Então o mundo no momento respira, transpira, pira na Copa de Mundo. Oportuno. Posso falar do meu herói no Futebol?. Não. Não é Pelé, Garrincha, Didi, Zico ou Rivelino. Muito menos, Maradona, Neymar, Cristiano Ronaldo ou Messe. Meu...Meus ídolos no Futebol, se chamam, Juvenal, Bigode e : BARBOSA. GOLEIRO, MOACIR BARBOSA.
“Está havendo um engano ai, Mílton! Barbosa, não é aquele vilão da Copa de 50” Bem. Esta é a história que se conta há 72 anos merece uma RELEITURA. Uma NOTA DE DESAGRAVO. Repito: BARBOSA FOI UM HERÓI, dentro e muito mais, fora de campo.
Sabe-se que o esporte Bretão, não foi inventado por brasileiro, mas aqui, ele se tornou uma delirante paixão nacional. Uma cartase coletiva. Imagina em 1950, primeira vez que o país sediava uma Copa do Mundo. Inauguração do Maracanã. "Já ganhou" era o clima, já haviam confeccionado faixas de campeões, a "emprensa”, inflamava a massa com a vitória garantida, palpites era de no mínimo 3, 4, 5x 0...
Eis que o mundo desabou. Tragédia momentânea. Perplexidade. Estarrecimento. Tudo normal. 200 mil, ali presentes ao templo do futebol, com as mãos na cabeça, lágrimas nos olhos, um grito de gol preso na garganta. Emoções fanáticas, porém razoáveis, cabíveis para aquele momento brusco desencanto. Quem sabe, tristeza, desabafos e xingamentos para um ano, cinco, talvez, dez.., mas….
Se passaram 50 anos, mas o “jogo de culpa” não terminou. BARBOSA, não foi absolvido. Condenação perpétua. Ninguém pensou na saúde emocional destes seres humanos. Atiraram eles no lixo da história.
“No Brasil, a pena máxima de prisão é de 30 anos, mas pago há 40 por um crime que não cometi”. – Disse Barbosa nas raras entrevistas que concedeu.
Zagueiro Juvenal, Bigode e ele BARBOSA, além do trauma, sofreram bullyng violento e racismo sem piedade, como nenhum outro no futebol mundial. BARBOSA teve de trocar Rio por São Paulo, buscando um pouco de acolhimento e refrigério o final da vida.
Que estrutura mental, para aquentar o tranco; que psicológico para se curar sozinho e abandonado.
Outro teria se suicidado. BARBOSA aguentou firme e sua história é de campeão.
Começou a carreira no Clube Atlético Ypiranga e transferiu-se para o Vasco em 1944, permanecendo em São Januário até 1962. Conquistou seus maiores títulos na equipe cruz-maltina: Sul-Americano de 1948; títulos estaduais de 1945, 1947, 1949, 1950, 1952 e 1958 e Rio-São Paulo de 1958.
Quanto a derrota contra o Uruguai, ele não perdeu, aquele jogo sozinho. E os outros jogadores de ataque do Brasil, não iam ganhar de goleada? Cadê os 3,4,5 gols dos atacantes?
Nelson Rodrigues, disse: "Quando se fala em 50, ninguém pensa num colapso geral. O sujeito pensa em Barbosa, o sujeito descarrega em Barbosa a responsabilidade maciça, compacta, da derrota. O brasileiro já se esqueceu da febre amarela, da vacina obrigatória, da gripe Espanhola, do assassinato do senador Pinheiro Machado. Mas o que ele não esquece, nem a tiro, é o chamado frango de Barbosa”.
Em 1993, Zagalo aconselhou humilhantemente o ídolo vascaíno a não tirar foto com Tafarel. Não era imagem positiva. Poderia ser o 'mau agouro' para o caso de derrota do Brasil.
Até o fim da vida, Barbosa foi apontado como culpado. “Ele já chorou no meu ombro. Sempre dizia: ‘Eu sei que não sou culpado. Éramos 11′”, disse a filha do arqueiro, Teresa Borba em matéria da Folha de São Paulo do dia seguinte à morte do goleiro.
Barbosa morreu duas vezes. A primeira, aos 29 anos. E a última, aos 79.
Ruy Castro, um cronista que gosto muito, escreveu na página 129 do livro “A arte de querer bem” uma crônica que descreve com rara maestria aquele lance de 72 anos:
"O carrasco e a vítima
Maracanã, 1950. Aos 20 minutos do 2º tempo, o ponta uruguaio Gigghia avançou pela direita, driblou o lateral Bigode e, diante do zagueiro Juvenal, que se deslocara para combatê-lo, cruzou para seu companheiro Schiaffino. Este recebeu livre no centro da área e fuzilou o goleiro Barbosa, empatando para o Uruguai. O 1x1 abalou os quase 200 mil torcedores, mas, com aquele resultado, o Brasil ainda seria campeão do mundo.
Aos 34 minutos, repete-se o lance. Só que, desta vez, Juvenal guarda sua posição para não deixar Schiaffino livre. Gigghia, então, em vez de cruzar, atira a gol e a bola penetra entre Barbosa e a trave, 2x1, silêncio no Maracanã, Uruguai campeão.
Na terça-feira última, Gigghia, 83 anos, gravou seus pés em cimento para a Calçada da Fama do Maracanã. Já são 59 anos desde aquela tarde em que suas arrancadas pela ponta levaram tantos brasileiros ao desespere-o, desde então, o Brasil cansou de ganhar a Copa, mas não sei de outro país ou povo que prestasse tal homenagem a seu carrasco. Nem Gigghia, em lágrimas, esperava por isso.
Em compensação, há dois meses, uma das vítimas daquela história, Juvenal, foi enterrado no cemitério de Camaçari, em Salvador, na presença de meia dúzia. Tinha 86 anos, dos quais os últimos foram muito tristes: pobre, quase esquecido, numa casinha de 10 m2, sem poder andar, com artrose nos joelhos e quadris, e ligado ao mundo apenas por um rádio.
Marcia Turvão, a bondade em pessoa, minha amiga e de Juvenal, tentou vestir seu caixão com uma bandeira do Brasil, do Flamengo ou do Bahia, cores que ele defendeu. Mas era véspera de feriado e, quando Marcia conseguiu achar uma bandeira e voltar ao cemitério, Juvenal já fora sepultado. Mais um desencontro do destino entre ele e Gigghia."
Voce entende as m* ( merdas, desculpe-me) deste Brasil? Para humilhar mais nossos, já humilhados jogadores, homenagearam o adversário.
Portanto, JUVENAL, BIGODE E BARBOSA, MEUS HERÓIS! Para os outros uma partida dura 90 minutos; os resquícios de uma fragosa derrota, no máximo 4 anos, para BARBOSA e amigos, o "jogo de culpa", se estendeu por meio século...
Vem ai novos vilões e novos heróis, mas, vilão ou herói, ninguém chegará aos pés de BARBOSA...