( Pelé, Garricha, Didi e por que não:  RONDES MACHADO) (Por Milton Magalhães)




 (Rondes Machado, área vip,  Maracanã, Copa do Mundo 2014, presente da filha Suzana)


Rondes, perdeu o pai aos 10 anos. ( imagine a cena...) Sr. Rodrigo Machado, faleceu de complicações de “maleita”, aos 44 anos. Era um serviçado garimpeiro, mas não foi na beira de um córrego que ele tirou a sorte grande. A benfazeja graça divina, foi alcançada em  seu casamento  com a DONA MARIA DA CONCEIÇÃO ROMÃO – a DONA CONCEIÇÃO. Viúva aos 38 anos, simplesmente, virou esteio de aroeira na falta do esposo. Honrou com louvor o papel de ser mãe e pai dos filhos: José, Lincoln, Rondes, Maria dos Reis Romão, (Lia) e  a filha do coração e da alma, Abadia.

Como morava em frente  a  Estação Ferroviária, teve uma ideia, que um  consultor do Sebrae, tecnicamente diria: “viu ali um  nicho de mercado”. Ela fez de sua casa uma pensão, para receber os viajantes famintos que chegavam de trem. Futura mãe de craque, sabia escalar um cardápio simples, mas imbatível: De manhã, o tal “café com pão” que o trem faminto vinha pedindo láá de longe. No almoço, um franguinho com açafrão, arroz e tutu com torresmo; ás vezes, salada de alface, macarronada com muito queijo  e carne de porco na lata. A bóia bôa ganhou fama. Viajante perdia até a etiqueta, retornava ao trem para seguir viagem,  lambendo a bigodeira.  No frigir dos ovos, aquele  movimento todo não dava muita renda. Porém, “o pouco com Deus é... muito”
 Rondes, era um menino de pé no chão. ( E com os pés no chão)  Nos dois sentido. O sapato era artigo de luxo, reservado para a escola e para a missa. A chamada “roupinha de ver Deus”. No mais, era calça curta. (Calça curta. Se falava nesse troço de short e bermuda, não) Figurino de menino pobre, mas feliz. Se não se tinha brinquedo naquele tempo?. Voce tá de brincadeira, sô leitor! Era imaginação e criatividade, pura.Tudo virava brinquedo. Uma tampa de panela virava um volante de Fenemê; um cabo de vassoura, virava um mangalarga puro sangue; uma mêia velha, virava uma bola padrão Fifa. O melhor era nadar num poço lá pelas bandas do Congonhas. E depois “pegar emprestado” algumas jabuticabas ou mangas, pródigas nos tempos dos grandes quintais. Tinha aquele dono que fingia não ver aquelas afanadinhas. “Ora, essas frutas, ‘vai cair’ e  perder memo”.  Outros ficavam possessos de giriza. Só que em dois minutos, não tinha sequer um peraltinha para ouvir o xingatório impublicável.  Aqui um mistério misterioso. Como estas artes chegavam aos  ouvidos da Tia Nhá lá na cozinha? Ela chamava os arteiros num canto, dava uma espinafrada, ameaçava  contar tudo  para Dona Conceição...Depois,“esquecia de tudo”.
 
Meninos daquele tempo tinha  os pés valentes, que era  para pisar o  chão pedegroso da realidade...
 Com a renda de engraxate (sim, Rondes foi menino engraxate) ele ajudava em casa e um belo dia, deu para comprar uma... chuteira. “Chuteira!?” Sim, um smartfone é que não seria. Estamos falando de Rondes Machado, esqueceu? “Toc,toc,toc, tem sapato ai para engraxar?” Quase sempre, quase ninguém tinha. Lá seguia ele, de uma casa  a outra, Presidente Vargas,  abaixo, levando no ombro um caixote de engraxate. De volta, quantas vezes subia da Praça Santa Luzia, até o Alto da Estação, contabilizando as moedas. Nem esperava chegar em casa: “Este é para casa; este, para o cinema; este, para uma tubaína (mais tarde uma breja, pois menino vai virando homem, mal aparece um bigodinho  e já muda de bebida), tinha que ser no Bar Rio Branco com  dois ou tres amigos; e este,  para o circo, quando este vier, ( já grandinho, não ficava bem continuar  passando por debaixo da lona) Com isso,  nascia o aplicado Contador, mais tarde dominando planilhas e balancet de 10 dígitos.
 
