Santo Antônio do Bonito, entre Coromandel, Patrocínio e Patos de Minas. Porém, exatamente no município de Coromandel, que havia se emancipado de Patrocínio (1923), tinha apenas quinze anos (1938).
FUNDIÇÃO DE FERRO – Em 1855, MG tinha 97 pequenas fábricas de ferro. Acredite, uma em Patrocínio. As demais nos outros doze municípios produtores de ferro, tais como Mariana, Diamantina e Serro. No Triângulo, Araxá foi o próximo município a ter fundição de ferro, todavia apenas nove anos depois (1864).
AINDA A FORMAÇÃO DA COMARCA – Do lado município de Patrocínio, na Comarca do Paranaíba, havia três freguesias (distritos, hoje): Santo Antônio dos Patos, a doze léguas a nordeste de Patrocínio, com 7 mil habitantes, Santana da Barra do Rio das Velhas (hoje, Indianópolis), a 16 léguas de PTC, com seis mil habitantes, e, Bagagem (Estrela do Sul), a 15 léguas a noroeste de PTC. Bagagem já tinha população igual à vila de Patrocínio: 10 mil hab. Por isso, emancipou-se logo (1856). Légua é medida da época, equivalente a 6km, mais ou menos.
O OUTRO LADO DA COMARCA – A Vila de Araxá, fundada no fim do século XVIII (1791), mas como município em 1833, especializou-se no tabaco, tecido grosseiro de algodão e queijo. Sua população em 1855 aproximava de 14 mil habitantes. E só tinha uma freguesia (distrito): São Francisco das Chagas do Campo Grande, com pequena pecuária, fabricação de queijos e somente 2 mil habitantes. Hoje, é o município de Rio Paranaíba, emancipado de Araxá em 1848.
A IMPORTÂNCIA PATROCINENSE EM MINAS – Em 1855, havia a Guarda Nacional, onde todo cidadão entre 18 e 60 anos, e com uma renda mínima de 100 mil réis, era obrigado a servi-la. E existia também o Corpo Policial, os militares regulares, responsável pelo policiamento. A província de Minas Gerais era dividida em 18 comarcas (Patrocínio era uma delas), 52 municípios (Patrocínio era um deles) e 200 freguesias (Patrocínio tinha três).
ÚLTIMO SINAL QUE PTC FOI GOIANO – A diocese de Goiás contava com onze freguesias (distritos) nos municípios de Araxá, Uberaba, Desemboque e Patrocínio. Isso ainda era herança de quando Triângulo pertencera a Província de Goiás (até 1816).
FONTE – “A Província Brasileira de Minas Gerais”, dos autores Halfed e Von Tschudi. Revisão e tradução do excelente economista Roberto Martins, da UFMG e Fundação João Pinheiro.
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