• Já li que é o povo quem faz a língua. Concordo e discordo, ao mesmo tempo. Darei um exemplo para o que acabei de escrever. De tanto tempo que o povo usou a palavra “deletar”, que veio de “to deleat”, os dicionários resolveram adotá-la oficialmente. Mas, podem ter a certeza de que expressões como “Nóis foi” jamais receberá o abono dos gramáticos. Acho que me fiz entender, não?

    Um amigo me perguntou se fui “no” show de Paul McCartney. Eu respondi que, infelizmente, não fui “ao” show do astro. Os dicionários de regências nos ensinam que quem vai vai a algum lugar. Por essa razão, ninguém vai “no, na, nos, nas”.

  • Ninguém vai encontrar em livros de Machado de Assis, o maior escritor brasileiro de todos os séculos, coisas como “fui no, menas, o povo foram, gratuíto”, etc.

  • Um cidadão me disse que é difícil falar comigo, pois ele tem medo de errar. Eu lhe respondi que não tenho um papel colado na testa chamando a atenção para possíveis erros. Na minha adolescência, li as obras completas de Machado de Assis, José de Alencar e Carlos Drummond de Andrade. Nossa memória é uma câmera fotográfica. As frases e palavras bem escritas ficam gravadas em nossa mente. Então, fica aqui minha sugestão. Façam o que fiz e aprenderão a escrever corretamente.

  • Na semana passada, tive alguns minutos de bobeira e assisti a um programa no SporTV em que apareceu um ex-jogador que, em um passe de mágica, tornou-se comentarista. Cometer erros numa roda de boteco é aceitável, mas, num canal de televisão, é imperdoável. Ele tem o costume de dizer que certo craque “róba” a bola com perfeição. Na segunda, outra pérola dele: o árbitro “interviu” na jogada. Esse verbo conjuga-se como “vir”: eu vim, tu vieste, ele veio. Logo, eu intervim, tu intervieste, ele interveio. Como na emissora em que ele trabalha não há um diretor que tenha no mínimo ensino médio, ele vai errar enquanto lá estiver.

  • Pessoas entrevistadas que trabalham na área econômica dizem “subzídio”, em vez de “subcídio”. E vida que segue.

  • Quem diz “há tempos atrás” comete algum deslize linguístico? Sim, pois temos aqui uma redundância. No exemplo, o verbo “haver” já indica ação no passado. Então, temos duas saídas: Ele saiu há tempos / Ele saiu tempos atrás. Simples, não?

  • Quase tenho um infarto quando leio coisas como “Isso não tem nada haver”. O coitadinho do segundo verbo aqui entrou de gaiato. Corrija-se para “Isso não tem nada a ver” ou “Isso nada tem a ver”.

  • Outro comentarista da ex-poderosa falou em “Esse campeonato de 2023...”. Referindo-se ao ano em curso, o pronome correto é “Este”

  • Ela se sentou entre eu e ele”. Algum problema? Pelo menos linguisticamente há. Depois da preposição “entre” só se pode usar um pronome oblíquo. Portanto, “Ela se sentou entre mim e ele”.


Prof. Júlio César Resende é Pós-graduado em línguas portuguesa e inglesa


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