Ainda por cima,  aquele menino do Alto da Estação, nutria uma outra paixão: O futebol. No Ginásio Dom Lustosa, o bambino franzino dizendo ser torcedor do Botafogo do Rio. (E de onde surgiu essa paixão no muleque?  Se acompanhava o alvinegro em rádio de pilha de vizinhos, pois o velho Zenith de sua casa, virava aquela caixa de abelha, justo na hora de um pênalte. O bichinho levava cada catiripapo e  bordoada que quase despencava da mesa. E o  “Fogão”da época, tinha somente um título carioca) O fato é que o rapaz tinha muito traquejo com a pelota nos pés. Chamava muito a atenção o jeito que a bola olhava pra ele. Pelé ficaria com ciúmes. Todo mundo queria o moço no seu time. Os Professores, Padres Holandeses, eram sargentões, ressabiados,  linha dura, mas, sabiam ser afetivos e até paternais. Não tiravam os olhos do menino do Alto da Estação.  Ato contínuo. Seu time acabava de levar um gol, aquele gravetinho se agigantava, passava pelos adversários, que eufóricos  ainda comemoravam o êxito, pegava a  bola “pela orelha” no fundo rede, colocava-a no meio do campo. Só esperava o  Juiz reiniciar a peleja. Fronte erguida e tocava aqui, e  recebia ali,  amaciava no peito um “tijolo”, outro pior e não era fominha,   páh,   metia logo um companheiro na cara do gol. Empatava e na raça...virava o jogo .“Esse vai ter sucesso na vida em qualquer empreendimento que vier a escolher ”. Cochichavam entre eles naquele holandez/rangeliano. A Escola- digo, aquele “Tempo de Ensino”-  não tinha como missão formar para o futebol; tinha como missão formar cidadão de bem  para a vida. Nisso, porém  o futebol foi de longe, uma grande escola.

Rondes, não aceitava perder  nem no treino, nem no par ou ímpar,  imagina em “jogo valendo”.   Mas isto, logo  foi  sendo terapiado na sua cabeça de um jeito muito positivo. “Um mal perdedor é um terrível ganhador”. Soube disto muito cedo. Deixemos que ele mesmo nos diga: “Mais tarde, ainda novo na idade, mas já cascudo no jogo, passei a pensar, analisar os jogos e os motivos do nosso time ter perdido, repassava as falhas e “pixotadas” minhas e dos meus companheiros, empenho menor do que podia. Fui assimilando, (não confortavelmente, mas com mais resignação) as derrotas e ainda passando a enxergar as boas qualidades dos meus adversários e admirar alguns jogadores de outros times das cidades vizinhas, inclusive fazendo boas amizades entre eles”  Muito tempo depois alguém batizou isto de “Inteligência emocional” e o chic ‘fair play’.

 Além de jogar no time do Dom Lustosa, Rondes, jogou no lendário Ipiranga Esporte e no Imortal Flamengo do Véio do Didino. Este último, teve a invencibilidade de 30 jogos. Não, você não leu errado, ficaram 30 jogos sem perder, duelando contra os times “bichos - papões” da região. Eles honraram e representaram condignamente a nossa cidade. Façanha jamais imitada por nenhum outro time em nenhum outro tempo.


Não me esqueço dessa foto enviada para o Eustáquio Amaral, com cópia pra este cronista, na qual  se vê a equipe do “ Flamengo  do Véio” ano 53/54. ( Rondes é o primeiro da esquerda para a direita)  A delegação  inteira,  com meias e  gravatas conversando  com o terno, embarcando para a cidade de Sacramento.  Lá foram recebidos como celebridades no clube social daquela cidade. Mais tarde rolou até um Baile de Gala por lá. “Jogavam de terno”. Precisa dizer qual time papou mais aquele jogo? Permita-me  uma digressãozinha para uma lapada necessária?. ( Já, já, voltaremos ao Rondes)  Fico vendo hoje jogadores da Seleção Brasileira, saindo daquele ônibus, para os locais de concentrações ou jogos, todos desatipados. Uns malas, cheios de marra, óculos escuros, fonão de ouvidos, bermuda no meio da canela, pernas arqueadas, cabelos platinados,  mascando chicletes, tatuagem até no branco dos olhos. Pior de tudo:  Jogando uma bolinha sem vergonha. Os caras bate uma falta pensando em BMW, ou naquele “crush” com a influecer top da balada. Até nisto o futebol patrocinense dos anos dourados, foi exemplar: Se vai representar  uma cidade? Um país? Use a melhor roupa. Dê o seu melhor.    

Rondes, era discreto que só ele. Não gostava que alguém o distinguisse  da manada,  (Sempre elogiou profusamente os ex-companheiros de times, tipo: Paulo Tavares,(“Esse foi i.n.c.r.í.v.e.l”, Rondes não mentia)  Múcio, Blair, Calau, Peroba, Pedrinho, Negrinho do Zé Jardineiro...Claro que estes, iam de muito  bons,  a excelentes. Mas, eu, da geração que não o vi jogar, colho um depoimento aqui,  outro ali e fecho com chave de ouro  a tese pétrea: Rondes foi o cara entre os caras: RONDES MACHADO FOI O MAIOR CAMISA 10 DE PATROCINENSE DE TODOS OS TEMPOS.  




Contra fatos não há esperneamentos: Nosso conterrâneo em realçe, tinha tudo para  ter jogado no “Glorioso” ao lado de Garrincha, Nilton Santos, Didi, Amarildo, Leônidas,  Zagalo e Brandãozinho. E mais: Tenho forte intuição que se Rondes, seguisse carreira futebolística, chegaria  a vestir a “amarelinha”, tranquilo, tranquilo.

