O Velho Oeste sempre exerceu um fascínio irresistível sobre o imaginário popular: paisagens áridas, duelos ao pôr do sol, homens de chapéu e botas com esporas, justiceiros mascarados e, claro, o eterno embate entre o bem e o mal. De Hollywood a lendas mexicanas, esse cenário foi palco para heróis que empunhavam armas, mas também simbolizavam valores universais. Entre esses heróis, há um que se destacou por carregar nas costas a alma da justiça e o grito dos oprimidos: O Coyote.
Criado pelo escritor espanhol José Mallorquí em 1943, o Coyote surgiu como uma resposta ao mundo que se reconstruía após a Guerra Civil Espanhola e durante os ecos do conflito global. Um tempo em que a opressão, a injustiça e as cicatrizes sociais moldavam a realidade e as narrativas. E Mallorquí, com uma habilidade singular, usou a literatura popular para criar um símbolo de resistência e rebeldia.
O Coyote, ou Don César de Echagüe, era um homem comum na aparência, rico e educado, que passava despercebido em meio à elite californiana do século XIX. Era uma espécie de Zorro. Sob o véu da noite e a máscara negra, ele se transformava no terror dos poderosos, um justiceiro astuto que lutava em nome dos esquecidos. Sua maior arma? A inteligência. Enquanto outros heróis do western dependiam do revólver, o Coyote conquistava seus inimigos com planos engenhosos, uma sagacidade inigualável e um sorriso irônico no rosto.
A criação de Mallorquí o charme dos contos de aventura. Ela é um reflexo do inconformismo. O Coyote nasceu para entreter, para desafiar. Desafiar os abusos dos poderosos, os limites impostos pelo destino e, principalmente, a ideia de que a justiça só pode vir das mãos do sistema. Ele era um homem contra o mundo, um mascarado solitário que, mesmo com todas as adversidades, nunca abandonava a causa dos mais fracos.
A rebeldia era outro elemento fundamental. Em tempos difíceis, Mallorquí deu voz àqueles que não podiam falar. O Coyote era um símbolo de resistência, um grito silencioso contra a opressão. Talvez por isso tenha se tornado tão popular em países onde o conceito de justiça nem sempre foi uma certeza. Seus leitores viam nele mais do que um personagem fictício; viam um ideal, um herói de papel que enfrentava o que eles mesmos desejavam combater.
As histórias do Coyote, com suas aventuras vibrantes e cheias de ação, foram muito além das fronteiras espanholas. Chegaram ao México, à América Latina e, de forma discreta, ao Brasil. Foram publicadas em livros, adaptadas em revistas e ganharam vida no rádio e no cinema. Não importava a mídia: a essência era sempre a mesma. O Coyote permanecia fiel à sua missão, provando que lutar pela justiça é um chamado atemporal.
E que lições deixou José Mallorquí com seu herói mascarado?
Que a luta contra a opressão exige coragem, inteligência e, sobretudo, persistência. Que a justiça, mesmo tardia, pode triunfar. Que um homem, mesmo sozinho, pode desafiar os poderosos e inspirar milhares de pessoas. E que, no fim das contas, não importa onde nasça uma boa história: ela sempre encontrará seu lugar no coração dos leitores.
O Coyote, hoje, não está mais nas bancas ou nas telas, mas vive na memória daqueles que sabem que o mundo sempre precisará de heróis. Mesmo que eles venham mascarados, galopando pelas páginas de um livro antigo, prontos para nos lembrar que a luta pela justiça nunca sai de moda.
José Mallorquí criou mais do que um personagem. Criou um símbolo. E símbolos, ao contrário dos homens, não morrem.