Ginásio Dom Lustosa: ontem e hoje. Fotos: acervo municipal, Casa da Cultura
Fevereiro. É um bom mês para viajar, pela nave do tempo, a Patrocínio de outrora. Uma Patrocínio histórica. Uma Patrocínio célebre. Dia 19 de fevereiro, é o aniversário de Rondes Machado, um craque patrocinense na bola e na intelectualidade. Vítima de Covid, faleceu no Rio de Janeiro, em 06/02/2022, bem próximo de completar 88 anos de idade. Já no dia 15 de fevereiro é o aniversário da mais emblemática escola de Patrocínio: Ginásio Dom Lustosa. É quase um século de existência (inaugurada em 15/02/1927). O livro “Dom Lustosa, Seus Tempos Áureos”, escrito pela professora Olga Barbosa, sintetiza um pouco a vida do educandário. A mestre Olga vivenciou a escola Dom Lustosa, década de 40 à década de 80, por 38 anos. Inclusive, já na fase sob a gestão estadual, como diretora (1972). Rondes e Olga, também são duas lendas. Duas fontes de conhecimento imensurável. Deles, belos capítulos do memorável Dom Lustosa. Anos 30, 40 e 50.
FORMATURAS DE PREFEITOS – Paulo Constantino (irmão do empresário Nenê Constantino) e Sebastião Silvério de Faria foram dois, dentre os 27 formandos/1951, que foram prefeitos posteriormente. Paulo Constantino, patrocinense, exerceu dois mandatos municipais em Presidente Prudente–SP (1977-1981 e 1989-1992). Já o patense, Tiãozinho Silvério, foi prefeito de sua Patos de Minas (1971-1973). Incluindo os demais 25 bacharelandos, destaca-se o orador oficial, Rondes Machado, dessa turma de 1951. Como o Dom Lustosa recebia anualmente alunos de toda a região (e até de cidades distantes, como Córrego Danta e Paracatu), em 1950 outro prefeito de Patos de Minas, foi um dos que concluíram o ginásio (hoje, parte do ensino Fundamental): Dácio Pereira da Fonseca (prefeito em 1977-1983).
PRESENÇAS NOTÁVEIS E INESQUECÍVEIS – No dia 7 de dezembro de 1951 (sexta-feira), os diplomas foram entregues no salão nobre do (então) Ginásio Dom Lustosa. O paraninfo foi o Revmo. Monsenhor Almir Marques (o único bispo patrocinense 1957/1984). Os homenageados foram o padre Boaventura Jorna (diretor), padre Donato Mennen, padre Estevão Koopmans, prof. Modesto Marques e professora senhorita (expressão do convite) Olga Barbosa (com os seus 28 anos de idade). O último homenageado foi o prefeito Dr. Amir Amaral (em seu glorioso segundo mandato), a maior liderança municipal, naquele tempo.
BACHARELANDOS DE DIVERSAS CIDADES – Nessa época (1951), a escola tinha internato, onde os alunos residiam e estudavam. Na relação dos 27 bacharelandos havia estudantes de Patos de Minas, Paracatu, Coromandel, Guimarânia, Ibiá, Córrego Danta, Monte Carmelo e Serra do Salitre. E a maioria de Patrocínio, tais como Hermógenes Carneiro, Dark Araújo, Wilson Miguel Rebehy, Paulo Constantino e Rondes Machado. Esses dois começaram a jogar futebol pelo (alviceleste) Dom Lustosa. Rondes, para a velha guarda, foi o mais brilhante “camisa 10”, genuinamente patrocinense.