  Segundo o  patrocinense/baiano, Serginho Aníbal, o menino do Alto da Estação, tinha: “a rapidez de Romário, a inteligência de Tostão e era um finalizador como o Ronaldo Fenômeno”

 Carreira curta mas fulgurante. Foi o  Capitão nos times nos quais jogou. (Como se sabe, Capitão não pode nunca ser um cabeça de bagre, zé ruela não serve, muito menos, um perna de pau. Tem de ter cacife e ser o bam-bam-bam  do time) 

Rondes,  brilhou em outros campos da vida -Aliás, em todos...Ia me esquecendo foi o orador da turma, quando se formou. (Tenho seu discurso) E discurso vistoriado por aquele que viria a ser o Primeiro Arcebispo de Uberlândia, Dom Almir Ferreira Marques. 

Outra coisa que Rondes, também, corcoveava  de lado, casca de banda,  quando a gente pendia para elogiá-lo: Era um  missivista intelectual. Na caneta, punha todos nós no chinelo. Que fluência! que eloquência! Parafraseando Sérgio Anibal: Na pena,  Rondes, tinha as sacadas geniais de Nelson Rodrigues; a caboclice mineira  de João Guimarães Rosa e a prosa alinhavada de Rubem Braga. Um homem culto. Leu muito a vida toda. Outra virtude:  Com 64 anos de Rio de Janeiro, não perdeu nada, nada do “idioma do Alto da Estação”. Zero sotaque carioca. (Cadê aqueles que ficam no Rio um mês e voltam entonando um: “coé, mermão, siniixtro” ). O leitor queira  me perdoar outro “drible da vaca” Escritor perna de pau faz isso muito. 

Voltemos á pacata  Patrocínio dos anos 50.  Ruas de terras e iluminação pública paupérrima, onde um rapazinho “ batia um  bolão”...
Mas, depois que foi ajudante de caminhoneiro de Ildeu Constantino, pôs os pés em  São Paulo, jamais foi o mesmo. Começou a olhar muito para o horizonte onde o por do sol lhe convidava os passos... Tinha quem aplaudia e vibrava com suas jogadas geniais no Estádio Quincas Borges, mas tinha quem vivia repetido que aquilo não dava futuro. “Futebol não dá camisa pra ninguém”. Agora já contava com um  diploma no alforje. E havia terminado o “estágio contábil ” que fizera com o Sr. João Caixeta,  no Posto e Auto Peças São Cristovão... Partir... Mas, partir pra onde? Ficar... Mas,  Ficar pra que?...   
 
ROOONNNDEEES! ROOONNNDEEES!  VEM COMIGO, VEM COMIGO, VEM COMIGO...
Como morava  próximo da estação, aquilo  era um convite diário. Recorrente. Torturante.  Uma amolação sem fim.   Rêê!  Trem de Ferro quando pega no pé, meu filho, não tem escapula, não! Parece o “canto da Sereia”.  Só que ali, Ulisses colocou  cêra nos ouvidos;  foi amarrado no alto de um mastro e se livrou da sedução. O Trem, meu sinhô,  quando chama o cabôclo e ainda, assim,  pelo nome, ou...é embarque na certa.  Não deu outra. 

Maio de 1955. O “Dia-D”. “Na rede ainda  balançava seu último gol”, quando com a benção da mãe, Dona Conceição, as recomendações da Tia Julieta, ( A Tia Nhá, era  aquela  que agia como se fosse  mãe dele e fora um pouco mesmo. Estou para juramentar que muito do sucesso de Rondes se deve as rezas fervorosas dessa  Tia/Mãe). A tal  hora que separa os homens dos meninos, havia chegado pra o rapaz. Te pergunto. Onde essa gente  de Hollywood estava que não captou  a cena de adeus do Rondes, ao Ildeu, Paulinho Constantino, Véio do Didino, Blair Damasceno, Negrinho do Zé Jardineiro, Quebinho, Carmo, Zé do Cleto, Nadir das Baterias e tantos outros? Aquilo foi um evento no arraial.   Na plataforma da estação,  lá estavam os amigos de uma vida inteira, driblando com pilherinhas, a emoção de uma despedia: “ Hei, cuidado pra não se perder naquela currutelona lá, hein?”; “Ou, fica por aqui, sô, vamos montar juntos uma fábrica de macarrão muito melhor do que a de Uberaba”;  “ Num chega lá na Savassi com essa pinta de  Marlon Brando, aí não, que dá bode”; “ Se rolar briga de braço, por lá,  já sabe, conta com a gente como sempre”;  “Tô pensando em ir embora daqui também”... Depois dos abraços, o solavanco da máquina, aluindo, alguém se aproxima da janelinha: “Vai com Deus, seu cabeçudo, mas se a coisa não dé certo, por lá, já sabe. Volta logo, que já tem jogo marcado”. Era a voz do metido a durão, Véio do Didino, competindo com o barulho do trem... Estava enganado ou viu mesmo uma lágrima nos olhos daquele amigo...

“Lá vai o trem com o menino... pro dia novo buscar”. Nunca estes versos fizeram tanto sentido. 18 horas de viagem em busca do tal “dia novo” lá na Capital. (Rondes embarcou naquela viagem, com sonhos, planos e muita esperança. Entretanto,  aconteceu algo naquele dia que é preciso deixar de antemão em letras garrafais, pois é a alma deste texto: O CORAÇÃO DE RONDES FICOU  EM PATROCÍNIO) 
  
Sabia que as coisas não cairiam  do céu lá na corte mineira. Mas, quá! Um alvará para molhar o gogó, pois ninguém é de ferro. Como Minas não tem mar, mas tem bar. Que é muito mió de bão. A confraria de patrocinense  se juntava para  resenhar, tendo  hora pra chegar, nunca pra sair. Cedo, no entanto, com ressaca, com sono, mas sóbrio, lúcido e com responsa, Rondes deixava  a pensão. (Um ponto com a fama de  abrigar patrocinenses, pelos lados da Savassi).

