O escritor Cornélio Ramos, nasceu em São Jerônimo dos Porções, distrito de Campos Altos, Alto Paranaíba, mas mudou-se ainda criança para Patrocínio, onde estudou no Ginásio Dom Lustosa.
E como este ex-aluno do Dom Lustosa, amava Patrocínio!
Posteriormente, escolheu Catalão para viver, se tornou um apaixonado pelas histórias e estórias daquela terra. Foi escritor de grande cepa, poeta, contista, cronista, pensador, pesquisador, historiador e produtor cultural. Cornélio Ramos, tornou-se um dos mais importantes personagens da cidade de Catalão.
Em 2010, celebrou-se condignamente por lá, o Centenário de seu nascimento. O prédio da antiga Estação Ferroviária, daquela cidade, foi construída em 1940, tombado como patrimônio histórico municipal, transformado em Museu Histórico e finalmente, foi batizado com o nome do escritor. “MUSEU HISTÓRICO MUNICIPAL CORNÉLIO RAMOS ”
(Lembrando que a estação Ferroviária de Patrocínio, foi fundada em 1918, cujo centenário passou em branco. Hoje tombada, como Patrimônio histórico, contudo, está lá toda descaracterizada. Por um tempo a sede foi usada como escritório da Ferrovia Centro atlântica - FCA, mas atualmente está em completo abandono. Sem nenhuma destinação histórico/cultural. O prédio está se desabando sob os olhos insensíveis dos patrocinense, que dizem amar a história)
Reiterando que esse ex - Chefe da estação, viveu sua juventude em Patrocínio, cidade que jamais esqueceu. (Era tio da saudosa amiga, colega de trabalho na SGL (Gráfica União) Maria Emília Alves Fraga, falecida em 2011, no distrito de Salitre de Minas. Através, desta sobrinha, mantive uma prazerosa relação de amizade com ele, infelizmente não cheguei a conhecê-lo pessoalmente. Por meio de cartas e bilhetes.
Cornélio, deixou diversas obras entre as quais: “Letras Catalanas” "Colina dos poetas" (1992), "Catalão de ontem e de Hoje" (1984), "Histórias e Confissões" (1987), "Fim de Primavera" (Poemas-1990), "Momento Lírico" (Poemas -1968), "Pequena História de Ouvidor "(1988), "Amor em Quarto Crescente " (Contos-1967), "Catalão-Poesias, “Lendas e Histórias "(1978).
Em 2001, acometido de um câncer e provavelmente por conta de uma depressão ocasionada pela doença, acabou, infelizmente, tirando a própria vida com um tiro.
Para homenageá-lo, reconhecendo sua grandiosidade, transcrevo de seu livro a “Colina dos Poetas”, (o qual, tenho o orgulho de possuí-lo, autografado pelo autor), um relato dos bastidores do processo eleitoral, dos tempos dos coronéis.
A política ainda é suja, perversa e sem escrúpulo…. Já foi ruim, ficou moderna, ficou pior?
(Somente um parêntese importante, antes, do texto de Cornélio Ramos: As eleições, felizmente, mudaram muito muito nas últimas décadas. O rigor da legislação eleitoral, a introdução de novas tecnologias, tais como biometria, permitem ao eleitor um pouco mais de segurança, liberdade e conforto para escolher e votar no seu candidato.
A urna eletrônica, tem sido a responsável para que as votações e apurações dos pleitos ocorram com rapidez e segurança. O revolucionário, uso da internet nas campanhas eleitorais. Até o chato horário eleitoral ( se não manipulado) tem lá o seu valor.
Tecnicamente em termos de legislação e campanha eleitoral, muita coisa mudou para melhor, mas o ser humano vai mudando sempre para pior.
A arte de enganar, mentir e manipular é a mesma de antanhos tempos. O pau-de-sebo do poder é o mesmo, uns querem subir, outros querem permanecer lá em cima…. Eterna política sem caráter...
Lembra dos famigerados folhetos anônimos derramados na calada da noite? Foram substituídos pelas fake news, pelas fake vídeos e por outras manipulações virtuais com poder de destruição de reputação mil vezes mais detonantes. Pesquisas de intenção de votos falsas proliferam soltas. "Idiotas úteis" viralizam a mentira conforme a conveniência. Cabos eleitorais trocam catiripapos virtuais num autêntico vale tudo. Acham que estão arrasando, ganhando votos, mas estão espantando eleitores inteligentes. São os "desmancha rodas" da redes. Temporariamente, o cidadão comum, deixou as redes ou arenas sociais, somente para digladiação eleitoral. Essa gente espantou toda sensatez, poesia e leveza da boa convivência.
E o voto de cabresto, do qual fala o Mestre Cornélio Ramos, ainda existe? Siiim. Ele está por ai nas empresas, fábricas, entidades e instituições, mas é sutil, beem veladinho.
