A primeira sede da Difusora, no andar superior do Cine Rosário, Praça Honorato Borges
Novembro. Penúltimo mês do calendário gregoriano. Nele, tratando-se de Patrocínio e região, não pode faltar uma comemoração. Algo de suma importância na vida dos patrocinenses. Nesse mês, são comemorados 75 anos de uma bela “senhorinha”, que encanta a cidade com a sua presença. É o aniversário da Rádio Difusora, palco de onde surgiram/apresentaram os melhores artistas, as melhores vozes, os mais populares personagens de Patrocínio. Isso desde 05 de novembro de 1949. Novelas (sim, o rádio brasileiro apresentava novelas nos anos 50/60), programas de auditório (antes da TV, esse tipo de programa era comum), programas musicais à base de vinil (78 rotações, Long Play e Compacto), o esporte, enfim, como operava e se apresentava a Rádio Difusora, em seus primeiros 20 anos (1949-1969). Apenas os decanos José Maria Campos, Leonardo Caldeira, Maria Auxiliadora Guarda, Sérgio Anibal e Antônio Augusto testemunham parte desse período. Alguns momentos inesquecíveis, tais como o narrador de Patrocínio que “apanhou” da torcida em cidade vizinha, show em cima das carrocerias de caminhão, rádio não operava à noite, o prefixo musical símbolo da emissora e o auditório próprio em sua sede (Praça Honorato Borges).
A RIVALIDADE, O FUTEBOL E O NARRADOR À BEIRA DO GRAMADO – Nos anos 50, Flamengo (Patrocínio), URT e Paranaíba (Carmo do Paranaíba) eram os mais aguerridos adversários da região. Em uma ensolarada tarde de domingo, o Flamengo (do Véio do Didino) concedeu “revanche” (jogo de volta, hoje) ao Paranaíba. Como era normal naquela época, o estádio em Carmo do Paranaíba não tinha nem vestiário nem alambrado. O estádio “lotou”, pois o Paranaíba era a paixão dos carmenses. Não havia telefone entre cidades (se existia, era de péssima qualidade). A Difusora gravava o jogo para posterior apresentação. Humberto Novais (depois, transferiu-se para a Rádio Guarani, de Belo Horizonte), foi o narrador. Segundo tempo em andamento, placar 0 a 0. Flamengo, com craques como Calau, Peroba, Kebinha Guarda, Ratinho e Blair (goleiro). Paranaíba com craques como V-8 e Ganga. Falta marcada quase no meio de campo. O técnico “Véio” fala para Calau bater a falta (Calau, vigoroso zagueiro, tinha um “canhão” nos pés). Dito e feito, gol para o Flamengo. Humberto Novais, à beira do campo, grita “goooolll” como nunca e até entra no gramado com o gravador. Brigas para todos os lados. Inclusive com “tapas” no Humberto Novais (história contada a este cronista, nos anos 90, por um dos protagonistas, o grande Calau).
O PRIMÓRDIO: NOVELA, MÚSICA POPULAR, POUCA POTÊNCIA, MARCANTE PREFIXO – A emissora ZYW-8, com apenas 100 watts (baixíssima potência), onda média (depois AM), situada na Rua Presidente Vargas com Praça Santa Luzia (prédio do Bar Rex, referência na cidade) somente poderia operar de 7h da manhã às 17h. Isso devido à fraca energia elétrica, que era gerada por duas pequenas hidroelétricas no Município, de propriedade Cia. Força e Luz de Patrocínio (a Cemig surgiu em 1960). As radionovelas da Difusora tinham como radioatores José Luiz Silva (um dos fundadores do CAP), José Jacinto Campos (colunista social anos 60/70), Daniel Caldeira, Marta Elói (irmã do jornalista Sebastião Elói), Jordão Silva (músico e irmão de José Luiz), Blair Augusto (bancário e excepcional goleiro), dentre outros. Já os primeiros locutores, conforme informa a própria Difusora, foram Humberto Cortes (símbolo da locução na emissora), Oliveira Júnior, o Deca (tio do radialista/jornalista Luiz Antônio Costa), Lourival de Oliveira e José Fagundes.
MÚSICA METAFÓRICA – Maioria das emissoras possuía, ou ainda possuem, prefixos musicais que transcendem o tempo. “El Capitan”, marcha marcial composta pelo genial John Philip Sousa, em 1896, era apresentada às 7h da manhã, quando no início das atividades diárias, e, no encerramento (às 17h). Vale a pena ouvi-la no “Youtube” para visitar àquela época (desse compositor, Sousa, também é “The Thunderer”, prefixo do programa “Comentário do Dia”, com Assis Filho, depois José Maria Campos). Ambas desapareceram dos ouvintes. Que pena!