 Há, não falei. Rondes tinha em mão, além  do diploma de Técnico em Contabilidade,  um cartãozinho de apresentação do grande Dr. Amir Amaral (prefeito de Patrocínio na época) para o grande deputado e amigo de Patrocínio, José Maria Alkmin. O pedido era  para que o ilustre parlamentar, desse uma forcinha em arrumar uma “colocação” para o “conterraninho bom, portador desse cartão”. Não era muito, mas no diploma e nas palavras do cartão, estava todas as suas fichas. Eram chaves, faltava descobrir  portas compatíveis. 

O cartão para o bom político, Alkmin, foi deixado de lado, depois de um “chazinho básico de cadeira” Falar com um político, fora de eleição, sempre foi aquela corrida de obstáculo. O moço de Patrocínio assustou com o zum zum zum  do  povaréu no ambiente.  “Tô frito. Esse tantão de gente pra falar com o homem.  E quantos iguais a mim,  procurando colocação?. Sem chance. Tô fora”

Um concurso para o Banco do Brasil, surgiu como opção seguinte. Porém, no dia aprazado, tinha “uma pedra no meio do seu caminho” – digo, um teste de datilografia. Na sala do teste, depois do “estááá valeeendo”do monitor,  espocou um ratatatatá, medonho na sala. Aquilo parecia rajadas de metralhadoras. Faltava-lhe destreza nos dedos para competir. Queimou a largada. Bateu até um leve descabreio. Quem podia com os dedos velozes e furiosos daquela gente da Capital?.. “Se fosse com a bola no pé, queria ver esse povinho aí sair comigo”. Brotou um raivinha justa.

MAS... porém, contudo, todavia, entretanto, (ainda bem que existem estas palavrinhas. As quais chamo de “adversativa rondística”. Palavras que  buscam a bola no fundo da rede e viram o jogo).
 Eis que Rondes, compra um exemplar do Jornal “O Estado de Minas”, entre uma notícia do seu Botafogo e outra do seu Galo, procurou uma notinhazinha que fosse sobre Patrocínio. Neca de pitibiriba...

MAS,  um anúncio na página de classificado lhe prendeu firme o olhar. Filho de garimpeiro. Garimpeiro é.  Sentiu ali no ar um cheiro de diamante. “Não custa tentar”. Deus havia colocado a bola na marca da cal. O resto era com ele. Poucos dias depois, sua carteira de trabalho era ASSINADA PELA PRIMEIRA VEZ (e única, em toda sua vida), desde 06/07/1955. Entrou como Auxiliar de Contabilidade na empresa, ICOMINAS - Indústria e Comércio de Minérios S.A. (que se tornou um dos principais produtores mundiais de manganês e maior exportador nacional). 

Devido ao excelente desempenho, como auxiliar, Rondes, em  menos de 03 anos,  foi recomendado a se transferir para o Rio de Janeiro e assumir o cargo de Contador na CAEMI.  (Mais tarde incorporada pela global Vale/Mosaic). Cabe registrar. CAEMI, era uma mega empresa, muito bem gerida, alcançou  portentoso sucesso no mundo corporativo, ONDE, RONDES TRABALHOU POR 42 ANOS. Dependurou as chuteiras-digo- aposentou-se no dia 01/03/92. Por lá teve a glória de ter sido Contador,  Controlador, Diretor Tesoureiro e  finalmente, Diretor Financeiro da Fundação Caemi. Ainda a guisa de conhecimento, esta mineradora, foi um dos maiores empreendimentos do país,  o quarto maior do mundo no setor de minério de ferro, chegou a ter 80 mil colaboradores. Imagina onde chegou o  filho de um simples garimpeiro artesanal do Alto da Estação.

Falando em filho. Assim que foi “firmando as penas”, com a ajuda do amigo e compadre, já bom de bolso,  Paulinho Constantino,  comprou uma casa para a sua mãe. Não. Não uma casa qualquer. Uma casa em formato de castelo, que era  para abrigar a sua rainha, Dona Conceição. Quem passa ainda hoje pela Praça do Tiro de Guerra em Patrocínio, pode ver no cantinho superior da praça, a emblemática Casa Verde Abacate  do Alto da Estação.  A única casa da cidade de muro baixo na frente. Passe por ali com olhar de reverência,  lá viveu uma Rainha de nobre singeleza... 

Morando na grande  Rio desde 1958,  mesmo sendo um Contador com o tempo contado, onde você acha que Rondes achava um jeito de ir. Quem citou Maracanã, quase acertou, ele realmente possui  muitos e muitos Maracanãs na *cacunda, ( *Acho que dorso fica mais elegante, não?) mas acertou mesmo foi  quem falou: Estádio General Severiano  (Hoje, Nilton Santos). Um amigo em comum disse, que Rondes, teria sido Conselheiro do Botafogo, não tive dele essa confirmação. Porém, orgulhoso sócio-torcedor, sei que  ele foi. Prova? Tenho. Eis a sua carteirinha histórica, nº 3587, com a data de 31 de Julho de 1962.  