Mas, porém, contudo, todavia, entretanto, no entanto, não obstante, está na Constituição, o voto é secreto. A liberdade do eleitor, diante da urna, é soberana. Escolha QUEM VOCÊ achar o MELHOR candidato. Supremo é o Povo: E como era as:
“ELEIÇÕES DE ANTIGAMENTE”
Lembro-me, quando aluno do Grupo Escolar em São Jerônimo dos Porções (MG), das eleições que realizaram para Presidente da República, quando, em agitada, campanha eleitoral, subiu ao poder o Dr. Artur Bernardes.
Na época, os pleitos eleitorais eram conhecidos como eleições de bico de pena. Isso foi em 1922.
A seção eleitoral foi aberta num salão do aludido Grupo, às 8 horas, por um funcionário vindo da cidade de São Gotardo, à qual pertencia o distrito. A relação dos eleitores era organizada pelos “coronéis” que, na época, lideravam as cidades do interior e seus distritos. Poucos eleitores compareceram. Ao meio dia o presidente da seção, desejoso de concluir os trabalhos chamou vários alunos de Grupo, entre os quais me encontrava, e mandou os mesmos escreveram nas listas de votação os nomes dos eleitores faltosos; e, em seguida, colocavam na urna a cédula do Dr. Artur Bernardes e, de vez em quando, uma de seu opositor, Dr. Nilo Peçanha, tendo o cuidado de deixar também algumas abstenções, para dar ao pleito cunho de legalidade.
Ganhou a eleição o candidato oficial. Governo não perdia eleições, era regra.
Em 1º de março de 1930. Aconteceu outra agitada eleição para Presidente da República, da qual participei já como eleitor. O alvoroço foi causado pelo rompimento da política “Café com Leite”, um arranjo maroto que proporcionava a alternância na Presidência somente por mineiros e paulistas. A contenda foi causada pelo fato de o Presidente Washington Luiz, que pertencia ao grupo paulista, pretender como seu sucessor outro paulista, rompendo assim a tradição. Os opositores formaram então a famosa “Aliança Liberal”, liderada pelos estados de Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Paraíba, lançando como candidatos os doutores Getúlio Vargas e João Pessoa contra os oficiais Júlio Prestes e Vidal Soares.
O movimento cresceu e sensibilizou profundamente toda Nação.
Na época vigorava o “voto a cabresto”, um pouco mais evoluído do que o “voto de bico de pena” . Os eleitores era corretamente qualificadoss, mas, na hora da votação, os coronéis mandavam seus fiscais para a boca da urna e os eleitores eram obrigados a mostrar as cédulas antes de colocá-las.
Ai de quem tivesse o topete de votar contra. Se era funcionário, estava comprando sua demissão; se não era, teria que haver como o coronel. Era o voto a descoberto”.
Nos estados opositores, ganhou Getúlio Vargas, e nos outros, fiéis ao Presidente da República, ganhou Júlio Prestes (eleição fraudulenta, é claro)
A nação, contudo, estava cansada desse jogo e em consequência disso, veio a Revolução de 1930, chefiada por Getúlio Vargas.
O Presidente foi deposto. Washington Luiz e Júlio Prestes foram exilados; criou-se então uma república Revolucionária chefiada por Getúlio e seu grupo.
Em 1934 foi que, com um correto cadastramento eleitoral, com a implantação do voto secreto, pode o povo brasileiro votar com tranquilidade para a escolha de uma Assembleia Constituinte, dando ao Brasil uma nova Constituição, a qual confirmou Getúlio Vagas na Presidência da República.
Daí para cá foi o país abalado por vários acontecimentos políticos. No dia 18 de setembro de 1946 foi promulgada a terceira Constituição Republicana, reunindo as tradições da 1891, as conquistas da de 1934, regulamentando o direito de greve, a autonomia dos estados e municípios, mantendo a independência dos Três Poderes.
Depois dessa Constituição sofrer mais de 20 emendas e cerca de 40 atos complementares, foi também substituída por outra em 1967, imposta pelo Marechal Humberto de Alencar Castelo Branco, então na chefia do governo, graças a um golpe militar acontecido no dia 31 de março de 1964.
Mesmo submisso a um regime militar discricionário, o povo, por sua força, foi aos poucos reconquistando sua liberdade e, em eleição indireta, no dia 15 de janeiro de 1985, punha fim a uma ditadura militar que durou mais de 20 anos.
Surgiu assim a Nova República, propondo restabelecer a democracia. Convocaram uma Assembleia Nacional Constituinte e, em seguida, elaboraram a Constituição de 1988, cheia de inovações, falhas e até hoje não completamente regulamentada”
(Cornélio Ramos)