SHOW NA PRAÇA – Nos meados dos anos 50, eram comuns as apresentações de famosos cantores (da época) e orquestras na Praça Honorato Borges. Ou em cima de caminhões (FNM) em frente ao Edifício Rosário (Rua Governador Valadares), onde situava a sede-estúdio da Difusora. Ou no saguão (entrada) do ex-Fórum (hoje, Superintendência Regional de Educação). De acordo com a Rádio e arquivo deste autor, estiveram na praça Emilinha Borba (a Rainha do Rádio brasileiro), Luiz Gonzaga cantando Asa Branca no ex-Fórum, Marlene, Nora Ney, Adelaide Chioso e seu acordeão, Jorge Goulart, a Orquestra de Francisco Canaro, Orquestra Casino de Sevilla, Renato Guimarães (que ficou em 1º lugar, em 1962, nas paradas de sucesso, com a música “Poema” e que brigou no Bar Itapoã), dentre outros artistas. Casa Manuel Nunes, Elgin e bicicletas Monark foram alguns dos patrocinadores. Já nos anos 60, Assis Filho comandava show, também em cima de caminhão, aos domingos (no começo da noite), em bairros da cidade.
AUDITÓRIO LOTADO – Anos 50 e 60, as boas rádios tinham programas de auditório. Exemplos: Nacional/RJ, Inconfidência/BH e Clube/Patos de Minas. A Difusora também tinha o seu, com capacidade de 80 pessoas, segundo mensagem publicitária daquele tempo. Aos domingos, 10h, o destaque era o “Clube dos Milionários”, com prêmios, “calouros” e cantores da cidade e região. Comandaram o programa Antônio Augusto, Sérgio Anibal, Petrônio de Ávila e Maria Auxiliadora Guarda. No começo da década de 60, só as segundas-feiras, de 20h às 22h, outro programa de auditório com prêmios também. O “Café Constante” foi um dos patrocinadores.
PROGRAMAS MEMORÁVEIS – “Parabéns Para Você” (apresentado à tarde, onde o ouvinte pagava “cinco cruzeiros” para ouvir e oferecer uma música para alguém), “Uma Voz na Tarde” (17h às 17h30min, que focalizava só um cantor), “Carnê Social” (das 10h às 10h10min, com os aniversariantes do dia e outras notas sociais; criação de Humberto Cortes), “Manhã Sertaneja” (7h, com Humberto Cortes), “Correspondente Difusora” (três edições de cinco minutos cada, com a voz forte de Sérgio Anibal), “Parada dos Esportes” (11h40min às 12h, e, “Panorama Esportivo” (de 16 às 16h10min). No começo, ambos apresentados por Antônio Augusto. Isso no final dos anos 50), e, “Seleção Brasileira” (em cadeia, com a Rádio Nacional do Rio, por meio da sintonia de suas ondas curtas. Em 1954 e 1958, a Praça Honorato Borges recebia muitos e muitos torcedores para ouvir o alto-falante externo da Difusora, pois nem todos tinham rádio). E no final da tarde, “Desfile de Tangos” (meia hora com a pura música argentina).
GERENTE DA PAN... CABINE NO QUINCAS... – Nessa fase (1949-1969), a ZYW-8 teve ações inusitadas para hoje. No Estádio Quincas Borges, que também não tinha arquibancada nem alambrado, os jogos do Ypiranga, e depois, Flamengo, eram narrados de um elevado de madeira, próximo ao meio de campo. Nessa cabine estiveram Cristovam Botelho (Tó, pai do Jefé Consolação), Humberto Novais e Paulo Constantino. Isso nos anos 50. No final da década de 50, a emissora foi dirigida por um profissional contratado junto à Rádio Panamericana (hoje, Jovem Pan/SP). Na sede da Difusora (Ed. Rosário) havia um só estúdio e a técnica, onde rodavam os discos de vinil. Entre eles (estúdio e técnica), o palco do auditório. Assim, a comunicação entre locutor e técnico era realizada por um pisca-pisca de lâmpada.
POR FIM – Rádio Difusora (75 anos), Gazeta de Patrocínio (86 anos) e Jornal de Patrocínio (51 anos) fazem bem um pouco da história de Patrocínio. Vida longa para eles!
Estúdio da Difusora 98 nos dias atuais