(Em 62. Nosotros acá,  tinha  01 ano de idade, se descuidassem de mim, lá na Barra do Salitre,  saia engatinhando até o curral e  fazia estrepulia com o cocô de vaca) Rondes, era da cozinha do time do seu coração. Mal sabiam, Garrincha, Nilton Santos, Didi e  Zagalo, que aquele torcedor que deixava escapulir dicas da   arquibancada, tinha tudo para estar ali entre eles nas quatro linhas. 
 
Entretanto, a vida o chamou para vestir a Camisa 10 de outro time, em outros campos. E,  claro, lembra da conversa ao pé do ouvido dos  Clérigos Mestres no Dom Lustosa, sobre o seu futuro? Matou as dificuldades no peito e foi virando os placares adversos que foram surgindo em sua vida.
 
AUGUSTO TRAJANO DE AZEVEDO ANTUNES...
Como falar de Rondes e não falar desse homem com nome de imperador, mas sentia-se bem sendo um simples: Dr. Antunes. Mais do que uma pessoa a se espelhar, mais do que amigo fraternal: Um patrão genuíno. Se um era muito discreto; o outro era discretíssimo. O Bilionário de hábito simples, diria até hábitos monástico, pois era apreciador da natureza, encantado por flores, borboletas e beija-flores, encontrou um legítimo e honrado cidadão da terra do pão de queijo. De tanto o acomedido Rondes, se distrair e falar bem do primeiro e único chefe que teve  na vida, consultei a literatura sobre ele, cai o queixo de inveja. Ophá! “Inveja boa”. Ele era muito mais. Cheguei a escrever por ai  que gostaria que seu paitrão tivesse sido o meu também. Me contendo porém,  em saber que precisaria de outras vidas para alcançar estatura mínima para assinar um contrato de trabalho na sua organização:
 
“A JAZIDA MAIS VALIOSA QUE DEUS COLOCOU EM TERRAS BRASILEIRAS”

Realmente, o que marcou profundamente a  vida de nosso conterrâneo, foi ter trabalhado 42 anos diretamente com um ser humano muito acima da média. Foi a pedra de canto em sua vida. Para se ter uma ideia da dimensão humana de Dr. Antunes, faço questão de  transcrever o que Dr. Eliezer Batista da Silva, disse, sobre o lendário patrão de Rondes. Pronto? : “Augusto Trajano de Azevedo Antunes, merecia um feriado cívico e uma estrela no pavilhão nacional. Muitos brasileiros amaram seu país; tantos outros trabalharam por ele. Mas raros foram os homens que, como Antunes, soldaram a ferro e fogo virtudes que nem sempre se conjugam: O intenso espírito empreendedor e a capacidade incomum de colocar a nação acima de qualquer outro interesse. Antunes era um brasileiro puro-sangue. A jazida mais valiosa que Deus colocou em terras brasileiras. ”

QUANDO DIAMANTES SE ENCONTRAM...

Falamos da “sorte grande” do pai de Rondes, jazida valiosa e coisa e tal, mas  não tem como deixar a analogia garimpeira: O casamento com CARMINHA CHERULLI MACHADO, foi o encontro de dois Diamantes. Manobra Divina.  O prêmio maior do pai se repetiu com o filho. Sua companheira de vida, foi sempre uma fortaleza de virtudes. Com Rondes, durante muito tempo, saindo cedo para o trabalho (de grande responsabilidade) e sem hora para voltar, ela segurou a barra em casa. Cheia de fé, sábia, correta, inteligente,  solidária, discreta e  humilde. E, bem humorada, claro, justificando seu sangue ítalo-rangeliano. Para dizer dessa sólida base familiar, basta falar do sucesso pessoal e profissional dos filhos: Rodrigo, ator, diretor de teatro e professor universitário; Julieta, engenheira química e auditora federal; Suzana, publicitária, escritora, tradutora e empresária. E o netinho, Rafael, (Fez 12 anos no dia 18/12/ 21) é um  canhotinho, que chegou aos 45 do segundo tempo na vida de Rondes,  já bateu bola com o “Galinho de Quintino”; treinou na Escolinha do Barcelona; treina na escolinha da CBF;  Já viu, Neymar, Xavi, Iniesta e Messe jogar ao vivo. Mas, também, já debulha um Tom Jobim e Freddie Mercury no Piano e faz produção de texto com excelente fabulação.. Discretamente o vovô discreto babava. “É  feio a coruja se gabar do próprio toco”, defendia.  Meu Deus, como esse homem torcia  pelo sucesso meu e de minha família.  E eu de cá pelo sucesso dele e da família. Minha aposentadoria, quis que ele fosse o primeira a saber. Imagine a alegria...

CORAÇÃO EM  PATROCÍNIO...