HOJE, NENHUMA ESCOLA TEM... – Segundo a narrativa (que ela presenciou) de Olga Barbosa, havia cinema. Nas noites de domingo e feriados, no salão de festas, Padre Caprázio exibia filmes que passavam nos cinemas da cidade. Mas com censura prévia para os estudantes. Alunos do Dom Lustosa e alunas da Escola Normal eram os convidados. No andar superior, havia capela, onde eram celebradas diariamente a Santa Missa, sempre com a presença dos alunos internos (o número desses alunos chegou a 160). O Grêmio São Luiz de Gonzaga era o ambiente literário (sessões no auditório), onde os alunos iniciavam os seus dons oratórios e de cultura. Tinha jornal chamado de “O Ideal”, impresso pelo padre Filiberto, na gráfica própria do educandário. O almoço, jantar e café eram fartos, porém possuíam horário determinado. Havia até padaria para o preparo dos pães e quitandas. Isso tudo na escola...! Acredite!
FUTEBOL, FRUTAS, PÁSSAROS E LABORATÓRIO... – Existia o pomar, com diversas frutas, sob o cuidado de severo padre zelador. Havia também um viveiro, com diversidade de pássaros (arara, mutum, etc.) sob a tutela de padre Caprázio. Um cenário encantador. Entre as aves, uma seriema, com a sua perna de pau! Sim. O padre “reconstruiu” cirurgicamente uma de suas pernas, atingida por pedra, atirada em outro local da cidade. Futebol, basquete e atletismo eram praticados com técnica e disciplina. O campo de futebol do Ginásio era a melhor alternativa da cidade para o Estádio Quincas Borges. Nas manhãs de domingo, principalmente, os jogos atraíam inúmeros torcedores. Além, da existência de tardes ou manhãs esportivas, inclusive sábado, “sempre abrilhantadas pela presença simpática das alunas da Escola Normal, o que era uma alegria a mais”. Mesmo com a vigilância tutelar das freiras, escreve profª. Olga, em seu pequeno livro. Nesse cenário poético nasceram até casamentos... E o laboratório do Pe. Caprázio, com suas experiências, atração à parte de toda a cidade.
EDUCAÇÃO E CULTURA: PRIORIDADE – Exigia-se dos alunos desempenho escolar. Nisso até trabalhos práticos de português, latim, francês, matemática, desenho e manuais. Teatro também estava na agenda escolar. Peças do prof. Franklin Botelho como “ A Incrível Genoveva”, “Os Alemães Vêm Aí”, e, “... Se os Caipiras São Assim”; e, peça religiosa como “São Francisco de Assis”, e, outras, quando exibidas, mostravam o talento artístico de diversos estudantes.
ESCOLA COM CHÁCARA? – Verdade. Piscina com água pura corrente, trampolim e muito verde (hoje, seria atrás do Supermercado Bretas). Legumes, verduras, o leite e mais frutas. Campo de futebol, com grama sempre bem cuidada. Assim, era a “Chácara dos Padres”, nos anos 40 e 50. As aulas de educação física e alguns jogos, envolvendo o Dom Lustosa, eram praticados nesse (então) sagrado local, de pureza ambiental exemplar.
PROFESSORES GÊNIOS – Juiz Cândido Martins de Oliveira Júnior, mestre de Português (poeta, romancista e membro da Academia Mineira de Letras). Aguinaldo Sérvulo Botelho (anos 50, transferiu-se para a UFMG). Promotor Pedro Anísio (literato, que melhor escreveu sobre a Escola, em 1932). Bruno Graenflinger (engenheiro e arquiteto). Vicente Soares (médico, depois prefeito). Prof. Franklin Botelho (Francês, Geografia e Música). Isso além de uma verdadeira Seleção Holandesa alaranjada (mais de 20 padres holandeses, mestres em Química, Física, Desenho, Latim, Inglês, Francês, Esperanto, Religião, Ciências,...). Não se esquecendo, que, Pe. Caprázio foi discípulo de um Prêmio Nobel de Química.
POR FIM, OS PRIMEIROS BACHARÉIS EM 1930 – Aguinaldo Botelho (UFMG), José Faria Tavares (senador da República e UFMG), Carlos Faria Tavares (deputado), Deiró Eunápio Borges (advogado, promotor de justiça e lendário escritor patense), Rui Elói dos Santos (irmão de Sebastião Elói) e Olavo de Paula Arantes (político).
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