Valor. O histórico é imensurável. É subjetivo. Mas existe. Que digam cidades turísticas como Ouro Preto, Congonhas, Sabará, Diamantina, Paracatu e até Estrela do Sul, por exemplo. Porém, Patrocínio, que tem 250 anos de fundação e 180 anos como município (completa em abril próximo), pouca coisa tem para demonstrar o seu rico e magistral passado. Ao longo dos anos, maravilhosas construções foram perdendo espaços para construções tidas como “modernas” ou até para lotes “vagos”. Total insensibilidade cultural. Total desprezo a terra natal.

PRIMEIROS ANOS DE VIDA NENHUM REGISTRO – A Fazenda Bromado do Pavões (a principal da Picada de Goiás), o Quilombo da Pernaíba, onde o poderoso Rei Ambrósio teria morrido (provável promotor/incentivador do dialeto Calunga), a primeira capela de Nossa Senhora do Patrocínio, enfim, tantos marcos do tempo da criação de Patrocínio em que não há nada, nada mesmo, sobre eles.

VÉSPERA DA EMANCIPAÇÃO, POUCA COISA HÁ – No tempo da Independência do Brasil, anos iniciais do Império, existem escritos de cientistas e naturalistas que visitaram à região. Tais como o francês Auguste Saint Hilaire, o médico de Praga Johann Emannuel Pohl e o engenheiro alemão Eschwege. O primeiro Censo de Patrocínio, ocorrido quando era distrito de Araxá, também chamado de “Mapa da População” encontra-se no Arquivo Público Mineiro. E neste está evidenciado a origem da família do Índio Afonso, o mais célebre personagem da história patrocinense. Sobre sua origem não há nenhuma pesquisa ou indicadores. Apenas o escritor Bernardo Guimarães, quarenta anos depois (1872), escreveu bem a respeito do Índio Afonso. Porém, focalizou apenas sua primeira fase de vida. Todavia, o livro, mesmo assim, tornou-se um dos mais lidos da literatura nacional. A saga cinematográfica de aventuras teve sequência.

AINDA NO ADVENTO DA EMANCIPAÇÃO – Esse Censo de 1832-1835 apresenta todos os moradores de Patrocínio, nome por nome. E todas as casas, uma a uma, e quem morava em cada. Eram 1.649 habitantes no distrito, entre livres (1060) e escravos (599). Eles residiam em 234 casas (casebres). Na casa “1”, residia o padre José Ferreira Estrella, o primeiro vigário da primeira paróquia, N. S. do Patrocínio. E na casa “206”, a lendária família Afonso. Infelizmente, a cidade não tem nenhum registro dessa época. Lamentável. Será que a Igreja tem algo sobre o sacerdote Estrella?

O TEMPO PASSANDO... A DESTRUIÇÃO SEGUINDO – Vieram as histórias dos dois Rangel, o mais poderoso e o folclórico. Veio o Cel. Rabelo, prefeito, deputado e único barão de Patrocínio. Veio o registro fotográfico de seu casarão no Largo da Matriz, por volta de 1880. É a foto mais antiga de Patrocínio, guardada na Biblioteca Nacional. Graças a Deus! Pois se estivesse, em Patrocínio já estaria de mãos em mãos. E não na Casa da Cultura. Veio o primeiro jornal patrocinense “O Patrocínio”. Vieram outros jornais históricos como o “Cidade de Patrocínio” (1910-1929). Nada registrado. Aliás, há anos, verdadeiras joias jornalísticas teriam desaparecido da Casa da Cultura (alguns exemplares, foram recuperados). Vieram os primeiros prefeitos chamados de agentes executivos. Pouca coisa se sabe desse tempo de ouro.

O CRESCIMENTO URBANO DE PATROCÍNIO – A hoje cidade surgiu à beira de um límpido córrego, bem depois chamado de “Corgo do Rangel” (na região do bairro Morada Nova), em um lindo verde campo. Foi expandindo até à Praça da Matriz, passando pelo Largo Tiradentes (praça da antiga Cadeia Pública). Essa expansão durou mais de 130 anos. Nesse período, apareceram a Fazenda Bromado dos Pavões, o lugarejo Catiguá, o povoado de Salitre, o arraial de N. S. do Patrocínio, a Vila e finalmente a cidade de Patrocínio (1874). Nessa época, o Largo da Matriz despontou como o centro comercial e político. Por isso, a prefeitura (casarão da Casa da Cultura) e a igreja Matriz de duas torres foram edificadas lá. Já no começo do século XX apareceram o Hotel Globo, clube social, Escola Honorato Borges e as melhores casas, inclusive o belo casarão do Cel. João Cândido de Aguiar. Muito pouco resta para contar documentalmente a história do Largo da Matriz.

PATROCÍNIO PODERIA TER DUAS LARGAS PRAÇAS – Como nas cidades mais evoluídas do mundo, a cidade teve chance de ter uma Praça Honorato Borges bem maior. No princípio do século XX assim o era. Teve uma segunda chance com a Praça Santa Luzia, que naquela época ocupava o espaço da (hoje) Rua Gov. Valadares à Rua Presidente Vargas. Lotearam-na. Cortaram as árvores. E a reduziu. Aliás, até a Praça da Matriz teve desejo de um prefeito em loteá-la no passado distante, segundo dizia Sebastião Elói.

E AS AGRESSÕES URBANAS CONTINUARAM – Reformas no Ginásio Dom Lustosa e Escola Honorato Borges tiraram parte de suas arquiteturas originais, há cerca de 40 anos. Maravilhosos casarões de figuras históricas tornaram-se retratos na parede e ou lotes. Isso é cultura? Isso é progresso?

DEFINITIVAMENTE... – A cultura, e a inteligência, não são contra o desenvolvimento. E sim, a favor. Sem, entretanto, sacrificar o patrimônio histórico. Há lugar para os dois. Um sustenta o outro. Os dois juntos (desenvolvimento e história) são, sim, evolução! Evolução rumo a um digno futuro.

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