Nestes 64 anos de Rio, houve um tempo de batente  acirrado, cujas  vindas á Patrocínio, enquanto, tinha a presença de Dona Conceição, acontecia algumas vezes ao ano. Com mais incidência em temporada de férias. Quando se aposentou, felizmente tinha mais tempo, mas, infelizmente não contava mais com a  presença dela. Como bom mineiro, conhecia muitas Minas, como bom brasileiro, conhecia muito do país. Outro no lugar dele, jubilado, agora dono de seu tempo,  desbravaria, ia logo turistar em  Nova York, Paris, Atenas, Roma e até Dubai, por que não?. Mas ele preferia...Patrocínio.
 
UMA CIDADE MARAVILHOSA POR OUTRA
Pude presenciar a fase em que a boa saúde  permitia ao casal, três, quatro vezes ao ano, viajarem cerca de  800 KM, em um Jetta cinza com placa do Rio? Nãão. De  Patrocínio, Uai!. Por 15 dias, digamos que eles trocavam  o Corcovado, pela Serra do Cruzeiro; o Jardim Botânico, pela Matinha; o Ap. na rua Maria Angélica, pela casa verde abacate em formato de castelo, na Praça do T.G. Em suma, trocavam  uma  cidade maravilhosa, por outra. Carminha ficava na casa da sua  mana Glorinha, ele, “para não incomodar ninguém”,  hospedava no Ouro Cerrado Palace Hotel. Assim que chegava me avisava. Sua vinda pra mim era um evento.
 
UNIVERSIDADE DE RECORTES



Por intermédio de Rondes, recebia quase semanalmente, imagina!, textos seletos publicados nos jornais “O Globo”, “Jornal do Brasil”, “Valor”,  de Artur Xexéo, Joaquim Ferreira dos Santos, Miriam Leitão, Cora Rónai, Veríssimo, Zuenir Boaventura, Elio Gaspari, Rosangela Bittar, Maria Cristina Fernandes, Rodrigo Constantino, Arthur Dapieve, Ricardo Noblat, Nelson Mota, Adriana Calcanhoto, Roberto Damatta. Etc. Ele primeiro lia( Lia mesmo!) selecionava, grifava, tecia comentários de rodapés alusivos, (Ou grampeava um bilhetinho anexo) recortava, organizava artisticamente dentro de um envelope kraft ouro e me enviava. Leituras tão edificante que chamo de “ Universidade de Recortes”. Não pode haver pessoa mais organizada e dedicada aos amigos. Entre os quais estão: Paulinho Constantino, Eustáquio Amaral,  Jussara Queiroz, Alexandre Antunes. ( Neto do Dr. Antunes, que também recebeu muitos recortes de Rondes). Imagina! Quem mais no mundo,  lê um  jornal pensando nos amigos.

DE COMO RONDES CONHECEU EUSTÁQUIO AMARAL 
Eustáquio Amaral, (caso o leitor da globosfera não saiba), é: Economista, Servidor público estadual de carreira, historiador, acadêmico, ambientalista, defensor da ética e da moralidade na política e no serviço público,  cultor da nossa história, colunista de  longo fôlego ( 43 Anos assinando a “Primeira Coluna”)  Um dos cidadãos mais íntegros de Patrocínio,  é irmão de Sebastião Ferreira do Amaral - o Véio do Didino. Pra uma refrescadinha na memória do leitor,  lembro que,  o Véio do Didino é aquele que hipoteticamente teria dito na despedida de Rondes na estação: “Vai com Deus, mas se a coisa não dé certo, volta logo, que já tem jogo marcado”. Líder nato. Empresário, desportista, alma gigantesca. Considerado o “Telê Santana Rangeliano”.  Era 14 mais velho do que Rondes. Muito mais do que um amigo e técnico, era um cúmplice confrade. Amizade insubstituível. Seu falecimento deixou no coração de Rondes, uma lacuna incomensurável. (Mas, tenho que dizer aqui: Outra amizade insubstituível, foi de Ildeu Constantino. A bala covarde que matou o amigo em Belo Horizonte, atingiu Rondes, na época morando no Rio há dois anos. Testemunhei seus olhos se orvalharem ao falar do amigo) 
 Um belo dia, Rondes conhece e transforma o irmão do Véio em grande amigo. Foi nas páginas do Jornal de Patrocínio. As matérias de Eustáquio Amaral, saiam de Belo horizonte para a  Rua Arthur Botelho, 575,  em Patrocínio e chegavam á rua Maria Angélica no Rio de Janeiro... Ronde,  lia encantado.
 
