Bem ali na nova avenida do Catiguá, pouco acima do supermercado Bretas, tem uma pequena cruz — na verdade, já quase posso dizer —tinha…
Sabe-se que estas cruzes, é um símbolo católico/cristão, encontrados aí longos das estradas indicando que alguém perdeu a vida naquele local. Quase sempre vítimas de acidentes. E, tacitamente, passa a funcionar também como alerta aos que passam pelo local. E, por instantes, elas refrescam a memória dos “ velozes e furiosos” sobre da finitude da vida…
Geralmente, o nome da pessoa que partiu para a eternidade, está com letras legíveis no dorso da cruz… Não é o caso da Cruzinha da nova avenida do Catiguá. Ela é anônima. Há muito, o nome que havia numa placa branca, apagou-se. Não existe mais… Tento me lembrar de alguma morte ocorrida por ali, a memória não me ajuda..( Na mesma avenida, anexo a Matinha, há uma outra cruz. Mas lá está o nome da pessoa e a data do ocorrido)
Há anos passei por ali, dirigindo meu olhar reverente a ela. Ela vinha resistindo ao tempo. Teve um dia que alguém deixou algumas florzinhas. Não sei dizer se foi um parente…
Até que, com as obras da nova Avenida, a construção dos novos passeio, ela foi removida, e vai sendo descartada..
O que me chama muito a atenção, é que ela não foi removida bruscamente. Tive a felicidade de registrar, três momentos que duraram semanas entre um e outro.
Primeiramente eles arrancaram ela, colocaram-na em de pé junto a uma cerca.
Agora ela está atirada de qualquer maneira num terreno baldio ao lado e a placa em branco alguns metros de distância. Penso que nenhum familiar vai reivindicar a sua reposição. Na prefeitura, ninguém fará a sua reconstituição.
Não é somente uma cruzinha de madeira. Existiu uma pessoa, teve um ser humano por trás dela. Nem a família parece lembrar mais … Até a pouco, lá estava ela resistente, mesmo sem o nome; mas ainda de pé…Agora jogada de lado.
Daqui a pouco… pó puro.
Quem a gente acha mesmo que somos?
Como esta cruzinha anônima me ensina sobre a vida e tenho certeza que você também que me lê.
E sabe pra quem, aproveito e ofereço também esta reflexão? Para a nossa Deputada Federal Greyce Elias e para o nosso Prefeito Deiro Marra. Véspera de eleições, ela, recentemente, fez uma declaração polêmica sobre o prefeito; ele por sua vez, veio na fumaça e se defendeu a altura. Ou seja vem aí uma eleição, não de propostas, projetos de governos para escolhermos o melhor, vem aí uma eleição de ataques pessoais…Não merecemos. Por mim, podem parar por ai mesmo...
Olhemos todos para a cruzinha anônima da Avenida do Catiguá. Ela iguala grandes e pequenos.
Não poderia terminar sem pinçar um texto de Sérgio Cursino:
“ A GENTE VAI EMBORA e fica tudo aí,
os planos a longo prazo e as tarefas de casa, as dívidas com o banco, as parcelas do carro novo que a gente comprou pra ter status.
A GENTE VAI EMBORA sem sequer guardar as comidas na geladeira, tudo apodrece, a roupa fica no varal.
A GENTE VAI EMBORA, se dissolve e some toda a importância que pensávamos que tínhamos, a vida continua, as pessoas superam e seguem suas rotinas normalmente.
A GENTE VAI EMBORA as brigas, as grosserias, a impaciência, serviram para nos afastar de quem nos trazia felicidade e amor.
A GENTE VAI EMBORA e todos os grandes problemas que achávamos que tínhamos se transformam em um imenso vazio, não existem problemas.
Os problemas moram dentro de nós.
As coisas têm a energia que colocamos nelas e exercem em nós a influência que permitimos.
A GENTE VAI EMBORA e o mundo continua caótico, como se a nossa presença ou ausência não fizesse a menor diferença.
Na verdade, não faz.
Somos pequenos, porém, prepotentes. Vivemos nos esquecendo de que a morte anda sempre à espreita.
A GENTE VAI EMBORA, pois é.
É bem assim: Piscou, a vida se vai.. .
O cachorro é doado e se apega aos novos donos.
Os viúvos se casam novamente, andam de mãos dadas e vão ao cinema.
A GENTE VAI EMBORA e somos rapidamente substituídos no cargo que ocupávamos na empresa.
As coisas que sequer emprestávamos são doadas, algumas jogadas fora.
Quando menos se espera, A GENTE VAI EMBORA. Aliás, quem espera morrer?
Se a gente esperasse pela morte, talvez a gente vivesse melhor.
Talvez a gente colocasse nossa melhor roupa hoje, talvez a gente comesse a sobremesa antes do almoço.
Talvez a gente esperasse menos dos outros,
Se a gente esperasse pela morte, talvez perdoasse mais, risse mais, saísse à tarde para ver o mar, talvez a gente quisesse mais tempo e menos dinheiro.
Quem sabe, a gente entendesse que não vale a pena se entristecer com as coisas banais,
ouvisse mais música e dançasse mesmo sem saber.
O tempo voa.
A partir do momento que a gente nasce,
começa a viagem veloz com destino ao fim – e ainda há aqueles que vivem com pressa!
Sem se dar o presente de reparar que cada dia a mais é um dia a menos, porque A GENTE VAI EMBORA o tempo todo, aos poucos e um pouco mais a cada segundo que passa.
O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO COM O POUCO TEMPO que lhe resta?!