Folclore. O de Patrocínio é rico. E inesquecível para algumas gerações. Livros, crônicas e a história oral registram personagens populares que marcaram o seu tempo. Com simplicidade, sem nenhuma publicidade, sem envolvimento com dinheiro, tornaram-se a alegria da cidade. Como exemplo, o palco da vida está instalado nos anos dourados. Com a pureza que a natureza os proporcionou, desfilam o comportamento do maior vaqueiro após sua ‘‘pinguinha’’, o pipoqueiro ‘‘trapalhão’’ (os “trapalhões” eram “Zé Pipoqueiro” e seus amigos “Biscoito” e “Butirda”), o discurso ‘‘imoral’’ de Chico Cabo, com os seus olhos azuis, o negro ‘‘mais bonito’’ dessa terra, o ‘‘poeta’’ Leitão e mais gente. Encantaram. E se eternizaram.
*** ENTRE O BOI E A CACHAÇA... - Para muitos, o maior vaqueiro de Patrocínio. Peão de primeira classe, negro forte, 1,70m de altura e plena humildade. Residiu na Rua Artur Botelho, ao lado da primeira Rodoviária. Ganhava pouco dinheiro; trabalhava mais por comida e pinga. Barretos (SP) era o seu destino mais frequente. Cavalgando ou a pé, conduzia o gado. Trabalhou para os fazendeiros Cel. João Cândido de Aguiar, e depois, Mário Alves do Nascimento. Entre uma viagem e outra, a ‘‘malvada’’ era a sua companheira. Assim, em suas andanças pela cidade, após beber algumas doses, o alegre Melito dizia, ao ver uma linda mulher, mantendo o respeito: ‘‘... cheirosa... orgulhosa... gostosa... deixa istá... sô preto... feioso...’’ E ia seguindo sua cambaleada caminhada, dando saborosas gargalhadas. Que ainda soam pelos lugares que passou. Melito, pai do craque de futebol Melitinho, ainda foi utilizado pelas mãos de Deus. Numa noite, em um parque de diversões, salvou uma criança, que caíra da roda gigante, segurando-a no ar com seus musculosos braços. Faleceu há quase 60 anos.
*** SE VIVO FOSSE, HOJE SERIA UM ‘‘INDECENTE’’... - Cor clara, barba acentuada, altura de 1,73m, talvez 70kg de peso, olhos azuis como o infinito, velho e desgastado chapéu Ramezzoni na cabeça, calça e paletó de brim remendado. Assim, era o perfil de Chico Cabo, morador na região do Dom Lustosa. Imagem semelhante ao personagem pobre metido a rico do antigo programa ‘‘A Praça é Nossa’’. Mas ele não tolerava ser chamado de ANU. Respondia alto e com bom tom, com palavras impublicáveis (e ainda hoje, ditas com bastante restrição), envolvendo a mãe de quem o chamava de Anu. Algumas vezes, ‘‘jogava’’ pedras em direção aos seus desafetos. A sua região do cotidiano era a Rua Cassimiro Santos, Praça da Matriz, Ginásio Dom Lustosa e adjacências da Santa Casa. Sobretudo, venda do Zé Baurú e Venda do Vicente Caldeira. Dessa maneira, quando do término das aulas na Escola Normal, se Chico Cabo passasse na Praça e ouvisse algum aluno do Dom Lustosa o chamando de A.N.U, ele proferia a sua proibida oratória. Nesse momento, eram mocinhas (alunas) correndo e rindo daquela verborragia obscena. Faleceu na década de 70 como os passarinhos. Em silêncio. Na paz celestial.
*** ‘‘HÁ ALGUÉM MAIS BONITO DO QUE EU?’’ - Para José Vicêncio, um negro, de origem bastante humilde, com a pureza no coração, que viveu da década de 50 até a sua morte (1995) no Asilo de São Vicente, ninguém era mais bonito do que ele. Tanto é que o seu nome passou a ser Zé Bonitinho. Quem lhe dissesse ‘‘bom dia, Zé Bonitinho’’, respondia ‘‘brigadinho’’. Já quem falasse ‘‘bom dia, Zé Bonitão’’, respondia ‘‘brigadão’’. Isso pelas suas diárias andanças pela cidade. Ora, empurrando um carrinho (tipo de ‘‘obra’’), ora com o seu guarda-chuva na mão. Gostava de uma roupa branca, principalmente de um terninho (velho) de brim. Ingênuo, feliz e folclórico, era paz e alegria por onde passava. Não aceitava ser chamado de Urubu, por alguns indolentes. Aí, mesmo com voz mais baixa e educada do que a do Anu (Chico Cabo), soltava as suas palavras de ira. Nos anos 80, foi homenageado pela Escola de Samba Brasil Mulato, no desfile de carnaval. Nasceu dia de São José, 19 de março, (razão do seu nome), em 1905.
*** VERSOS DE LEITÃO; GRAVATA DE PITOCA - Respostas espirituosas, versinhos na hora, gargalhadas intermináveis. Como escreveu o escritor Paulo Acácio Martins, sobre Chico Leitão:
- Me dá vinte cruzeiros! Chico Leitão se dirigindo ao Paulo.
- Cinco cruzeiros está bom? Respondia o Acadêmico.
- Não!!!!! Dez, vinte, trinta, cinquenta ou noventa, brincava sério Leitão (cruzeiro era a moeda da época).
Já Pitoca, ou João Dias, patrocinense genuíno, também morador do Asilo, gostava de terno de brim e gravata vermelha. Possuía inúmeras gravatas. Enfim, um alegre modista. Idade similar a de Zé Bonitinho e costume idêntico (andar pela cidade, levando a felicidade para todos).
*** MAIS GALÁCTICOS... - Anos 50/60/70. Arlinda e sua ‘‘Matilha’’ (inúmeros cachorros) em desfile pelas ruas e avenidas. Mané Goiás, com restrições mentais, desejava só ir pra Goiás ou comer carne de frango. Certo dia, casal namorava dentro do carro, na Rua Artur Botelho, quando, de repente, Mané chegou na janela do carro e perguntou ao casal: ‘‘... tá indo pra Goiá!?’’ Bicho Preguiça, grande ‘‘raizeiro’’, lento homem, com a calça até na canela, oriundo da Bahia. Sá Maria passava medo nas crianças. Era o ‘‘terror’’ pelas ruas e praças centrais. Pierre e sua lojinha de brinquedos na primeira rodoviária de Patrocínio. Um comerciante mal-humorado e pitoresco. João Doido que não podia ser chamado de João Bilhete Corrido (loteria corrida). E mais gente memorável de um tempo em que ‘‘éramos felizes e não sabíamos’’.
PALAVRA FINAL
*** VERGONHA TOTAL! - O que foi feito ao amado CAP - Clube Atlético Patrocinense é inaceitável. É injustificável. Uma combinação de técnico com ações duvidosas, atletas inexplicáveis, política partidária, política clubista, má gestão, desunião, FMF tendenciosa, falta de sorte, só poderia resultar nisso: Queda! Módulo II. Um desastre para a alma do patrocinense. Uma tristeza para o coração alado. Esses responsáveis por isso marcaram para sempre os 70 anos do Glorioso. Lamentável!