HISTÓRICO

 Foi no dia 25 de Setembro de 1987, que  Rondes escreveu sua primeira carta para o “Menestrel Rangeliano”:  “Creio que não o conheço pessoalmente, mas sendo amigo do Véio, é meu amigo. O Veio falava-me  de você e eu o acompanho através de suas crônicas no JP...”(Jornal de Patrocínio) . Nasceu ali, uma amizade que chegou aos 35 anos. Ele lia, grifava e comentava tudo que o Menestrel, escrevia. Não somente sobre o futebol dos anos 50, tema que ele tanto dominava,  mas sobre tudo que envolvesse, o passado, presente e futuro de nossa urbe. Quantas e quantas cartas, foram do Rio para Belo Horizonte, só falando de... Patrocínio. Quanto tempo dedicado a essa amizade! Acompanhando par e passo o trabalho hercúleo de Eustáquio Amaral, vendo que sua vida é um “Hino de Amor a Patrocínio”,  Rondes, sugeriu que “Menestrel Rangeliano”  se candidatasse a deputado estadual, prefeito, ou, fosse secretário do município. Sobra-lhe competência, mas o poder sempre teve lá seu  curral, seu jogo de cartas marcadas. Rondes defendia ainda que o autor da “Primeira Coluna” entrasse para o “Livro de Recordes”. Sugerindo que  o autor busque  provas documentais, pois méritos não lhe falta. Está nas páginas da Gazeta de Patrocínio:  "...sua Primeira Coluna, provavelmente a mais antiga do jornalismo interiorano, quiçá do país, faz jus á inclusão no Guiness Book. Não conheço o regulamento para se figurar naquele livro de recordes. Mas imagino que ela (coluna) tem alguns requisitos já comprovados de longevidade e consciência"
 
 HISTÓRICO 2 -  ENCONTRO NA COZINHA DA MINHA CASA
Depois de 14 anos de amistosas correspondências, Rondes em Patrocínio; Eustáquio em Patrocínio. Por nada neste mundo perderia a oportunidade de provocar e assistir ao aperto  de mãos destes dois ícones. Mas, Deus foi mais longe: Permitiu que esse encontro se desse... na cozinha da minha casa. “Ora, Milton, foi somente dois amigos se vendo ao vivo.” Nãão. Duas lendas rangelianas. Dois craques na vida. Portanto, aquilo nem foi um evento:  Foi um Ato Cívico. Apertaram as mãos, precisamente numa linda tarde do dia 23/02/ 2008. Jamais consegui expressar em palavras a emoção por mim ali vivida.
 
DE COMO ESSE AUTOR CONHECEU RONDES

Quando foi 13/02/2003, foi a minha vez de conhece-lo, incialmente por carta: “ Prezado Milton, não nos conhecemos pessoalmente, mas como conterrâneos não somos também desconhecidos. Já que aqueles que nasceram numa pequena cidade, provavelmente tem algum parentesco distante entre eles. Além disso o leitor tem uma certa cumplicidade com o escritor. Leio sua coluna ( JP) que é bastante eclética e aprecio a sua independência ( imprescindível ao jornalismo) principalmente nos aspectos políticos da cidade... Certa vez você contou que seu pai ( com sua família e você) morava e trabalhava na Fazenda do Natal Cândido e Dona Alaíde Lemos, ambos meus amigos, comprei uma fazenda vizinha á deles, que fica do outro lado do Rio Salitre..” Aqui começou uma grande amizade. Logo, logo nos conhecemos pessoalmente. Ele foi ao meu trabalho na Serviços Gráficos. “Pela estatura de sua escrita, pensei que tivesse , 1,90 cm”. Rimos.  Nossa diferença de idade era de 26 anos, mas ele jamais foi chamado de “senhor” por mim. Foi sempre chamado de amigo. Entre nós o chão era plano. Cerimônia zero. Das poucas casas em Patrocínio que ele tinha a liberdade de frequentar. Ás vezes, Chegava, sem avisar, batia  na porta. Como gente da gente faz. Deixo que ele mesmo fale: “Prezados Milton, Solange, Melva e André, família amiga que tenho o privilégio de relacionar-me e quando na nossa terra sou recebido na residência com a naturalidade e simplicidade dispensadas a um familiar, parente ou amigos mais íntimos, situação que me sensibiliza, deixando-me descontraído, eu que no fundo sou um introvertido  que evito visitar a terceiros, por não me sentir á vontade em “território alheio. Eis a amizade que desfruto com essa família admirável... ” Se isto não é honra, é que?  
 
PASSEIO PELAS RUAS DE PATROCÍNIO



 Sua última visita á terra natal deu-se no dia 22/11/2015. ( Foto Residência Milton Patrocínio.  Esquerda para direita: Milton,  Rondes, Carminha, Bernardo,  Suzana e Rafael, então com 05 anos   Uma vez na cidade, ligava e fazia uma piadinha que minha esposa Solange, sempre caia: “Como está o tempo aí?” Ela falava e perguntava e ai no Rio. “Lá no Rio, não sei, estou também em Patrocínio” Era riso para todo lado. Me chamava e convidava: “ Vamos dar uma volta? Daqui 15 minutos passo ai na sua casa” Ou... Nem um minuto de espera. Me entregava uma braçada de livros, tomava um cafezinho-sem açucar e o seu carro deslizava silenciosamente ouvindo a nossa prosa. Foi assim que ao longo de suas vindas, percorremos todas as ruas e praças do centro; todas as ruas do Alto da Estação; todas as ruas do Marciano Brandão; todas as ruas do São Francisco; todas as rua do São Vicente.  Na calmaria de um domingo a tarde, “olho vivo” deve ter ficado com a pulga atrás da orelha vendo a gente percorre desacelerado,  a comprideza da Presidente Vargas, da Rui Barbosa e da Governador Valadares. Mas se alguém chamasse a Polícia para nos abordar, ela acabaria se encantando por nossa causa e  nos  faria até escolta.

  “ Aqui foi o estádio Quincas Borges” Nessa casa morou a família do Zé Luiz...”. Foi Rondes que descobriu no coração da praça, Honorato Borges,  escondida aos pés de uma árvore , uma placa, que quase ninguém dá fé dela.(Nem eu a conhecia): “Homenagem do Banco Itaú em seus 50 anos á natureza e ao futuro. 21/09/95”

Nos chamados bairros simples da cidade, Rondes,  chamava-me  a atenção para a arquitetura popular. Se encantava com as casas humildes de muito bom gosto. Algumas construídas muito antes de passar o asfalto. Ele me apresentado o passado; eu lhe apresentando o presente; ele apontando para o futuro. 
 
PEGA BEM SABER  

Voce não sabia. A reconhecida Gráfica do Lar da Criança, foi uma conquista de Rondes, através do Dr Antunes. O parque gráfico foi adquirido no ano de 1992  em Governador Valadares.

O “1º Seminário Regional de Turismo”foi uma sugestão de Rondes, através da nossa coluna. Foi realizado pelo Governo Betinho,  nos dias 11,12 e 13 de Junho de 2004, na sede do extinto Museu Nacional dos Transportes. Reuniu cerca de 400 participantes, procedentes de Uberlândia, Araxá Belo Horizonte e Coromandel. Um seleto público de empresários, estudantes e políticos. Nunca nada igual.

Rondes, ( aqui ele iria me puxar a orelha) sempre colaborou, anonimamente com a Apae, Asilo, Santa Casa e Hospital do Câncer de Patrocínio.
E este cronista quis tanto que ele fosse um dos condutores da Tocha Olímpica em Patrocínio.

Somente eu, tenho dezenas de sugestão dele para o aproveitamento do Hotel Serra Negra.

O maior defensor de se implantar um Teleférico na Serra do Cruzeiro em Patrocínio. Isto por que da varanda de seu apartamento,  ele tinha uma visão parcial da Estação do Bondinho Pão de açúcar. Prova que seu olhar sempre  transportava belezas para Patrocínio.
Todos os domingos Rondes me ligava, ficávamos um hora ao telefone, falando de Patrocínio e todos assuntos, amenos e edificantes.  
 
“COVID ESPORTE CLUBE”
Rondes contraiu Covid. Como este inimigo, driblou o bloqueio, venceu a disciplina espartana de Rondes, alcançou sua fortaleza e pegou seu pulmão de jeito, é um mistério. Em quase dois anos de confinamento, saiu de casa raríssimas vezes e todas, para ir ao médico. Faltavam poucos dias para tomar a 3ª dose. Setembro.  O Rio já flexibilizava o uso de máscara. Deitou bem,  acordou muito mal. Se viu enfrentando o maior clássico de sua vida: Covid Esporte Clube. Carrinho violento por trás. Um vale tudo na altura de seus 87 anos. ( Faria 88 neste 19/02/22) Foi internado ás pressas. Baixíssima saturação do oxigênio. (Se  para adultos, a escala normal do SpO2 é 95 – 100; 85 é quadro crítico, ele chegou a 74). Carminha era porta voz de seu estado de saúde, que gangorrava do pico da esperança ao desalento. A goleada no placar, parecia irreversível: UTI Covid, intubação, CTI, sedação, traqueostomia, água no pulmão, febre, insuficiência renal... “Infelizmente o Rondes não está bem.. Voltou a febre e a secreção no pulmão... ”   Lembra? “Seu time acabava de levar um gol, aquele gravetinho se agigantava, passava pelos adversários que eufóricos ainda comemoravam o êxito, pegava a  bola pela orelha “no fundo rede”, colocava no meio de campo...virava o jogo. : “O Rondes hoje está muito bem, sem sedação, acordado fazendo fisioterapia...” ... “Deve passar o Natal em casa”..De repente... UTI, intubação, lucidez, piora, leve melhora, esperança...Pressão arterial normal,  tudo evoluindo normal, exceto o pulmão. O pulmão não funciona mais... desenganado...

4 meses e 15 dias de internação...( Voce não leu errado, 4 meses e 15 dias ) A família moveu céu e terra para lhe manter a sagrada chama da vida. Mas, a vontade de Deus, (que no dizer bíblico é, “Boa, Agradável e Perfeita”), foi outra... Rondes, se portou como um herói mitológico, lutando bravamente na hora derradeira da vida.



 Nesse 06 de Fevereiro de 2022, na hora silenciosa junto ao túmulo, familiares e amigos, comovidos lançavam flores em seu jazigo no Rio de Janeiro ... Seu neto único, Rafael de 12 anos, depositou a bola que brincavam juntos...Claro, Vovô ensinando como buscar a bola no fundo rede e virar qualquer  placar na vida, segundo a permissão de  Deus - O Supremo Técnico do universo.  Não poderia recebe melhor homenagem. Quem foi craque na bola, na vida vai ser craque na eternidade...

“Milton, cumé, rapaz, tá faltando assunto ai na terrinha?”.. Está não, Rondes.  Deus me deu o fôlego da vida; meus pais me geraram... e você, pela leitura e conselhos,  me fez ser uma pessoa melhor... 

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